Nem acidente impediu mãe e filho de entrarem juntos na Medicina
Nem 3,1 mil km de distância, uma perda familiar e um acidente grave impediram Samara e o filho Aldo de realizarem um sonho juntos
A vida parece mais gratificante para quem tem algum desejo especial, mesmo em meio aos desafios. Esse é o sentimento da técnica de Enfermagem Samara Nunes Ferreira Araújo, 38 anos, e o filho Aldo Phelipe Nunes Ferreira Araújo, 21. Juntos eles cursam Medicina – realização de um sonho dela e o combustível para seguir em frente dele. Isso porque os dois passaram por muita coisa até chegarem juntos na sala de aula universidade.
Naturais de Patos, sertão da Paraíba, Samara diz que sempre sonhou em fazer Medicina, mas por ser viúva há muito tempo, adiou os sonhos para não deixar o filho só na cidade onde vivia, ainda mais porque o menino era apaixonado pela avó e também não queria deixa-la.
Mas um dia o próprio Aldo, que também decidiu fazer a faculdade, bateu na porta do quarto da manhã e disse que havia tomado decisão de ir embora com ela. “Ele decidiu ouvindo uma música me disse”, conta Samara, tomada pela emoção.
Com o apoio do pai, Samara não pensou duas vezes na mudança de vida. O que ela não imaginava era que tanta coisa aconteceria em pouco tempo antes de sua chegada a Mato Grosso do Sul.
“Quando comecei a me organizar para viajar meu pai faleceu dia 11 de dezembro de 2018, vítima de infarto. Foi difícil, mas demos continuidade a este sonho. Minha colega, Fabíola, que trabalhou comigo em um Hospital de Patos, estava aqui e, através dela, conseguimos fazer matrícula e alugar uma casa”.
Com viagem marcada para Ponta Porã em janeiro de 2019, Samara lembra que vendeu tudo e, sem almoço, saiu para comprar comida antes da viagem. Foi quando mais um acontecimento parecia travar os sonhos dela e do filho. “Comprei o meu almoço e, na volta, sofri um acidente. Fraturei o platô tibial. Naquele dia começou o desespero, pois já tinha matrícula feita e casa alugada em Mato Grosso do Sul”, lembra.
“Quando o médico disse que eram duas fraturas meu mundo desabou. Deixei o hospital, engessada, e com a promessa de voltar em 30 dias. Como não tinha mais nada em casa fui para a casa de minha irmã mais velha e, no outro dia, procurei outro médico que realizou a cirurgia, e foi um sucesso.”
Samara e o filho começaram então uma corrida contra o tempo. “As aulas na faculdade já tinham iniciado, enquanto eu comecei as sessões de fisioterapia todos os dias, até mesmo aos domingos, para conseguir chegar logo à faculdade.”
Aldo era quem dava banho na mãe, auxiliava nos movimento, dava apoio psicológico. “Muitos diziam que era um sinal de Deus para não vir, mas nossa fé nos fez persistir. Então no dia 4 de março de 2019 nós chegamos aqui.”
Samara chegou na faculdade muletas e ao lado do filho. “Primeiro dia de aula choramos de emoção, fui para a mesma sala de aula dele. Todos os nossos colegas da faculdade me chamam de ‘mainha’ porque é assim que meu filho me chama”, diz contente com o carinho.
A vida então foi surpreendendo mãe e filho com uma nova família de amigos. “Além dos estudos da vida acadêmica, viemos comprovar o que já sabíamos: que não podemos nos acomodar. A vida é cheia de desafios e de oportunidades, temos que tentar para não nos arrepender depois”, diz.
Samara diz que se sente grata por Mato Grosso do Sul. “Principalmente pela oportunidade de uma vida melhor. Aqui a vida é de estudo e trabalho, porém, estamos descobrindo novos sonhos. E, em minha opinião, o ser humano precisa sonhar para se sentir vivo”, acredita.
Com aulas remotas por conta da pandemia, tudo o que ela deseja é que isso passe e todos voltem à sala de aula. Ao final do curso, a vontade que sobressai é “exercer a Medicina com amor”, diz. “E não pretendemos voltar para Patos, vamos descobrir juntos novas oportunidades de vida”, afirma.
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