O casamento é das filhas, mas as mães que enlouquecem às vésperas do grande dia
“A sensação é de que a coisa está fugindo do controle com todas as circunstâncias, com coisas que você não está dominando e está no encargo dos outros”. Quem ouve o desabafo acredita estar num divã, na sala de psicanálise. Mas longe disso, Dirce Flores Duarte, a autora dessas palavras é só mais uma mãe que pirou no casamento da filha.
A assistente no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul dividia as tarefas entre o expediente e planejar o casamento de Georgia. A jovem já era noiva, mas decidiu casar em cinco meses. Gigi, como a mãe a chama carinhosamente subiu ao altar no dia 23 de dezembro. E passado quase um mês, Dirce ainda não se recuperou do ‘surto’.
Cada noite era um sonho diferente a respeito de alguns dos itens do casamento. Ela acordava sufocada, agitada, angustiada e corria para o telefone. “Eu perguntava Gigi, está organizado isso? Você deixou a cargo de alguém? Você viu?”
Todas as ligações que a noiva recebeu foram assim, de uma mãe desesperada porque por minutos, viveu um pesadelo no grande dia. “Era cerveja que não chegava e não tinha um copo de bebida para os convidados, o som que falhou e a Gigi entrou sem música nenhuma, essas coisas” e no dia seguinte, o celular da filha estava cheio de chamadas. Do outro lado da linha, a noiva mandava a mãe tomar fluoxetina, na brincadeira.
Dirce confessa que pirou e que por mais que a pessoa responsável por algum dos itens fosse de confiança, ela vivia o dilema de querer e não conseguir dominar tudo ao mesmo tempo. “Foi a primeira filha a casar, tenho um casal. Ela é a mais nova. No dia do casamento, eu tenho a impressão que eu realmente causei nervoso, porque ela disse não passa nada para mim pelo amor de Deus”, recorda.
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Nem no casamento dela mesma, Dirce ficou assim. No grande dia, Gigi passou pelos convidados até o altar, disse o sim, trocou alianças, jogou o buquê, dançou na festa, entregou as lembrancinhas aos convidados e na cabeça de Dirce, continuava a martelar algum detalhe que não saiu como o planejado.
“Se eu fiquei tranquila em algum momento? Nenhum. Na verdade até depois a gente vai pensando no que deu errado, mas não tem como refazer. Eu pirei sim, eu pirei com tudo”, confessa.
Mas a piração teve motivo, vestido de noiva. “Eu realmente queria fazer de tudo para ajudar a Gigi, para que ela pudesse ter o dia perfeito. Você vai querer que o sonho da pessoa mais importante pra você se concretize e dê tudo certo”.
O pesadelo de Cláudia Carneiro Penteado, de 51 anos, fez com que ela e marido amanhecessem em Ponta Porã, uma semana antes do casamento da filha Paula, para reforçar o estoque de bebidas. Ela não chegou a sonhar com a festa. Foi na realidade mesmo que achou que faltaria o que beber.
“No sábado eu conversei com o meu marido e entrei nessa, de que era pouca bebida. Domingo cedinho fomos comprar mais”, narra. E claro que sobrou e a quantia inicial era o suficiente.
Paula era a segunda filha a casar, a primeira já havia se casado seis anos antes. Em cada segundo do dia, Cláudia se lembrava o que tinha de falar com a organização. “Falar tal coisa para o cerimonial, falar tal coisa para a decoração”, recorda.
No dia, os convidados chegaram a comentar que perceberam o nervoso de Cláudia. Um misto de ansiedade e emoção visível aos olhos de quem prestigiava. “Mas é só na hora, chega na festa e vai diminuindo”, comenta.
A piração mesmo veio após a noiva voltar da lua-de-mel, com o anúncio de que o filho de Cláudia iria de casar, em dezembro. Era setembro e havia pouco mais de dois meses para planejar tudo de novo.
“Você quer que saia tudo perfeito e eu sou muito detalhista. Ele chegou para mim dizendo que ia ser só no civil, mas fizemos um jantar e foi uma loucura. Aí eu pirei, não achava salão de festa, não achava DJ, era muito em cima”, fala.
Por sorte e para a saúde mental de Cláudia, as duas festas aconteceram dentro do planejado. “Agora chega”, disse ela para o Lado B. Também, já acabaram os filhos e não tem mais quem casar.
Há seis anos no mercado de casamentos, o cerimonialista Gil Saldanha, explica que há dois tipos de mães de noivas: as que não participam e as que participam, até demais. A lógica para o surto pré-casamento é que essas mães não tiveram a festa que hoje as filhas planejam, ou então, não dispunham da estrutura de hoje. E não existe técnica. O segredo é deixar que o cerimonial tome o controle dos detalhes. Senão, as mães vão pirar.