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Comportamento

O que o Pão de Açúcar tem guardado sobre o Mato Grosso do Sul?

Ângela Kempfer | 30/04/2013 06:23
Um dos pontos turísticos mais famosos do Brasil e do mundo. (Foto: Prefeitura do RJ)
Um dos pontos turísticos mais famosos do Brasil e do mundo. (Foto: Prefeitura do RJ)
Antônio João, na "pose" que eternizou o tenente. (Fotos: Ângela Kempfer)
Antônio João, na "pose" que eternizou o tenente. (Fotos: Ângela Kempfer)

De longe, a pose da estatua no pé do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, remete à imagem bem conhecida. É o mesmo homenzinho uniformizado, em um movimento estranho, como naquela praça de Dourados, no interior de Mato Grosso do Sul.

Um colega jornalista sempre repetia a informação e desta vez resolvi verificar. Ali, em um dos principias pontos turísticos do Brasil, há sim uma homenagem ao “Tenente Antônio João” e aos “heróis” do hino sul-mato-grossense.

É automático, na hora dá vontade de cantarolar: “Vespasiano, Camisão e o tenente Antônio Joãaaaaaaaaaaao...”

É claro que a homenagem em praça pública não existe por causa da música, muito menos pela existência de Mato Grosso do Sul. É um reconhecimento à coragem dos combatentes da Guerra do Paraguai. No monumento, estão as imagens do Coronel Camisão, de Guia Lopes, do tenente Antônio João e de episódios como o “Salvamento dos Canhões”.

Todos também não estão ali por conta do Pão de Açúcar e sim pela localização da Escola Superior de Guerra, bem ao lado do embarque e desembarque de turistas no teleférico carioca, no bairro da Urca.

Mas o que importa é que alguns dos “nossos” estão em evidência, o que para uma sul-mato-grossense é no mínimo curioso e de uma importância incrível quando se está sozinha em uma cidade cheia de gente que não te dá a mínima para quem não é carioca ou estrangeiro.

A satisfação só perde a força quando resolvo avançar no passeio e procurar o mausoléu que guarda os restos mortais dos nossos “heróis” e que, segundo o Google, também fica ali, na mesma praça, aos pés do Pão de Açúcar.

“Moça, nunca nem ouvi falar disso. Trabalho aqui há 22 anos e nunca vi esse Guia Lopes que você está falando”, diz o segurança, a cerca de 50 metros da estátua.

Visão a partir do mausoléu para o ponto de embarque do teleférico, "bem pertinho".
Visão a partir do mausoléu para o ponto de embarque do teleférico, "bem pertinho".
O esquecido Guia Lopes.
O esquecido Guia Lopes.

Com tempo de sobra para uma conversa, ainda tirei algumas risadas do homem, lembrando que o Guia Lopes tem uma história e tanto.

“Ele entrou na guerra por vingança, porque os paraguaios sequestraram a esposa e os quatro filhos dele em Jardim, onde a família morava. Amigo, ele guiou os soldados durante uma das fugas do Paraguai. Talvez todo mundo tivesse morrido sem o Guia Lopes”, conto do meu jeito.

Não perguntei o nome do dito cujo, mas duvido que alguém consiga arrancar de algum funcionário, policial ou militar das redondezas a localização do monumento em homenagem à Guerra do Paraguai, muito menos a localização do mausoléu.

O soldado na portaria do quartel também jura que não existe nada desse “tipo” ali. “A senhora deve ter errado de lugar. Não é lá em Niterói?”, pergunta o militar.

Insisto e vou até a bilheteria do teleférico, pela segunda vez na manhã de uma quinta-feira. “Agora que você falou, um dia eu vi umas pessoas descendo ali naquela casinha. Será que é lá?”, responde uma atendente do Pão de Açúcar, apontando para a tal “casinha”.

Quando chego perto, finalmente a “revelação”: no centro de um gramadinho sem graça está o mausoléu. No topo, uma placa de 1940 confirma: “...mausoléu para perpetuar a memória dos militares mortos na Guerra do Paraguai”.

O lugar foi aberto à visitação há um ano, no centenário do Pão de Açúcar, mas pelo nível de esquecimento, ninguém deu muita importância. Também, quem quer ver restos mortais se pode pagar R$ 53,00 e “sobrevoar” a Baía da Guanabara?

Sem entender o meu propósito, o segurança, atencioso desde o início, tenta justificar a desinformação. “Moça, você veio lá do Mato Grosso para ver isso”, pergunta com sorrisão no rosto.

Antes da resposta, penso que pelo menos vou poder praticar a boa e velha reação sul-mato-grossense e não voltar para o hotel sem tirar um sarrinho do carioca. “É Mato Grosso do Sul!”.

Praça (à esquerda) com homenagens aos militares da Guerra do Paraguai.
Praça (à esquerda) com homenagens aos militares da Guerra do Paraguai.
O que o Pão de Açúcar tem guardado sobre o Mato Grosso do Sul?
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