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Comportamento

Nem o fim de tradições apaga amor de comerciantes por Campo Grande

Antigos proprietários falam sobre o que sentem pela cidade apesar de despedidas que ninguém queria.

Thailla Torres | 26/08/2020 07:25
Despedida de seu Reginaldo em sua banca de revistas no dia 17 de junho. (Foto: Silas Lima)
Despedida de seu Reginaldo em sua banca de revistas no dia 17 de junho. (Foto: Silas Lima)

Não há como negar que 2020 chegou arrastando alguns e se tornou a gota d’água para estabelecimentos comerciais. Campo Grande se despediu de tradições, como a famosa Banca Pop do seu Reginaldo que funcionou durante 40 anos na Rua 13 de Maio, o emblemático Hotel Gaspar que salta aos olhos em plena Avenida Mato Grosso, o periférico Bom D+ que já foi palco para muito baile animado nessa cidade, além de outros conhecidos com pouco mais de uma década de funcionamento que também disseram adeus, como a casa sertaneja Valley e o barzinho Twist.

Um 2020 difícil, doloroso ou de recomeço para eles? Nestes 121 anos da cidade questionamos aos donos desses pontos tradicionais se Campo Grande muda na opinião deles após um adeus que ninguém esperava. Apesar da saudade, o spoiler é que nada muda o amor desse povo pela capital sul-mato-grossense.

Foi no dia 17 de julho de 2020, um pouco depois das 17 horas, que os jornais, revistas e também os gibis que seu Reginaldo Tamaciro sempre vendeu foram testemunha do fechar das portas da Banca Pop, depois de 40 anos ali, na Rua 13 de Maio, do lado direito, antes de chegar à Afonso Pena.

O lugar foi ponto de encontro durante anos, onde, aos fins de semana, os campo-grandenses saíam de casa e desciam para comprar a Folha de São Paulo. Ali viu entrar gente desconhecida, políticos, história, cenas, cotidianos que certamente cabiam em um livro gigantesco.

Neste ano, mesmo sem ver a movimentação de carros na região à espera do tradicional desfile de aniversário, seu Reginaldo é amoroso com a cidade. Pelo telefone a voz tomada de emoção diz que 2020 foi o ano de encerramento de uma história no centro da cidade, mas não o fim pela admiração do que viveu.

“Foram 40 anos ali, atrás do balcão, presenciando a transformação e desenvolvimento de Campo Grande. Mas a despedida da Banca Pop não significa nada de triste, mas sim a vinda de novas pessoas, para ocupar essa região que sempre será o coração da cidade. E assim a história segue continuando e contribuindo para o desenvolvimento da cidade. Parabéns minha querida Campo Grande, pelos 121 anos”.

Hotel comemora 66 anos hoje em Campo Grande, mas de portas fechadas. (Foto: André Patroni)
Hotel comemora 66 anos hoje em Campo Grande, mas de portas fechadas. (Foto: André Patroni)

Uma despedida semelhante mexeu com milhares de leitores e fez o telefone do Hotel Gaspar, na Avenida Mato Grosso, congestionar de tanta gente chorando ao saber que o tradicional hotel, com mais de 66 anos fechou as portas.

A família proprietária se despediu com emoção e anunciou que o prédio seria colocado à venda. Eles bem que tentaram segurar as pontas, mas não houve jeito. Dia 15 de julho o hotel fechou de vez e o que ficou foram memórias, de um lugar que sempre foi iluminado pelo pôr do sol campo-grandense, que se tornou o “pai dos viajantes”, e também considerado por abrigar a 1ª rodoviária de Campo Grande, já que antes da construção do terminal era ali que os ônibus paravam e os bilhetes eram comprados.

Já hospedou políticos e famosos, carrega nas costas a lenda de ter tido Che Guevara entre os hóspedes, foi palco para eventos importantes, casamentos e outras personalidades.

Com mais de dois meses fechados, a família diz que só tem a agradecer pela oportunidade que Campo Grande um dia deu aos familiares que vieram de Portugal para recomeçar.

“Campo Grande representa uma cidade acolhedora, onde podemos criar nossos filhos, manter viva nossas relações familiares e de amizade na certeza de que é possível sonhar com dias em que com a força, o trabalho e a união construiremos uma cidade em que todos possam realizar seus sonhos”, descreve Cristhian Gaspar, proprietária.

“No nosso caso em especial, o Hotel Gaspar, que completa em 26 de agosto de 2020, 66 anos de existência na nossa capital, mesmo e apesar de não estar com as portas abertas, estamos certos que deixamos um legado exemplar de trabalho, um patrimônio de uma família que acreditou desde sempre na nossa cidade morena”, acrescenta César Braga, cunhado de Cris e gerente do Hotel.

Já o aniversário de 121 anos chega em tom de esperança para Allan Antunes, proprietário do famoso Bom D+ que funcionou em Campo Grande durante 8 anos, 1 mês e 15 dias fazendo a alegria do povo que nunca dispensou um bailão nessa cidade. Na pandemia, sem os bailes, ele anunciou em abril que seria inviável manter o estabelecimento, foi então que tudo acabou.

Mas, hoje, ele diz que se mantém esperançoso, especialmente em relação a Campo Grande, cidade que, segundo ele, gosta de se divertir.

“Sou grato ao povo de Campo Grande, principalmente aos meus clientes e amigos. Tudo isso vai passar e eu vou abrir uma nova casa e começar de novo. Meu povo está esperando e não vou deixá-los sem ‘pai’ ou bailes. A cidade é minha casa, meu lar e gosto disso, não tem como não amar essa cidade”.

Apesar de ter fechado o estabelecimento que ficou aberto durante 17 anos em Campo Grande durante a pandemia, Maurício Wanderley também não culpa a cidade, embora muitos critiquem que é difícil manter algo na noite campo-grandense. Dono do antigo Twist na Rua Antônia Maria Coelho, ele diz que a cada ano acredita na cidade.

“Está sendo um momento difícil para todos, afinal ninguém esperava que essa pandemia fosse demorar tanto e causar tantos estragos tanto financeiramente quanto emocionalmente como a perda de vidas. Mas acredito na cidade, tanto que estou com projeto para continuar no ramo da alimentação, mas de um outro formato. O que nos motiva é saber que tudo isso uma hora vai passar e as coisas voltarão ao normal. Sou grato a Campo Grande por tudo”, finaliza.

Twist funcionou durante 17 anos na cidade. (Foto: Henrique Kawaminami)
Twist funcionou durante 17 anos na cidade. (Foto: Henrique Kawaminami)


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