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Comportamento

Para recomeçar a vida, jeito é perder o medo e aprender língua do zero

Alunos de curso oferecido pela Uems são introduzidos na língua para que consigam se integrar culturalmente

Por Aletheya Alves | 12/11/2023 07:30
Marianny e Amaureany começaram a frequentar as aulas neste semestre. (Foto: Juliano Almeida)
Marianny e Amaureany começaram a frequentar as aulas neste semestre. (Foto: Juliano Almeida)

Marianny Mendoza e Amaureany Camacho chegaram ao Brasil sem saber nada de português, assim como Mabel Sanchéz. Enquanto isso, Michael Sandor veio usando uma mistura com o espanhol. Hoje, os alunos integram as turmas de português da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) Acolhe e contam sobre como conseguir aprender o português significa mergulhar na cultura brasileira.

Aos 18 anos, Marianny deixou a Venezuela para trás sonhando com uma nova vida, já que as esperanças de viver em seu país foram esgotadas com as repressões do cenário político. A mesma justificativa foi narrada por Amaureany e por Mabel, ambas do mesmo país.

Pensando sobre a diferença entre suas histórias e lutas, as três mulheres se esforçam para narrar em português aquilo que continuam sentindo em espanhol. Matriculada no nível básico, Marianny explica que chegou ao Brasil sem saber português, não entendia nenhuma palavra.

“Vim com minha família. Minha irmã já tinha vindo e depois nós viemos”, conta a jovem. Sem conseguir terminar o período escolar na Venezuela, ela conta que seu objetivo é retornar para as aulas e depois pensar no que fará.

Isso porque sem o idioma utilizado por aqui, nem mesmo concluir o básico é possível. “Antes, preciso aprender a falar o português”, diz.

O cenário de Amaureany, que já consegue se comunicar melhor, passa por uma formação que não consegue usar no Brasil. Formada em Administração da Venezuela, por aqui ela trabalha na área da limpeza.

Amaureany conta que sua maior dificuldade ao chegar foi o idioma. (Foto: Juliano Almeida)
Amaureany conta que sua maior dificuldade ao chegar foi o idioma. (Foto: Juliano Almeida)

“Consigo entender o que falam, mas precisa ser um pouco mais lento. Vocês falam muito rápido, isso é o mais difícil”. Por trabalhar com brasileiros, ela detalha que tem conseguido se aprimorar na língua, então o curso veio para preencher lacunas.

Sonhando em poder voltar a trabalhar em sua área de formação, Amaureany também dedica grande parte do seu tempo às leituras. “Eu sei as legislações e como funciona na Venezuela, mas não sei como é aqui. Preciso aprender tudo isso”.

Ainda sem saber como prosseguir, ela explica que as sugestões recebidas foram de fazer cursos em geral ou tentar validar seu diploma por aqui. “Mesmo não trabalhando com Administração, não reclamo. Vim para dar uma vida melhor para meus filhos”.

Mabel, por sua vez, deixou sua profissão como professora de espanhol na Venezuela. Sobre sua vinda, ela conta que o filho já tinha se mudado para o Brasil e, por estar sozinha no outro país, foi chamada por ele.

“Como sou professora de espanhol, sei que preciso aprender o idioma daqui para me relacionar, para entender a cultura de Campo Grande”, diz Mabel. Por isso, ela passou pelo nível básico e hoje está no nível intermediário.

Sobre as maiores dificuldades no sentido de aprender o novo idioma, a professora detalha que palavras parecidas com o espanhol geral confusão. Como exemplo, ela cita as similaridades entre vassoura e basura (lixo).

Mabel veio da Vezenuela e Michael dos Estados Unidos. (Foto: Juliano Almeida)
Mabel veio da Vezenuela e Michael dos Estados Unidos. (Foto: Juliano Almeida)

Mas, apesar das dificuldades, Mabel pontua que não há reclamações até por estar matriculada no curso. “A diferença entre aqui e lá (Venezuela) é muito grande. A liberdade é muito maior”, resume.

Em um contexto totalmente diferente, Michael Sandor, que veio dos Estados Unidos, se matriculou no curso como uma forma de “limpar o espanhol do português”, em suas palavras. Casado com uma brasileira, ele narra que os dois vivem entre idas e vindas pelos dois países, mas seu objetivo tem sido o de pedir pela naturalização.

“Eu aprendi o espanhol como uma segunda língua, então comecei a aprender o português a partir dele. O problema é que você comete muitos erros, principalmente para conjugar verbos e isso se torna uma trap (armadilha)”, explica Michael.

Antes de entrar no curso, o aluno já falava português, mas a mistura com o espanhol era ainda mais intensa. “Quis começar a aprender em um curso formal. Também procuro por vocabulário, estudo em casa e tento mexer no celular em português”.

Uems Acolhe - Coordenador do programa, João Fábio Sanches Silva explica que o Uems Acolhe está presente em seis cidades diferentes e, especificamente em Campo Grande, há seis polos. “Nesse segundo semestre, estamos com 14 turmas diferentes de aula de portguês como língua de acolhimento, atendendo quase 400 pessoas”.

Assim como as aulas gerais, os cursos são iniciados semestralmente com os níveis de básico, intermediário e avançado. “Temos alunos que não falam nada de português, então são direcionados para o nível de acolhimento, se a pessoa já sabe algo, vai para um nível um pouco melhor”, diz.

Hoje, as nacionalidades mais atendidas são venezuelanas e haitianas, como explica o professor. “No curso, nossa abordagem é a comunicativa intercultural, então o foco é na comunicação oral. Queremos que eles consigam se comunicar em língua portuguesa o mais rápido possível”.

Para mais informações sobre o Uems Acolhe, é possível acessar o perfil no Instagram @uemsacoilhe e através do site www.uems.br/pro-reitoria/proec/UEMS-Acolhe.

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