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Comportamento

Professor adapta cartelas de bingo para cego se divertir com autonomia

Gesto de professor emocionou quem participou do bingo

Por Jéssica Fernandes | 21/12/2023 07:32
Ismac promoveu primeiro bingo beneficente na última sexta-feira. (Foto: Arquivo pessoal)
Ismac promoveu primeiro bingo beneficente na última sexta-feira. (Foto: Arquivo pessoal)

Pela primeira vez alunos e ex-alunos do Ismac (Instituto Sul Mato-Grossense para Cegos) Florivaldo Vargas viveram a emoção de um jogo de bingo. A experiência foi completa, desde ‘cantar’ as pedras a disputar os melhores prêmios graças à inclusão e iniciativa de um professor.

O gesto foi tão significativo que levou uma das participantes do bingo solidário a fazer um relato sobre e publicar nas redes sociais. No Facebook, Érika Cheres Zoaga, de 35 anos, compartilhou dois vídeos de alunos jogando bingo.

Na postagem, ela conta que normalmente o jogo só funcionaria com um acompanhante sem deficiência visual. “Até então nós, pessoas com deficiência visual, não poderíamos participar do bingo a não ser levando uma pessoa que enxerga para preencher a cartela, o que pra mim e muitos dos meus colegas não teria graça nenhuma”, explica.

Veja o vídeo:

O que mudou o rumo dessa história e deixou muita gente feliz foi a atitude do professor Marcos Roney Pinho Cabrera, de 54 anos. Ele trabalha no Ismac há 27 anos onde já exerceu diversas funções, sendo uma delas estar à frente do bingo beneficente. Aliás, a edição da última sexta-feira (15) foi a primeira do instituto e teve como finalidade arrecadar fundos que serão revertidos para a mesma.

Ao Lado B, ele fala como fez para que todos conseguissem participar ativamente do bingo. “Eu peguei a cartela original, ampliei, coloquei os números em braille em cima dos originais, as linhas em relevo. Fiz em dois tipos, uma com base de metal para ser marcada com imã e a outra com base de EVA para ser marcada com alfinete”, esclarece.

Com experiência em adaptações de materiais, o professor não teve dificuldades em montar o bingo. O melhor foi ver a turma de alunos, ex-alunos e outros convidados jogando animada durante quatro rodadas.

O professor fala que o sentimento foi satisfatório e que isso demonstra o quanto a inclusão faz a diferença. “Pra mim é mais uma satisfação do trabalho que a gente faz. Mostrar que isso é possível, funcional, que eles conseguem e que só tem essa essa questão da igualdade mesmo. A partir do momento que você proporciona isso, essa é a verdadeira inclusão”, ressalta.

A autora da publicação, Érika, também conversou com o Lado B sobre o bingo. Ex-aluna do Ismac, ela comenta que nunca teve oportunidade de jogar e ficou na expectativa para saber como o professor tinha adaptado o jogo.

“Eu nunca havia jogado antes, inclusive eu detestava bingo por conta que todos diziam que não tinha como adaptar para a gente com deficiência visual. Quando fiquei sabendo que o professor Marcos ia adaptar a cartela fiquei muito feliz e curiosa para ver como seria. Nunca tinha tido contato com uma cartela de bingo. Achei incrível a forma com que ele fez e as adaptações que ele nos ofereceu”, diz.

Ela reforça que a simples atitude do professor é algo que faz a diferença e é significativo para quem o quanto a acessibilidade faz diferença. “O evento foi incrível e a sensação de poder ser incluída em um evento da sociedade é sem tamanho. Eu nunca vou cansar de agradecer ao professor Marcos pelo que ele fez. O que para muitos parece não ser nada  para nós pessoas com deficiência visual teve um significado incrível”, pontua.

Benilce de Araujo Lourenço, de 42 anos, nasceu com deficiência visual e sempre acompanhou de perto a animação de bingo. Antes da semana passada, ela só tinha participado com o apoio de outra pessoa marcando a cartela.

Segundo Benilce, poder sozinha comandar o próprio jogo pela primeira vez foi muito mais legal. “Estar ali brincando de igual para igual, brincando junto com todas as outras pessoas, podendo marcar, ficar naquela empolgação, na expectativa de saber qual pedra vai sair não tem preço”, destaca.

Apesar de não ter conquistado nenhum prêmio, a ex-aluna do Ismac fala que a maior vitória foi poder viver a experiência. Ela também elogia a atitude do professor.

“Eu não ganhei nada, nenhum brinde, mas ganhei a oportunidade de estar ali brincando com total acessibilidade, me sentindo realmente parte do evento. Acho que isso não tem preço. Realmente foi um momento ímpar, onde partiu da vontade, da compreensão, do esforço de um profissional que trabalha há bastante tempo com uma pessoa deficiente visual”, pontua.


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