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Comportamento

Preconceito fez João ouvir que cegueira impediria vida na música

Há dez anos,o rapaz investe na vida como produtor musical e DJ em Porto Murtinho

Aletheya Alves | 16/08/2023 06:55
Há 10 anos, João ouviu que nunca conseguiria trabalhar com música por não enxergar. (Foto: Reprodução)
Há 10 anos, João ouviu que nunca conseguiria trabalhar com música por não enxergar. (Foto: Reprodução)

Quando ainda não tinha chegado nem nos 15 anos, João Pedro Ruiz ouviu que seria incapaz de aprender a trabalhar como DJ por não enxergar. Dez anos se passaram e, graças à vontade própria e apoio de pessoas próximas, ele conta que hoje está acostumado a sentir a surpresa de quem só descobre sua baixa visão depois que os eventos acabam.

De Porto Murtinho, o rapaz de 23 anos conta que começou a sonhar com a vida na música ainda criança. Quando tinha 5 anos, ganhou o primeiro violão da mãe e, desde então, não parou mais.

Explicando que seu resíduo visual é baixíssimo, ou seja, praticamente não enxerga, João narra que começou a sentir o preconceito ainda muito cedo. E, apesar de sempre ter lidado bem com o fato de ser uma pessoa com deficiência, os comentários externos vão longe.

Citando que um dos comentários mais estranhos e ruins que recebeu ainda hoje é fonte de motivação, ele detalha que seu desejo de trabalhar como DJ e aprender sobre os equipamentos também veio cedo.

“Eu estava querendo aprender a mexer com os equipamentos e um DJ da minha cidade foi até minha casa para ver o equipamento, falar sobre. Chegando lá, o que ele disse foi que eu nunca conseguiria tocar e mexer com aquilo e foi por preconceito mesmo”, diz João.

Sem nunca ter esquecido as palavras, ele comenta que decidiu passar ainda mais tempo estudando até conseguir aprender, mesmo sem ajuda de profissionais. Pensando em quando ainda era criança, o apoio que já existia foi o bastante.

Antes de se interessar por música eletrônica, João explica que chegou a ter uma pequena banda e aprendeu a tocar teclado. “Tive essa introdução graças a um amigo que ouvia muito hip hop e eu sempre quis saber como os beats eram feitos. Foi nessa época que pedi os equipamentos para a minha mãe, mas era tudo muito caro”.

Hoje, ele trabalha na área cultural e conta sobre desafios. (Foto: Divulgação)
Hoje, ele trabalha na área cultural e conta sobre desafios. (Foto: Divulgação)

Apesar da família não conseguir comprar o maquinário, uma amiga de sua mãe resolveu investir no sonho. “Ela se chama Zuleima, me deu o equipamento de presente e foi aí que comecei a treinar”, diz.

Hoje, João, ou DJ J K, vive da música sendo DJ, produtor musical e iniciou um caminho com uma pequena agência de publicidade e propaganda. “A baixa visão nunca me atrapalhou, até porque eu sempre tive pessoas que colocaram meu trabalho na frente de tudo isso. Algumas colocam a limitação que existe nelas em mim, mas não cabe”.

E, especificamente pelo ramo em que trabalha, ele brinca que sentir a surpresa alheia é algo recorrente. Assim como outros músicos e DJs, João usa óculos escuros em suas apresentações, mas o motivo só é conhecido posteriormente.

“Tem gente que acha que sou arrogante ou que é só estilo, algo assim. Quando descobrem que eu trabalho, sou DJ, faço os eventos e não enxergo, ficam bastante surpresos”.

Para acompanhar os trabalhos de João e os próximos projetos, seu perfil no Instagram é @dj_jkofc.

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