Na adoção tardia, alegria de mãe é ver que os 4 filhos planejam viver juntos
Na contramão do medo e da rejeição, casal adotou quatro crianças porque sabe que família é muito mais do que laços sanguíneos.
Quando Kelly Casarini, de 38 anos, revela que foi mãe pela primeira vez aos 30 e, que um dos filhos já alcançou a maioridade, muita gente fica surpresa. Entre olhares e questionamentos, a mãe revela que quatro filhos chegaram por adoção, mas hoje sua maior alegria é ver a felicidade de quem parece ter nascido junto e já planeja morar ao lado do irmão.
A história de Kelly é diferente de muitos pais que acabam deixando crianças maiores de lado, por medo de uma adoção tardia. Mas ela e o marido Silvio José Moreira, de 45 anos, entenderam que amor não tem idade e a vida mudou quando os primeiros 2 filhos chegaram em casa, um com 5 anos e outro com 8.
“Eu não conheço outra forma de ser mãe, talvez o único detalhe diferente seja a forma como eles chegaram a essa casa, de resto continuam sendo os nossos filhos com todas as necessidades e alegrias que uma criança carrega, não temos dúvida disso”, pontua Kelly.
Casados há 18 anos, eles decidiram adotar depois de terem tentado engravidar e descobrirem que isso não seria possível. Mas no coração da mãe a adoção sempre foi um sentimento guardado com carinho, porque sempre acreditou que família é muito mais do que laços sanguíneos.
Foi quando em 2010 decidiram procurar um grupo de adoção na cidade para entender o processo. Não demorou muito para dar encaminhamento ao pedido. O que para muitos casais na mesma situação parece pouco, para o casal foram longos 10 meses até a notícia que mudaria a vida. “Eu brinco que a minha vida é uma espera, mas eu e o Silvio tivemos muita paciência, mesmo com o coração a mil, a espera dos nossos filhos. Aqueles meses pareceram anos”, lembra.
Em contrapartida, Kelly também entendeu os medos e os receios de muitas famílias em adotarem crianças maiores. “Nem sempre é o preconceito que bate à porta, mas é a dificuldade dos pais de lidarem com a rejeição. As crianças não entram pela nossa porta amando sem lembrar-se do passado, é um processo de adaptação, de confiança, de amor que precisa ser construído dia após dia”, conta a mãe.
Por isso, Kelly foi quem decidiu buscar ajuda. “A responsabilidade de estar bem emocionalmente e entender todas as dificuldades é minha, não poderia deixar isso nas mãos dos meus filhos. Porque quando nasce um bebê de parto natural, muitas pessoas estão ao seu lado para ajudar, mas quando os filhos chegam por adoção, ninguém aparece, porque todo mundo acredita que já estão grandinhos o suficiente”.
Kelly sentiu na pele a dor de ver o filho chorar, também acordar na madrugada com medo, ficar confuso com os próprios sentimentos, fazer bagunça e, claro, ser feliz como qualquer outra criança. “A diferença é que eu e o Silvio não trocávamos fraldas, mas todas as responsabilidades continuam”, diz. Depois da chegada dos dois primeiros filhos, anos mais tarde o casal se viu com o coração chamando por outras duas crianças, um menino de 15 anos e depois sua irmã, hoje com 12.
Com quatro filhos em casa, bateu aquele medo da identificação. “Será que eles vão se entender?”, era um dos questionamentos que a mãe fazia para si. Para a surpresa de Kelly e Silvio, os três filhos mais velhos ficaram muito preocupados com a chegada do quarto irmão, mas por um motivo muito simples: “Como é que a gente vai viajar junto, mãe? Não vai caber no carro”, narra a mãe uma das falas dos filhos.
“Aquela pergunta encheu meu coração de amor, enquanto a gente pensa em tanta coisa difícil, o único medo deles era não viajarem juntos, é nesse momento que a gente vê o amor da criança”.
Para resolver o problema, o pai que é autônomo e trabalha em oficina mecânica investiu em uma camionete de seis lugares. Com o problema resolvido, hoje eles planejam as primeiras férias na praia, ao lado dos quatro filhos. “Dois já conhecem o mar e os outros dois não, estão ansiosos por esse momento”.
Os filhos são tão unidos, que é pelos corredores que a mãe escuta os planos para o futuro. “Eles brigam como quaisquer irmãos às vezes acordam emburrados, e a gente fica como intermediador, mas sem se meter na relação deles para que isso faça parte do amadurecimento. Mas eu fico emocionada quando escuto que eles vão comprar dois terrenos, dividir e colocar uma porta para cada um entrar na casa do outro, é a coisa mais linda”.
Por isso, não há razão para Kelly deixar de pensar que a família é das mais felizes do mundo. “Perfeito eu sei que ninguém é, mas toda vez que eu olho para o lado e vejo meus filhos tão unidos, só me faz querer ser uma pessoa melhor e de exemplo para eles. Porque família é família em qualquer lugar”.