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Comportamento

Menino precisou ser "devolvido" mais de uma vez para virar filho aos 10 anos

Garoto tentou outras famílias, mas voltou para abrigos e só agora encontrou um caminho junto com pai em carreira solo.

Guilherme Henri | 26/03/2019 06:29
Pai e filho, finalmente juntos. (Foto: Guilherme Henri)
Pai e filho, finalmente juntos. (Foto: Guilherme Henri)

“Meu filho lindo chegou em casa. Está tudo bem. Ele nasceu com 10 anos, 1,5m de altura. Está super forte, saudável, cheio de vida. Trouxe vida a minha vida. Deus me deu essa missão maravilhosa de ser pai”.

A frase é do economista de 40 anos sobre a adoção de um menino. A criança foi devolvida mais de uma vez de lares adotivos, mas no fim das contas foi ela quem deu novo significado para a vida do então pai em carreira solo.

Ao Lado B, o economista conta que já havia pensado em adotar uma criança, mas eram planos futuros. Porém, no ano passado, por acaso, ele descobriu durante uma conversa, que um de seus amigos trabalhava justamente com a questão.

“A princípio ele me explicou os procedimentos e me encorajou muito, mas reforcei a ele que não seria algo para agora”, disse o economista, que até chegou a fazer uma visita em um abrigo na época.

Mas nem tudo é como a gente quer e o amigo tornou a entrar em contato em janeiro deste ano, quando contou um pouco da história de um menino, que havia voltado a um abrigo de Campo Grande.

“Ele me mostrou uma foto e na hora eu me apaixonei. Era o meu filho naquela foto. Não sei descrever o que aconteceu. Apenas senti que aquele menino da foto era mesmo o meu filho”, descreve.

A partir deste momento, o economista procurar passar por todos os tramites da lei para consegui conhecer o menino. O primeiro contato veio apenas no mês seguinte, fevereiro.

“Já o haviam preparado no sentido de que eu tinha intenção de adota-lo. Quando cheguei, ele estava todo tímido e ficamos cerca de 40 minutos conversando, nos conhecendo um pouco em uma pracinha pertinho do abrigo. Quando fui embora demos um abração e foi quando a assistente que o acompanharia até o abrigo pediu para que ele se despedisse de mim. Nesse momento ele disse ‘tchau pai’”, detalhou o economista, sem conseguir segurar as lagrimas.

O futuro pai então voltou a encarar a burocracia para conseguir adotar o menino e mais uma vez a filosofia do “quando é para ser nada atrapalha” provou ser verdade. “Como se tratava de uma adoção tardia e pensando no bem-estar do menino, devido ao histórico, o processo correu bem rápido”, disse.

Depois de algumas visitas, em março o economista combinou de pegar o menino para comemorar o seu aniversário. Mas, na saída do trabalho, quando ele se preparava para ir buscar o garoto veio a tão esperada noticia: ele é o seu filho. “Foi o meu presente de aniversário. O presente mais lindo que já ganhei em toda a minha vida. Aos prantos, nem comemoramos aniversario coisa nenhuma, só peguei e o levei para a casa dele”.

E a aventura dos dois de fato começava. O economista conta, que em questões práticas da casa não precisou mexer muita coisa. Como tinha um quarto de hospede mobiliado, ele só adicionou um toque infantil ao cômodo e lotou a casa inteira com fotos dos dois. “Um menino extremamente carinho, gentil e educado, que adora shopping e ao mesmo tempo não gosta muito de sair de casa”, descreve.

Depois de se instalar em casa, era hora de conhecer um pouco da nova família. “Meus pais e irmãs são de São Paulo e foram eles que me encorajaram também a adotar. Tive total apoio para isso e assim que nos instalamos a minha mãe e uma das minhas irmãs nos visitaram. E eu já precisei ‘corta-las’, pois o estavam mimando muito”, disse.

Carreira solo - Mas, nem tudo são flores e o então pai começou a sentir na pele o que é ser pai solteiro. “Consegui licença paternidade no trabalho para poder fazer coisas práticas como trocar ele de escola e incluí-lo em tudo que tinha direito como meu filho”.

E foi exatamente nesse momento, que o economista descobriu a primeira e grande dificuldade em ser pai solteiro: a lei. “Quero colocá-lo como dependente do meu convenio e não consigo, pois no cadastro só pedem o nome da mãe. E o pior, depois de passar por essa situação, que luto para resolver, me veio a cabeça de que em muitas outras situações é apenas o nome da mãe o exigido, como na Justiça Eleitoral, por exemplo. Nossas leis não favorecem os pais solteiros”, desabafa.

Diante do impasse, o economista afirma que se tornou expert em leis que o favorecem para estar sempre “armado” quando encontrar situações semelhantes. Questionado, se há preconceito em ser pai solteiro de um menino adotado com 10 anos, ele diz que em pouco tempo já sentiu muitos olhares de dúvidas.

“Parece que as pessoas pensam se você é mesmo capaz de cuidar de uma criança. Por isso, para muitas pessoas eu prefiro nem contar os pormenores, para evitar o desgaste. Parece até mentira, mas meu filho tem muitos traços semelhantes aos meus e quem não nos conhece tem certeza que somos pai e filho biológico mesmo”, afirma.

Para ajudar com todo o processo, o economista procurou um psicólogo e tem consciência dos desafios que estão por vir. “É só eu e ele contra o mundo. Mas, eu estou muito feliz, como nunca estive em toda minha vida. Ele trouxe um novo significado, um novo proposito para a minha vida. E de outros lares que já passou, na verdade quem me salvou foi ele”.

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