Mulher rica tem vergonha de falar que é agredida, diz Luiza Brunet
A modelo esteve na Casa da Mulher Brasileira de Campo Grande e falou sobre a importância de combater a violência contra a mulher
A violência contra mulher existe e é preciso enfrentar para evitar que mais casos de feminicídio aconteçam. Contudo, não é fácil abrir o jogo e dizer que foi agredida por alguém que tanto confiava. Até para a modelo Luiza Brunet o espancamento não depende de classe social, religião ou raça. Porém, a diferença é que “a mulher com poder aquisitivo melhor tem vergonha de se expor”, afirma a modelo que está em Campo Grande para participar amanhã (1º) da caminhada pelo fim dos feminicídios.
“Quando a pessoa faz a denúncia e é conhecida, tem um questionamento enorme. Sofri bastante por parte de algumas mulheres que considero machistas e preconceituosas, porém, decidi seguir em frente. Não pode ficar com medo de uma opinião distorcida da sociedade”, destaca a modelo, que foi espancada pelo ex-marido em 2016.
“Quando sofri violência tinha duas alternativas, ficar calada e voltar ou tomar a atitude. Demorei uma semana para fazer o corpo de delito, pois tive medo igual todas às mulheres. É difícil denunciar a pessoa com quem você vive e confia. Ela sabe todos os seus passos, sabe te manipular”, disse.
Luiza é madrinha da Campanha Estadual de Combate ao Feminicídio e esteve hoje (31), na Casa de Mulher Brasileira de Campo Grande onde participou de uma coletiva de imprensa. Ela é conhecida pela carreira internacional e há três anos se tornou ativista no enfrentamento à violência doméstica.
Segundo a modelo, a questão da violência contra mulher é uma epidemia global. “Ultimamente o assunto está vindo à tona nos jornais e televisões. Deveria ter uma Casa da Mulher em cada estado, para que a vítima possa ser amparada no primeiro momento e decida fazer a denúncia, pois ela pode desistir, voltar pra casa e ser morta”, afirma.
Em Mato Grosso do Sul, de janeiro a maio deste ano, 16 mulheres foram vítimas de feminicídio. “É muita coisa, e em outros estados os números são até maiores. A gente precisa fazer algo, a sociedade tem que estar envolvida para que possa mudar. Em briga de marido e mulher mete a colher sim. Muitas são agredidas e mortas, e as pessoas ouvem e não fazem nada. É responsabilidade nossa de se intrometer e ligar para a polícia. Entender isso é agir como cidadão”, destacou.
A modelo é natural de Mato Grosso do Sul e relata que quando era pequena, viu a mãe ser agredida. “Nasci na roça, perto de Itaporã. Meu pai era lavrador e minha mãe cuidava da casa. Quando saímos da vida orgânica para morar na cidade, meu pai começou a beber e não conseguia emprego, dai passou a agredir minha mãe”, lembrou.
Na época, Luiza conta que sua mãe conseguiu comprar passagens de ônibus e foi com os filhos para o Rio de Janeiro. “Meu pai não era para ir, mas no meio do caminho entrou no ônibus. Fiquei feliz porque voltou, porém pensei que ia voltar à loucura. Vim de um lar agressivo e quando sofri agressão tive apoio da minha família e de algumas amigas”, recordou.
Campanha - A modelo destaca que o combate à violência contra mulher é uma causa séria. “A única forma de contribuir para que isso não aconteça, é colocando a mão na massa e lutando pelas mulheres”, fala.
Ela acredita na recuperação do agressor. “Acho que ele tem que ser visto com um olhar diferente. Está havendo uma distorção, a gente não quer ficar longe dos homens, prendê-los ou matá-los. Tem que implementar projetos para que possa reeducá-los e fazer entender que estão agindo errado”.
A caminhada pelo fim dos feminicídios será realizada amanhã, às 8h em frente à governadoria do Estado. Além da modelo, participaram da coletiva de imprensa na Casa da Mulher a subsecretária Estadual de Políticas Públicas para a Mulher, Luciana Azambuja; a gestora municipal de Políticas Públicas para Mulheres de Campo Grande, Carla Stephanini, a vice-prefeita Adriane Lopes, etc.