Memórias da infância ajudam quem quer futuro diferente para os filhos
Pais falam sobre lembranças que os ajudaram a criar uma base para proporcionar um lar feliz para os filhos
Que lembrança ou acontecimento marcou sua infância para sempre? Criar um ambiente seguro e repleto de amor é essencial para crescer com memórias felizes. Deixando de lado os ‘traumas’ da infância, neste Dia das Crianças (12), os adultos que já assumiram a missão de criar e educar um indivíduo que ainda está aprendendo a ‘caminhar’ com as próprias pernas preferiram falar sobre as lembranças que os ajudaram a criar uma base para proporcionar um lar feliz e com muitas brincadeiras para os filhos, provando que, apesar de tudo, ainda somos um reflexo daqueles que nos cuidaram, e vivemos como nossos pais.
O tapeceiro Sidinei Nicola, de 42 anos, relata que foi o tipo de criança que raramente dava trabalho. Cresceu em uma família grande e unida, recebendo uma criação bastante rígida, porém com muito amor, por parte da mãe. Já em relação ao pai, ele confessa que até hoje sente a falta de proximidade, algo que vem desde a infância, e que hoje tenta não repetir o mesmo ‘erro’ com a filha, Lauren, de 3 anos.
“Apesar de sermos uma família muito próxima, eu não tinha essa abertura com meu pai, por causa da criação dele também. E isso eu tento não passar para minha filha. Tento ser mais próximo dela, ser mais paizão, mais brincalhão. Mas eu não julgo e não culpo meu pai. Foi a criação que ele recebeu, e eu tento não errar nas partes em que meu pai errava”, expressa Sidinei.
Se desprender das amarras criadas pelo ambiente da infância e da criação dos pais, e criar os filhos tentando não repetir os mesmos erros, é um longo processo de desconstrução, cheio de altos e baixos, que Sidinei se esforça para superar. Com isso, ele busca proporcionar à filha a mesma proximidade que sua mãe tinha com ele.
“Hoje sinto falta das coisas que eu deveria ter aprendido a ser com meu pai: como ser pai ou como ser esposo. Tem muitas coisas que herdei dele que tento não fazer igual. Mas é difícil, por causa da genética e da convivência, porque você vê as coisas, percebe as coisas, e às vezes, sem querer, acaba fazendo o mesmo”, compartilha o tapeceiro.
A infância da pedagoga Katiúcy Nicola, de 33 anos, foi bastante instável por conta da profissão do pai. Filha de caminhoneiro, ela relata que precisou viajar bastante, e por isso já morou em diversos estados brasileiros além de ter feito o ensino fundamental em mais de sete escolas diferentes.
Outro fato interessante é que, por conta das mudanças, cada irmão nasceu em um Estado diferente. A última mudança da família foi para Campo Grande, há 16 anos. Hoje, mãe de uma criança de três, confessa que uma infância fixa e estável é tudo que deseja para a filha. Isso porque viver de ‘galho em galho’ também gerou perdas, no sentido das relações familiares e de amizade.
“As lembranças das viagens são muito boas, foi muito legal e a gente tem bastante história pra contar. É muito legal viajar? É muito legal, mas você também fica longe de todo mundo. Eu não tive muitos amigos, e a gente não tem família igual todo mundo, a gente é isolado. Aqui em Campo Grande tem meu pai, minha mãe e os meus dois irmãos e agora eu tenho a família dele [esposo]. Então eu quero criar a minha filha nesse ambiente mais estável”, expressa.
A pedagoga relata que busca ser protetora na medida certa e criar a filha o mais próximo à família possível. “Por conta dessa instabilidade, eu hoje prefiro a estabilidade. Até esses dias, ela tinha as duas bisas [bisavó], por exemplo. E eu não tive essa oportunidade [de conviver]. Então, essa questão da família, a gente sente muito”.
Quando se fala em uma criança arteira, logo vem em mente os cuidados, pois quando os pequenos são muito agitados, logo acendem um alerta nas mães, como a engenheira de produção Luciandra Velasquez, de 36 anos, relembra, quando quebrou um braço, brincando, aos sete anos. “[Minha mãe] ficou desesperada, literalmente, ela ficou em crise, mas você sabe, né, criança não para”.
Na casa da dentista Carla Heredia, de 38 anos, eram quatro irmãos, e ela relata que todos eram bem agitados, que deixava sua mãe ‘maluca’. Ela sorri ao relembrar das noites que passou jogando futebol com a mãe e do irmão mais novo, que adorava subir em árvores. “Ele parecia um macaquinho, porque ele não ficava quieto, e minha mãe tinha que correr atrás dele”, conta.
São essas as memórias que ela gostaria que o filho criasse, longe da influência da televisão. “Hoje em dia as crianças ficam muito na televisão, mas deveriam ficar mais no ar livre, ficar olhando a natureza".
Em lares onde a brincadeira é a principal lembrança, a preocupação é em relação às influências dos meios digitais no período da infância dos filhos. Luciana relata que foi uma criança bastante ‘sapeca’, e busca meios de garantir que a filha cresça criando as mesmas memórias que ela, quando criança.
“Quando eu penso na infância, eu lembro das brincadeiras, porque na minha época a brincadeira era totalmente diferente, não era esse meio digital. Eu pretendo cultivar a memória da infância que eu tive, com a minha filha”, expressa.
Nas lembranças da chef de cozinha Katerina Ochagavia, de 47 anos, a memória mais marcante está ao revisitar o quintal da casa de sua avó aos finais de ano, quando ela e os primos se reuniam para brincar. Ela lamenta que o filho não tenha tido esse contato tão próximo com os familiares e outras crianças, mas expressa que fez um bom trabalho o ensinando sobre valorizar as boas companhias.
“Até hoje a gente se reúne toda a primaiada, quando pode. Já meu filho foi bem diferente nesse sentido, porque ele foi criado sozinho, porque ele é filho único. Ele é mais reservado e não tem tantas amizades assim, mas as poucas que ele tem, até hoje eles vão em casa, sempre estão juntos”.
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