Na Apae, retorno às aulas é ainda mais gradativo e cheio de saudades
Dos 347 alunos matriculados, 14 retornaram, apenas os que têm mais independência
Um ano e quatro meses sem aulas presenciais. Nesta semana, as escolas estaduais voltaram a receber alunos portões adentro e não foi diferente na Cedeg, sigla que denomina o Centro de Educação Especial Girassol, da Apae.
Com restrição, como a Capital segue em bandeira vermelha, as salas podem ser ocupadas em 50% de sua capacidade. No entanto, para a realidade de Apae, o número de alunos é muito menor. Dos 347 alunos matriculados, 14 retornaram.
Isso porque, devido ao grau de deficiência intelectual, a Apae teve que selecionar os alunos que tivessem certa independência. Dentro deste número, também tem aqueles que os pais ou responsáveis aceitaram o retorno presencial. No fim, apenas 14 retornaram, por enquanto, metade deles para o Caee (Centro de Atendimento Educacional Especializado) e a outra metade para o EJA (Educação de Jovens e Adultos).
O diretor da Apae, Hugo Jader Monteiro Cardoso explica que a escola optou por trazer estes alunos com grau de deficiência intelectual de leve a moderado, que conseguem fazer as atividades sem auxílio de professores ou alguém para acompanhá-los durante todo o período de aula nesta primeira etapa do retorno.
A entrada segue sendo das 7h30 às 11h30, na parte da manhã, e das 13h às 17h, no período vespertino, com todos os protocolos de biossegurança estipulados pela SES (Secretaria Estadual de Educação).
Dois engenheiros do trabalho estiveram na unidade para implantar medidas de biossegurança específicas para os alunos. Nos cartazes colados pelo espaço, além do escrito, há o desenho das mãos indicando como usar o álcool em gel, por exemplo.
Um dos pontos afetados pela pandemia foi que muitos dos alunos utilizam o transporte escolar na Apae para ir à escola, que adaptado, tem janelas travadas.
"É fechado, não circula vento, então, este é um dos motivos que todos os alunos também não puderam voltar e continuam em casa, estudando através das vídeo-aulas", explica o diretor.
A acolhida é diferenciada e conta com uma equipe multiprofissional composta por psicólogos, enfermeiros, pedagogos e nutricionistas. "Que vão fazer o acompanhamento destes alunos que precisam se adaptar ao novo retorno. Precisamos ver se a medicação está em dia, como será a adaptação deles, especificamente, antes de passarmos para o conteúdo pedagógico dentro da sala de aula", pontua.
Além de poucos alunos, a volta também tem restrição de atividades complementares, que seguem suspensas por conta da pandemia.
Dos alunos que já retornaram, na manhã desta terça-feira (3), apenas três estavam lá.
Thiago Ruiz, de 38 anos, conta que está muito feliz por ter voltado às aulas. Enquanto conversava com a equipe, desenhava no papel.
"Gosto de ver TV, principalmente, as olimpíadas agora", conta. Com saudade dos amigos, ele fala da alegria em os rever. "Mas ainda não pode todo mundo", explica. Sem dificuldades, ele usa a máscara o tempo todo.
A direção descreve que apesar de 1 ano e 4 meses distantes, os alunos seguem com uma memória muito boa. "Eles lembram do que aconteceu antes da pandemia, dos amigos e das atividades que tinham na escola", explica o diretor.
Na mesma sala de Thiago, estava Anderson Sebastião Ribeiro, de 38 anos, que desenhava o robô do filme que tinha assistido anteriormente. No caso específico dos dois, são os responsáveis que têm levado eles até a escola.
Aluna, Juliana Amaro de Deus, de 27 anos, conta que está super feliz de ter voltado. "Mais fácil aprender na escola do que em casa, não conseguia estudar. Tinha muita dificuldade", diz. No segundo dia de aula, ela estava aprendendo informática, recebendo orientações de como mexer na internet.
Coordenador da escola, Eder Castilho, teve que se segurar para não abraçar os alunos na volta às aulas e também explicar a eles que é preciso manter o distanciamento. "A vontade de abraçar foi grande, mas, infelizmente, não podemos pela atual situação", comenta.
Questionada, a direção tem explicado aos pais que a volta segue as medidas de biossegurança como limitações de alunos. Os alunos que já retornaram, receberam, pelo menos, uma dose da vacina.
O retorno vai seguir gradativamente, segundo a direção, quando Campo Grande mudar de bandeira, será permitida 70% da capacidade, a ampliação trará de volta mais alunos, ainda assim, seguindo o critério de independência.