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Comportamento

Para Djamila Ribeiro, crise da masculinidade precisa existir

Escritora e filósofa palestrou em evento promovido pela Polícia Civil em Campo Grande

Por Aletheya Alves | 10/08/2024 08:05
Djamila RIbeiro durante evento da Polícia Civil em Campo Grande. (Osmar Veiga)
Djamila RIbeiro durante evento da Polícia Civil em Campo Grande. (Osmar Veiga)

“Vejo as pessoas reclamando da crise da masculinidade, mas isso precisa acontecer, essa masculinidade tóxica precisa morrer. É necessário existir uma masculinidade alternativa”, argumenta a filósofa e escritora Djamila Ribeiro. Em Campo Grande pela segunda vez, a filósofa participou de evento promovido pela Polícia Civil através da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) para capacitar servidores que atuam enfrentando a violência de gênero.

Em sua palestra, a autora explicou conceitos de gênero e interseccionalidade (sobreposição de fatores sociais), além de argumentar sobre como os homens também precisam se educar para romper com os ciclos (por isso a fala acima). Na prática, falar sobre gênero não é pensar apenas sobre as mulheres, como ela detalha.

Segundo Djamila, aquilo que é esperado dos homens também exerce uma força de “destino”, ou seja, todos precisam agir e vivenciar o cotidiano de determinada forma. É aqui que as violências contra as mulheres também são colocadas em prática, já que o suposto poder é exercido. E, no caminho, os homens também vão perdendo o direito de sentir, por exemplo, afeto.

Sobre os vários fatores sociais que precisam ser considerados quando se fala de violência contra mulher, Djamila relata que é necessário entender Mato Grosso do Sul como um estado diverso. “Muitas vezes, nós universalizamos essa questão e a mulher, por exemplo, que vem de uma comunidade quilombola vai trazer questões diferentes de uma mulher branca que mora em um bairro de classe média”.

Longe de querer implicar na existência de uma competição sobre quem sofre mais, ela explica que entender como cada mulher (a partir de seu recorte de raça, etnia e classe social) é um modo de debater com maior qualidade.

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A discussão é que uma mulher indígena, uma que mora Corumbá, que vive em um território de fronteira, ela vai viver a experiência de uma forma diferente. Ao compreender essas diferenças, a gente consegue tanto atender melhor essa mulher porque compreendemos o contexto de qual ela vem, conseguimos pensar de fato políticas públicas e formas de atender para contemplá-la, diz Djamila.

Ao Lado B, Djamila defendeu formações como a realizada pela PC e argumentou que é através dessa base que formas adequadas de atendimento às mulheres podem ser construídas. “Sobretudo em casos de violência contra mulher, em um país como o nosso, que infelizmente tem índices altíssimos, esses ciclos formativos são importantes para qualificar o atendimento a essas mulheres e para que o Estado perceba a necessidade de ampliar as políticas públicas de enfrentamento à violência”.

No cotidiano, entender que essas mulheres são “brutalizadas” e deixam de receber afeto significa pensar em um atendimento mais humano e que pode atender diferentes demandas. Isso também se aplica a quando os agentes públicos sabem que as informações de mulheres negras são diferentes das de mulheres brancas.

Viviane Luiza também participou do evento formativo. (Foto: Osmar Veiga)
Viviane Luiza também participou do evento formativo. (Foto: Osmar Veiga)

“Esse olhar precisa ser humanizado para um ser que muitas vezes foi brutalizado, que não consegue expressar, mas é nossa função enquanto agentes que vão atender essa mulher, oferecer esse olhar de cuidado que muitas vezes falta. As mulheres historicamente cuidam muito, mas especialmente essas que vêm de um cenário de vulnerabilidade sem sequer entender que têm direito ao cuidado”.

Também palestrante no 1º Encontro Mulheres em Foco - Agentes que atuam frente à violência de gênero, a secretária de estado da Cidadania, Viviane Luiza destacou que retirar a generalização é algo que já passou da hora.

“Nós somos um mosaico e cada peça tem sua especificidade moldada na cultura, na religião, etnia e não temos mais tempo a perder falando com generalização e normatizando a violência”, explica Viviane.

Colocando isso na prática, ela exemplifica que mulheres negras vão lidar não apenas com o sexismo, mas ao mesmo tempo com o racismo e, dependendo da idade, o etarismo também entra em jogo.

É por isso que a formação dos agentes de segurança que atendem essas mulheres realmente precisa vir de base. “É isso o que vai impactar porque são eles que estão lidando com as pessoas no dia a dia Trazer a formação da interseccionalidade para entender as especificidades, nós somos um estado plural e precisamos pensar, trazer provocações para que isso impacte no atendimento”.

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