Na ponta dos pés, Pietra é a autista que virou bailarina graças às coleguinhas
Ela participou de duas danças na escola e apesar da pouca idade, é determinada e gosta de encarar novos desafios para aprender
Aos 9 anos, Pietra de Moraes Leal se tornou uma bailarina e deu show no palco ao lado das coleguinhas durante a apresentação. Ela tem Asperger, que é uma condição neurológica, enquadrada dentro do Autismo, de grau leve e, foi com a ajuda das amigas que encarou a síndrome e nas pontas dos pés fez do balé sua paixão e sonho da vida.
A menina é tímida, mas muito inteligente e através da música e da dança aprendeu inglês e se tornou independente. “Consegue controlar o movimento do corpo, tem equilíbrio, coordenação das mãos, os pés no chão. A melhor coisa que fiz foi ter colocado no balé porque agora ela volta cantando, dança em casa e até no mercado se tiver música”, conta Jaqueline de Moraes Leal.
Ela é mãe de Pietra e lembra a luta que foi para levar a filha à escola. Na época, a pequena tinha 4 aninhos e só andava nas pontas dos pés. “Foram sete meses ficando com ela no pátio da escola até que perdesse o medo de entrar na sala de aula. Foi uma trajetória difícil, mas levava-a uniformizada com a mochila para poder entrar. As professoras me apoiaram”.
Tudo era novidade para a pequenina que aceitou sair de casa para conhecer o mundo. No começo, era retraída, reservada e de poucas palavras, mas Pietra foi “abraçada” pelos coleguinhas que compreenderam e a colocaram na “roda de amigos”. Aos poucos, a menina tímida aceitou a aproximação e quis entrar na sala.
Os primeiros dias de aulas foram mais complicados, mas Pietra tirou de letra. “Ela não parava, andava para todo lado, porém agora consegue prestar mais atenção”, comenta Jaqueline sobre a evolução da filha.
Na hora do recreio, os coleguinhas a incluíam nas brincadeiras e até levavam ao banheiro. “Criança não tem maldade, entende que todos somos iguais. Ensinaram ela a pular amarelinha, emprestavam brinquedos, não imaginei que receberia tanto carinho”, diz a mãe.
Aquela alegria das outras crianças animou Pietra, que quando viu as coleguinhas saindo também quis participar da diversão. “Gostou, mas não tinha desenvoltura porque a coordenação motora era restrita. Começou crua e aos poucos foi aprendendo. Não conseguia usar roupa colada, então tinha dificuldade de vestir a meia calça, trocou por collant até se acostumar”.
Na primeira apresentação da filha, Jaqueline precisou de lencinhos para enxugar as lágrimas de tanta emoção ao ver seu bebê crescendo. “No ano passado, dançou bem, mas se apresentou rápido porque queria que o espetáculo encerrasse logo. Aquilo não era mais novidade e quis mais desafio. Gosta de ser testada”.
Pietra pediu para entrar na turma do collant “Azul Marinho”, onde aprendeu outras coreografias. O grupo é mais avançado, mas isso não atrapalhou em nada a pequena. “Trocou no meio do meio desse ano, foi uma alegria total, ia com a roupa, ensaiou, estava bem motivada”.
Neste mês, ela realizou duas apresentações de balé onde dançou e encantou a todos da plateia com a dança do Havaí e da Escócia. “Estava tão feliz porque dançaria duas vezes e deu certo. Todos se emocionaram porque a acompanham desde pequena. Fui forte, contive o choro durante a apresentação, mas antes acabei chorando”.
No palco, Pietra sentiu segurança no que estava fazendo e contou com a ajuda as colegas durante a apresentação. Num passo e outro, ela até saiu do compasso, mas as bailarinas não deixaram que isso atrapalhasse a amiguinha no show.
“Ela estava determinada, acreditou nela mesma. Fiquei impressionada com o salto que deu enquanto dançava. Aprendeu a rebolar para se apresentar na dança havaiana. É muito esperta, agora sabe até dançar funk”, brinca a mãe.
Através da dança surgiu a bailarina, cheia de si, carinhosa e social. “Agora ela abraça, beija e conversa com todos. Em casa liga o computador para cantar e dançar, sabe falar inglês, entende algumas coisas em francês e espanhol também”, finaliza Jaqueline toda orgulhosa da filhota.
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