O impacto da pandemia no futuro dos meninos do futebol
Muitos atletas jovens estão sofrendo as incertezas da pandemia, testes foram cancelados, enquanto outros foram dispensados
O Brasil é o país do futebol, ponto. É impressionante a quantidade de crianças que veem o esporte como um sonho. Não é algo simplesmente para ganhar vida, é a possibilidade de estar na televisão, de jogar no clube que os pais torcem, de chegar à seleção brasileira, de, quem sabe, jogar uma Copa do Mundo.
Isso mexe demais com a cabeça dos jogadores de base. São meninos, em sua maioria, porque é uma pena o que acontece com o futebol feminino nesse país, e que depositam todos seus esforços na chance de se tornarem profissionais. Só que é, justamente, o fato de milhares de pessoas ambicionarem a mesma coisa, que torna tudo mais difícil.
Jogar na base é uma corrida contra o tempo, é tiro curto, assim como a carreira profissional. Dificilmente um atleta se dá bem na carreira se não joga profissionalmente depois dos 18 anos. E não há garantia de que vai jogar em grandes clubes, é muito comum perambular por times pequenos na tentativa de conseguir uma boa oportunidade.
“A gente diz que depois dos 16 anos as portas começam a se fechar e alguns atletas correm contra o tempo. Então essas oportunidades que surgem, eles têm que abraçar com corpo e alma”, explica Adriano Arce, preparador de atletas de base para futebol profissional.
Além de todo o drama inerente à situação, veio uma pandemia e passou uma bela rasteira nesse meninos. Muitos perderam testes agendados em grande clubes, outros, que já jogavam na base de algum time, tiveram que voltar para casa sem saber o futuro.
O caso do menino Gabriel Luciano Fernandes de Oliveira, de 10 anos, é bem didático. Ele iria passar por um teste no Fluminense no último dia 28 de abril, mas teve a avaliação cancelada por conta do coronavírus. O pai de Gabriel, Gilberto Luciano de Oliveira, já havia comprado as passagens e reservado hotel para uma semana, período do teste.
“A sorte dele é que tem mais tempo pela frente, mas a gente estava muito otimista com esse teste do Fluminense, por isso estou trabalhando bastante o psicológico dele pra não ficar tão abalado e perder o foco”, conta o pai.
Um pouco mais preocupante é o caso do goleiro André Noscetti Martins, de 16 anos. Ele, que é de Campo Grande, estava jogando na base do Juventus de Jaraguá do Sul (SC).
Por conta da pandemia, foi obrigado a voltar pra casa e conviver com a incerteza do próprio futuro. “O maior medo que estamos é o de perder o emprego ou ser dispensado do clube”.
Já no limite para se tornar profissional está o centroavante Davi Banzer Ayoub. Ele iria jogar no sub-20 de um clube da Costa Rica, país da América Central. “Surgiu a oportunidade de ir para a Costa Rica fazer um teste, me deram a data e tudo mais, então comecei a treinar forte para chegar bem preparado. Porém com tudo isso da pandemia, o futebol foi parando e acabou sendo adiada a viagem”.
Sobre o receio de ver sua carreira prejudicada para sempre, ele se apega na fé. “Pra muitos esse (17 anos) é considerado o último ano para tentar, mas nem sempre é o último ano, eu acredito que tudo acontece no tempo de Deus e que deve acontecer, mas tenho minha preocupação sim com tudo isso, pois perder esse tempo seria muito prejudicial, espero que isso passe logo para conseguir ir atrás disso ainda esse ano”, diz preocupado, mas esperançoso.
O próprio Adriano Arce, preparador de alguns meninos iguais aos que conversamos, teve planos adiados. “Esse ano tinha tudo para ser o grande ano da minha vida, em fevereiro fui ao Flamengo do RJ abrir portas e deu tudo certo, estava com viagem marcada para MG, SP e RJ para levar atletas para testes e abrir novas portas e recebi uma proposta para trabalhar na Espanha”.
Assim como os meninos se preparam para serem jogadores, Arce se prepara para ser técnico. “Tenho o sonho de ir para algum clube fazer uma carreira como técnico e, de repente, vem os medos e incertezas diante de tudo que está acontecendo pelo mundo gerando medo sobre o futuro, mas sigo mantendo a fé que vamos voltar logo”.
Sobre testemunhar tantos meninos aflitos pela situação instável, ele diz que é difícil vê-los assim, mas ajuda como pode. “Trabalho há 11 anos com futebol de base e nunca imaginei passar por uma fase assim de tantas incertezas. Vejo eles apreensivos e ansiosos e a forma que encontrei para ajudar foi criar o grupo de personal e continuar os trabalhos que eles estavam fazendo para, principalmente, não deixar cair o rendimento, sem falar na parte psicológica, além de, claro, manter a fé”.
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