Padre Luciano trouxe pedaço de Nossa Senhora de Aparecida para MS
Fragmento retirado na década de 60 veio parar nas mãos de padre Luciano em 1965, quando ela era pároco em Bandeirantes
"Não somos órfãos, temos mãe”, diz padre Luciano Scampini voltado, de olhos fechados, para a imagem da Nossa Senhora da Aparecida, que fica na Igreja Matriz Paróquia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, na Avenida Tamandaré.
Pároco por mais de 10 anos durante a década de 90 e começo dos anos 2000, padre Luciano foi responsável por colocar aquela imagem ao lado do altar na igreja que reverencia Nossa Senhora de Aparecida, santa mais famosa e padroeira do Brasil, encontrada por pescadores no Rio Paraíba séculos atrás.
Padre Luciano, um ítalo-brasileiro de 83 anos, com humor inigualável, também foi o responsável por colocar nessa imagem uma relíquia: um pedaço da Nossa Senhora original, que está encravada em seu coração.
Sentados em frente à santa, conversamos durante pouco mais de meia hora, mas podia ser três, quatro horas. O agora vigário da paróquia tem história que não acaba mas, sendo devoto fervoroso de Nossa Senhora, tem essa como a mais importante de sua vida.
Para entender como padre Luciano conseguiu um pedaço da imagem original, é preciso explicar como esse pedaço se desprendeu dela. Na década de 60, um padre conhecido como Andrade, residente no Convento de Redentoristas, junto de outros redentoristas, foram responsáveis por fazer um pequeno orifício na imagem para ser colocado um pino de platina que fixasse o corpo à cabeça, porque como conta a história, os pescadores encontraram as duas partes separadas.
Essa medida foi tomada antes do atentado, em 1978, que deixou a imagem da santa, feita de barro, em mais de 200 pedaços. Desde então existe toda uma estrutura de proteção da imagem que dificilmente seria tocada por redentoristas como foi nesse episódio.
Pois em 12 de outubro de 1965, dia de Nossa Senhora da Aparecida, esses fragmentos (dois pedaços) retirados durante a fixação dos pinos foram dados ao monsenhor Lucas Maia pelo padre Andrade, que havia feito a manutenção anteriormente.
E foi o monsenhor Lucas Maia, sem conhecer padre Luciano, que decidiu dar-lhe um dos pedaços numa cerimônia em 12 de outubro de 1984 na cidade de Bandeirantes, onde ele era pároco.
“Eu não conhecia ele, foi a mão de Nossa Senhora que fez ele me dar essa relíquia”, conta padre Luciano.
Em posse desse pedaço, cedido pelo monsenhor Lucas Maia, padre Luciano foi até São Paulo, numa relojoaria famosa e pediu para que dividisse em dois, colocando-os em pequenos adereços de ouro.
“Eu coloquei uma relíquia dentro do coração na imagem em Bandeirantes e pensei: “vou ficar com a outra pra mim caramba, eu tenho direito (risos)”.
Padre Luciano veio para paróquia de Campo Grande em 1994 e trouxe sua relíquia “pessoal” junto. “Eu tinha uma relação bem complicada com a relíquia, um dia usava no pescoço, outro dia no dedo, outra dia eu perdia debaixo da cama”.
Foi em 2007 durante um problema sério de saúde, que o tirou da frente da paróquia, que padre Luciano decidiu “se desfazer” da relíquia e colocá-la na Paróquia Nossa Senhora da Aparecida, no coração da imagem.
“Eu também vou morrer e pensei que deixar aqui, junto ao coração de Nossa Senhora, seria um legado pra comunidade como um todo”.
Acompanhando a entrevista está Ana Cláudia Leite Pereira, cuidadora de padre Luciano e também devota de Nossa Senhora de Aparecida. Carioca, ela veio para Campo Grande em 2001 e logo se integrou à comunidade.
Emocionada, ela conta como padre Luciano foi o responsável por seu casamento “surpresa” em 2004. “Um dia antes do dia de Nossa Senhora, em 11 de outubro, nos preparativos, o padre apontou pra mim e disse: “amanhã vamos fazer o casamento dessa fiel”. Eu fiquei totalmente sem saber o que fazer, mas no outro dia, com a igreja lotada, no dia de Nossa Senhora, eu entrei no altar e casei”.
Padre Luciano tem três livros publicados sobre segundo matrimônio dentro da igreja católica. É um estudioso com teses em Roma, onde morou na década de 90 também.
Já em pé, assim como descrito no começo da matéria, virado para imagem da santa, padre Luciano, com sua voz forte, de entonação italiana, reza mais uma vez para Nossa Senhora de Aparecida, que habita mais que nunca aquela imagem e também seu coração.
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