Pedrão pendura bicicleta no teto para lembrar como venceu na vida
Caloi comprada com 1° salário em 1973 é o maior orgulho do aposentado e dos filhos, que até choram com a cena
Famoso entre os amigos e na Vila Margarida como Pedrão, o aposentado Pedro Ney Pereira da Costa, de 65 anos, lembra como se fosse hoje, a primeira vez que segurou o primeiro salário que ganhou nas mãos.
Era um menino, tinha recém-completado 18 anos e sentia o coração bater forte ao pensar em crescer na vida. Naquele dia, ele não pensou duas vezes e correu até uma loja de bicicletas. Saiu de lá com uma Caloi novinha, que virou transporte e anos depois, símbolo de conquistas.
Por isso, nem que alguém pedisse ele teria coragem de retirar a bicicleta já enferrujada, que está há 15 anos pendurada no telhado da varanda de casa. “É a minha relíquia, foi com ela que eu cresci e venci na vida”, diz todo orgulhoso.
Enquanto gira uma das rodas, ele confessa: “Estou aqui me segurando para não chorar, passa um filme na cabeça da gente”.
A esposa Fátima Franco Siqueira, de 58 anos, com quem é casado há 31 anos, aparece segurando celular nas mãos e, visivelmente emocionada, registra cada detalhe da entrevista para contar aos filhos.
Ela é quem lembra que, apesar dele segurar o choro, a filha nunca consegue. “Quando ela senta nessa mesa e olha para a bicicleta, ela chora e se emociona, conta para todo mundo que foi com essa bicicleta que o pai dela batalhou muito na vida.”
E foi mesmo! A Caloi comprada em 1973 fez Pedrão pedalar aproximadamente 20 quilômetros por dia para ir e voltar do trabalho. Em 1978, ele começou como faxineiro no jornal Correio do Estado e se aposentou depois de 23 anos de ofício, passando por diferentes setores.
Corumbaense, em Campo Grande, ele e Fátima moraram em diferentes bairros da cidade. Nem quando viveu no Aero Rancho, lugar que naquele tempo era considerado distante, ele abriu mão da bicicleta. “O jornal tinha carro naquela época para me levar, mas eu gostava da bicicleta, era uma forma, também, de me exercitar”.
E nessa trajetória, ele quase perdeu sua maior companheira. Quando decide contar a história, ele arranca risadas e tem gente que quase não acredita. Cerca de três anos depois de comprar a bicicleta, Pedro lembra que a emprestou para um irmão ir comprar pão. No entanto, a Caloi foi furtada no quintal de casa.
“Eu fiquei muito indignado e chateado, então, resolvi ir reclamar para o meu avô, que naquela época, vivia lá em Bandeirantes”, lembra.
Ao chegar na cidade vizinha, Pedro quase não acreditou. “Passei em frente a uma casa e lá estava ela, a minha bicicleta”. Ele sabia que não teria como se enganar, porque carregava no bolso o documento da bicicleta, onde constava o número de série.
“Foi então que eu cheguei à casa do homem e fiz uma oferta para comprar a bicicleta. Só que antes, eu sugeri da gente ir à delegacia para registrar a compra e o tal de Gaúcho caiu nessa história. Na delegacia, mostrei o documento ao escrivão e pedi para ele conferir, então, vimos que era realmente a minha bicicleta.”
Pedro recuperou a bike e voltou feliz da vida para casa. Passou anos trabalhando e pedalando. Foi com ela que sempre conseguiu sustentar a família e realizar o sonho de ter a casa própria ao lado de Fátima.
“Em 1998, decidimos financiar essa casa que vivemos hoje. Eu economizei tanto que consegui quitar ela na metade do prazo. Passamos momentos difíceis, mas foi a nossa maior conquista.”
Ele recorda que nunca havia comido uma picanha, quando separou R$ 50,00 para comprar o corte e celebrar a quitação da casa naquele tempo. “Também consegui dar educação para os meus filhos e ver os dois formados. Isso é o meu maior orgulho”, celebra.
A esposa confirma e diz que foi com ele que aprendeu a dar maior valor à bicicleta. “Eu lembro que minha filha dava aulas de reforço e íamos de bicicleta até às aulas, eu ficava esperando e depois, voltávamos juntas para casa”, recorda.
Hoje, com as bicicletas aposentadas, tudo o que casal gosta de fazer é admirar e ver como todo esforço valeu a pena. “Foi fácil? Não foi. Mas temos uma família unida, filhos de bom coração e eles são tudo para a gente”, diz Fátima, toda orgulhosa e sorridente.
Já Pedro olha para a bicicleta até hoje com um olhar apaixonado e diz que já tirou ela duas vezes do telhado, só para dar umas voltinhas no bairro. “Para matar a saudade e nunca esquecer o quanto ela me ajudou.”
O casal tem dois filhos, um neto e agora, batalha para realizar outro sonho. “Queremos vender a casa e morar no interior. Sou corumbaense, minha vida sempre foi na tranquilidade do campo, então, quero ir morar em um local mais tranquilo. Estamos pensando em Três Lagoas”, finaliza Pedro, também, cheio de sorrisos.
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