Balanço simples feito pelo pai faz menina esquecer do celular
De dia, de noite e até na chuva, a cena da menina no balanço mostra o que é ser criança
No bairro Taveirópolis, o vai e vem na avenida ajuda a acompanhar a história de um balanço. No início, a casa pequena de alvenaria nem merecia uma virada de pescoço. Mas o lugar foi ganhando outra importância com o passar dos dias.
Em um fim de tarde, o pai instalava duas toras de madeira. No outro, fixava uma tábua para servir de assento, suspensa por cordas. Por fim, dois “rolinhos” coloridos adornaram a peça e, pronto: surgiu o balanço.
No mesmo instante, ele ganhou uma amiga inseparável, Lisa Marie, de 5 anos. Faça chuva ou faça sol, seja dia ou noite, os dois são inseparáveis aos olhos de quem passa pela avenida. A cena da infância é tão bonita que fica impossível resistir à parada para descobrir como a dupla se formou.
Disposto a acabar com a curiosidade do Lado B, o pai, Jonathan, abre o portão e começa a contar que o brinquedo era para ser apenas uma decoração de Natal, para tirar fotografias. Mas virou caso de amor. “Coloquei umas luzinhas para as meninas tirarem fotos, mas elas gostaram, e agora a caçula vive ali. Serviu para ela esquecer do celular", comenta.
Na casa, a vida é simples, mas bem colorida. Na fachada, dois vasos de samambaias identificam gente caprichosa. A mãe, Alexsandra, deu um jeito de criar espaços originais, com paredes pintadas por ela mesma, em tons de lilás. A cortina em tom vivo é o destaque, uma passagem entre a sala de TV e o espaço com mesa de jantar. “A gente inventa”, diz a mãe sobre a decoração.
O mesmo cuidado com o lar ela tem com as filhas. Por ali, redes sociais são proibidas, e celular só tem a chance de enfeitiçar as meninas aos fins de semana — mesmo assim, com regras. “Elas não podem ter TikTok ou Instagram, não deixo", sentencia a mãe. "A mais velha até teve TikTok, mas aí começou a mudar muito de comportamento. A internet influenciava demais ela, e eu acabei com essa história”, justifica.
Transferido de Corumbá há um ano, Jonathan foi pai jovem e, aos 36, já completa 10 anos de casamento com Alexsandra. Ele, com 36, e ela, com 30, os dois parecem durões quando o assunto é a educação das filhas. E nem foi tão difícil banir as redes sociais da infância das meninas.
A mais velha até ensaiou um "espetáculo" de rebeldia, mas a mãe diz que não avançou muito na tentativa de crescer com o celular na mão. No lugar do aparelho, no domingo de visita do Campo Grande News, estava a guampa de tereré.
"Hoje, elas focam na brincadeira, em conversar com a gente", e os efeitos são visíveis, segundo a mãe. “Antes, ficavam muito estressadas, principalmente com joguinhos. Acabavam fazendo malcriação", completa.
De riso fácil, aos 9 anos, Aghatá confirma que se contenta em ver o YouTube aos domingos, únicos dias liberados e "com parcimônia". "A gente quer o melhor para elas. Queremos que tenham uma infância como antigamente. A gente jogava taco, corria na rua... Agora é mais difícil, mas a gente tenta", diz o pai.
Durante toda a conversa, a caçula nem aparece dentro de casa. Segue se divertindo do lado de fora, no balanço instalado no pequeno gramado. Como se conversasse com um amigo cheio de afinidades, é sentar no balanço e começar a sorrir. São horas ali, para a felicidade dos pais e da menina.
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