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Comportamento

Pai adapta carrinho de reciclagem para não deixar filhos sozinhos

Pai de quatro, o catador colocou dois assentos para que filhos fiquem confortáveis durante trajeto

Bárbara Cavalcanti | 20/12/2021 06:40
Sidnei com os filhos, Davi e Isaque, nos assentos no carrinho. (Foto: Paulo Francis)
Sidnei com os filhos, Davi e Isaque, nos assentos no carrinho. (Foto: Paulo Francis)

Sidnei Lopes de Jesus, de 46 anos, é catador de recicláveis e não consegue trabalhar sozinho. Pelo menos, dois dos quatro filhos sempre o acompanham em uma adaptação que ele mandou fazer no carrinho onde carrega os materiais.

“Não adianta eu querer ir sozinho não, viu? Você precisa ver, quando eu estou me ajeitando pra sair, como eles ficam”, se diverte. “Mas ser pai é um carinho, um amor incondicional que não tem dinheiro nesse mundo que pague”, comenta.

Sidnei é campo-grandense, mas até três meses atrás, morava em Goiânia, Goiás. Foi lá que casou-se com Luciane Rodrigues Cavalcante, de 40 anos, e agora, são pais de Osvaldo, de 5, Heloisa, com 3, Davi de 2, e Isaque, de apenas oito meses. O casal aluga uma casa simples no Bairro Santo Amaro, com um quintal amplo que comporta os recicláveis.

Luciane no quintal da casa durante conversa com o Lado B. (Foto: Paulo Francis)
Luciane no quintal da casa durante conversa com o Lado B. (Foto: Paulo Francis)

“A gente sempre viveu disso e não tinha com quem deixar as crianças. Então, por isso, ele fez a adaptação, colocou os dois assentos com bebê conforto, pra eles estarem confortáveis enquanto a gente trabalha”, explica Luciane.

De acordo com Luciane, as crianças encaram tudo como diversão. “A gente sai logo cedo da manhã e volta só à noite. E eles acham um barato, porque está sempre andando”, ri. “É só não deixar faltar comida e água, que a gente sempre leva pra eles. Aí, eles chegam em casa já dormindo”, acrescenta Sidnei.

Luciane é também manicure e tem alguns problemas de saúde, por isso, não aguenta sair para coletar o material todos os dias. Sidnei é quem faz sozinho o trabalho pesado, de carregar o carrinho e no final do dia, ainda fazer a separação. E sempre acompanhado.

“Esses dias, eu carreguei os quatro de uma vez aqui. Os dois menores nas cadeiras, o Osvaldo atrás e a Heloisa aqui na frente do carrinho, pra equilibrar”, detalha.

Sidnei carregando o carrinho com as crianças. (Foto: Paulo Francis)
Sidnei carregando o carrinho com as crianças. (Foto: Paulo Francis)

Estar sempre grudado no pai fez parte da própria criação de Sidnei. “Meu pai me criou dessa forma. Osvaldo de Jesus, ele era um excelente fotógrafo, que faleceu há 30 anos. Ele não tinha leitura, mas as fotos dele eram perfeitas. Como eu já sabia ler e escrever, me falaram pra eu ir com ele e anotar os endereços pra ele”, relembra.

“Ele brincava assim comigo: ‘Anota o endereço aí que amanhã eu volto aqui pra tacar fogo’”, acrescenta entre risadas. “Ele tinha uma Monark, eu ia sempre na garupa dele. Aí, eu cresci, fiquei pesado, ele teve que comprar uma bicicleta pra mim. E assim fui indo, até que quando eu tinha 16 anos, ele faleceu. Assim, eu, como único filho homem da família, tive que trabalhar”, recorda.

A relação achegada, hoje, Sidnei também tem com os próprios filhos. “Eles dormem tudo em cima de mim, um em cada braço”, ri. O carrinho que tinha em Goiânia, também tinha as adaptações feitas sob encomenda.

“Mas ainda falta coisa. Falta pintar, colocar uma proteção melhor aqui em cima. E mais pra frente, se Deus quiser, é ter uma caminhonete, pra ficar melhor de carregar tudo e todo mundo”, reforça.

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