Nas Moreninhas, foto por R$ 10 é pontapé para término ou novo amor
Projeto criado por duas Fernandas resgata autoestima de mulheres pela sensualidade e ajuda a terminar relacionamentos abusivos
Regina Gonçalves Araújo, de 35 anos, chega por volta das 10h da manhã Travessa Tambaiba, n° 40, nas Moreninhas 3. Ali fica o salão Vitriny Hair, da cabeleireira e maquiadora Fernanda Alves.
Regina, dona de uma cozinha fechada especializada em marmitas no Bairro Zé Pereira, veio para seu segundo ensaio fotográfico sensual em menos de um ano. O ensaio faz parte do projeto “Permita-se”, criado por duas Fernandas, a Alves e a Rossati. Na verdade elas não são Fernandas, depois de 10 minutos de conversa, só consegue chamá-las de “Fer”.
O projeto Permita-se consiste em um ensaio fotográfico sensual para mulheres que, de alguma forma, perderam a autoestima e não percebem a beleza que carregam consigo. A maquiagem, cabelo e até unhas postiças ficam por conta da Fer Alves e sai de graça.
As fotos são responsabilidade da fotógrafa profissional Fer Rossati, que dá uma foto digital sem cobrar. A mulher que quiser mais fotos, pode pagar R$ 10,00 cada uma, um preço bem abaixo do mercado.
Enquanto fazia o cabelo, a já “experiente” modelo Regina, diz que o ensaio foi uma mudança de paradigma em sua vida. “Ela sempre me chamou, mas nunca me senti confiante, até que aceitei fazer umas fotos apenas produzidas, só que aqui a Fer Rossati me convenceu aos poucos e acabou que fiz o ensaio mais sensual. Nossa, depois, quando vi mesmo o resultado, fiquei encantada”.
Ao final da resposta, Fer Rossati interrompe, em tom de brincadeira, me perguntando se eu adivinharia a idade do marido de Regina. Disse que não sabia. “20 aninhos, até com novinho ela casou”, fazendo todos no salão rirem.
Aliás, devo confessar que nas duas horas em que acompanhei o processo de produção e fotos, não conversei diretamente apenas com uma pessoa, todos os diálogos foram atravessados por observações e impressões de quem nos acompanhava.
E isso está longe de ser uma reclamação, é apenas uma característica muito particular de ambientes como esse, onde as mulheres estão acostumadas a compartilhar seus sentimentos e histórias.
Tudo começou com um trauma da própria Fer Rossati, fotógrafa profissional há 10 anos. Trauma ligado ao término do último relacionamento, um casamento de cinco anos, muito conturbado. “Ele me trocou por outra mulher depois de passar os últimos anos falando coisas horríveis pra mim, sobre meu corpo, me colocando pra baixo”.
A fotógrafa chegou ao fundo do poço e, mesmo com uma filha, conta que tentou suicídio. “Foi uma sequência de fatos ruins que me levaram até esse momento”, afirma ela, que conta alguns detalhes do ocorrido como se visse uma certa tolice em seu ato.
O dia da tentativa, há mais ou menos um ano, marcou, inclusive, o início da amizade entre as duas Fernandas, porque Alves ajudou no socorro da agora amiga, mas na época, apenas vizinha. A amizade, de alguma forma, resgatou a autoestima de Fer Rossati, iluminando assim novas possibilidades na vida pessoal e profissional, como o projeto Permita-se.
“Eu queria de alguma forma mostrar pras mulheres que elas não eram aquilo que, muitas vezes o marido delas diziam pra elas. Ou mostrar que, se ele não dizia, que podia dizer, fazer um elogio. Mas reforço, meu trabalho não é pra marido, é pra mulher, é pra mulher se sentir bem, assim como eu busquei depois do fim da relação”.
Ela então propôs à Fer Alves de fazer os ensaios e cada uma faria o que sabia. As fotos são feitas em um estúdio anexado ao salão. Então todo o processo é feito em um lugar só, ali nas Moreninhas 3 mesmo.
Enquanto maquia Regina, Fer Alves conta que pelo fato de sua parte no processo ser mais demorada, acaba conversando mais com as mulheres. São histórias que se repetem todos os dias.
“Eu escuto de tudo aqui, são mulheres que passam por situações inimagináveis, tento aconselhar na medida em que elas me dão liberdade, porque é muito difícil algumas situações, nem elas enxergam, eu aprendo muito também”, conta a cabeleireira.
Não é qualquer palavra que muda a cabeça dessas mulheres, é o próprio ensaio, é ver-se produzida, em poses provocantes, sendo alçadas a um estado de bem-estar tirado pouco a pouco pela rotina matrimonial ou por outros motivos.
As histórias contadas pelas mulheres pós ensaio são maravilhosas. “Uma mulher, pastora de uma igreja evangélica super rígida veio para o ensaio comum, bem travada, não queria fazer nada, eu fui tacando a lábia nela, até essa mulher tirar a roupa. Agora meu filho, até namorado ela já arrumou”, e mais uma risada.
A lábia da Fer Rossati é famosa. Segundo Regina e as outras funcionárias presentes, ela sempre começa de mansinho, de repente, já faz a mulher se despir. “Eu mesmo não acreditei quando vi a pastora sensualizando”, lembra Fer Alves, que não botava fé na modelo.
Enquanto umas se empoderam para começar uma relação, outras de empoderam para terminar. “Uma outra mulher tinha uma relação abusiva de anos, depois do ensaio, passou pouco tempo, nos procurou agradecendo que o ensaio fez ela ter coragem de terminar”, conta Fer Rossati.
Os ensaios se multiplicam. Segundo as amigas, são pelo menos duas sessões por dia. A pandemia inclusive adiou uma exposição com as fotos do Permita-se que seria realizada em shoppings.
“Estou até com dó do você nessa matéria, com esse monte de mulherada falando no seu ouvido”, diz Fer Rossati, rindo.
O trabalho de Fer Rossati e Fer Alves pode ser conferido em detalhes no perfil do Instagram @studiopermitase.
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