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Comportamento

No Pantanal, uma viagem se transformou com a história de mulheres "invisíveis"

Com uma narrativa sensível, Iasmin contou sobre o cotidiano das mulheres ribeirinhas na comunidade do Porto da Manga

Thailla Torres | 17/11/2017 06:05
Maria, aos 79 anos, é a mulher mais velha do Porto da Manga. (Foto: Iasmim Amiden)
Maria, aos 79 anos, é a mulher mais velha do Porto da Manga. (Foto: Iasmim Amiden)

O cotidiano das mulheres ribeirinhas do Porto da Manga, no Pantanal, foi a inspiração para uma narrativa cheia de sensibilidade feita pela jornalista Iasmim Amiden como trabalho de conclusão de curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Mas além do trabalho, a viagem trouxe a Iasmim outra margem sobre mulheres inspiradoras, que mesmo diante uma rotina exaustiva, demonstram uma força incomum. O relato sobre a transformação na vida, Iasmim, conta aqui no Voz da Experiência.

Em 2016, iniciou o trabalho jornalístico para conclusão do curso de graduação. (Foto: Katarini Miguel)
Em 2016, iniciou o trabalho jornalístico para conclusão do curso de graduação. (Foto: Katarini Miguel)

"Nascida em Cuiabá, Mato Grosso, já tive contato com o Pantanal, mas por alguns anos pouco me debrucei nas histórias das gentes pantaneiras e aventurei pelos rios da planície. Quando mudei para Campo Grande, em 2013, para cursar Jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, tive enorme paixão e afinidade com as narrativas femininas – sobre mulheres e, principalmente, as “invisíveis”.

Deste sentimento surge a vontade de trabalhar com as mulheres ribeirinhas – e pantaneiras. Então, em 2016, iniciei o trabalho jornalístico - para conclusão do curso de graduação - na comunidade do Porto da Manga, localizada a cerca de 60 quilômetros do município de Corumbá, Mato Grosso do Sul. Esta foi a comunidade escolhida devido a representatividade das mulheres e ao papel desempenhado por elas na geração de renda das famílias. A principal atividade de subsistência praticada na região – coleta de iscas vivas – é desempenhada quase 100% pelas ribeirinhas, além de trabalharem com extrativismo e produção de derivados de frutos do Pantanal.

E, apesar das atividades desempenhadas, fundamentais para a subsistência da população local, as mulheres do Porto da Manga encontram-se às margens das políticas públicas, sofrem com a falta de assistência médica e saneamento básico, possuem baixo nível de escolaridade e suas jornadas de trabalho chegam a 10 horas diárias dentro da água do rio, para realizar a coleta das iscas.

(Foto: Iasmim Amiden)
(Foto: Iasmim Amiden)

Situação que muito chama a atenção e merece ser contada. Quis escrever sobre as histórias que vivem e viveram estas mulheres, que estão muito além das belas imagens comumente mostradas do Pantanal e sua gente.

No mês de março de 2016, fiz a primeira visita ao local. A paisagem, o céu, tudo parecia mais bonito do que nas cidades, mas estes cenários logo ficaram em segundo plano. Nesta viagem, me dediquei a estabelecer um primeiro contato com as mulheres. Passei de casa em casa, conversei com elas, expliquei a proposta do trabalho e disse que retornaria entre alguns meses para começar a produzir o material. Sem empecilhos, as mulheres se prontificaram a ajudar e demonstraram interesse em compartilhar suas histórias. Fiz poucos registros fotográficos durante a visita, priorizei o contato com as ribeirinhas, pois, era importante que elas entendessem a proposta do trabalho.

Para uma primeira visita, foi um grande impacto. Não imaginava encontrar apenas as belezas exuberantes da fauna e flora pantaneira, mas também me surpreendi com o árduo cotidiano que as ribeirinhas enfrentam.

A segunda viagem foi realizada no mês de julho de 2016 e foram coletados os depoimentos das ribeirinhas. Todas as entrevistas foram gravadas e optei por não utilizar uma câmera filmadora, para o registro dos relatos, pois tive a preocupação de que o aparato pudesse causar intimidação e comprometer o diálogo estabelecido com as mulheres.

Fiquei hospedada junto com a minha orientadora Katarini Miguel na casa da Eliene, uma coletora de iscas que aluga quartos para turistas. Os quartos são muito bem organizados e espaçosos. Ela nos recebeu com muitas cobertas em cima das camas, pois, naquele dia, estava frio. A temperatura oscilava entre 10 a 12 graus.

(Foto: Iasmim Amiden)
(Foto: Iasmim Amiden)

Combinei um horário diferente com cada uma, para realizar a entrevista. O rendimento foi melhor do que o esperado. Ao todo, consegui conversar com 11 mulheres e acompanhá-las nas mais diversas atividades que compõem suas rotinas. Para os breves três dias que passamos na comunidade, rendeu um ótimo material.

Esta viagem se resume a uma das experiências mais incríveis da minha vida. Não consigo conter as lágrimas quando memórias sobre estes dias são resgatadas. Deparar com o diferente, tentar se colocar no lugar do outro e conhecer as condições impostas a estas mulheres, mexeu profundamente comigo, assim como imagino que após conhecer as histórias seja pela narrativa na Web, ou durante a exposição fotográfica, todos sintam-se mudado de alguma forma, em seus conceitos, seus sonhos, suas vontades, desejos, ou percepções sobre o mundo.

No intuito de presenciar o cotidiano das ribeirinhas nos diferentes períodos do Pantanal, foi realizada uma última viagem, durante o mês de outubro de 2016. Nesta visita, foram entregues as fotografias captadas no local, para as personagens contempladas no trabalho jornalístico – e agora na exposição fotográfica –, como forma de agradecimento pelas experiências compartilhadas.

A gratificação do trabalho estava nestas simples coisas, na felicidade delas ao receber as fotos e nas brincadeiras que fizemos ao ver algumas das fotografias engraçadas. As gargalhadas ecoam em minha memória e me trazem muita alegria. Em meio a tanta tristeza que vi daquele cotidiano, estas boas lembranças também se fazem presentes.

Além disso, acompanhei o trabalho de campo da equipe da organização não governamental Ecoa, a qual desenvolve projetos com esta e outras comunidades pantaneiras há quase 30 anos e onde atualmente trabalho, fazendo o que amo, unindo os saberes científicos e tradicionais na comunicação para defesa dessa região e do povo do Pantanal".

A reportagem “Mulheres da Manga” recebeu dois prêmios, um regional e outro nacional, de melhor reportagem na categoria Jornalismo Digital, do Expocom (Intercom) em 2017. E rendeu uma Exposição Fotográfica que  fica no Fran’s Café até o dia 18 de novembro.

E quem quiser acessar o trabalho completo, basta clicar no link

Mulheres que seguem o horizonte azul em busca de melhores condições de vida. (Foto: Iasmim Amiden)
Mulheres que seguem o horizonte azul em busca de melhores condições de vida. (Foto: Iasmim Amiden)
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