Projeto para pacientes reforça que beleza existe mesmo com câncer
Ao todo, 10 voluntárias são capacitadas para ensinar automaquiagem a quem faz tratamento no Hospital de Câncer
O impacto foi grande ao se olhar no espelho sem cabelos, sobrancelhas e com 11 quilos a mais. A mudança aconteceu depois que a pedagoga Lidiane Aparecida da Silva, de 46 anos, começou a fazer tratamento contra câncer de mama.
Após enfrentar várias sessões, ela é uma das primeiras mulheres em acompanhamento e tratamento médico no Hospital do Câncer Alfredo Abraão a participar do projeto 'De Bem Com Você - a Beleza contra o Câncer', que começa nesta segunda-feira (19). O objetivo é resgatar a autoestima de mulheres em tratamento oncológico. O projeto será desenvolvido em parceria com o Instituto Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos).
Ao todo, 10 voluntárias serão capacitadas para ministrar oficinas mensais, com os 12 passos da maquiagem, desde preparação da pele e hidratação do rosto até uso do blush e batom. Cada oficina vai contar com 12 pacientes, e cada mulher será presenteada com um kit completo de maquiagem, com direito a produtos de higiene e pincéis, além dos cosméticos.
Para mulheres como Lidiane, a iniciativa significa reconhecer que há beleza após o diagnóstico. Resgatar a autoestima ao lado de mulheres que compartilham da mesma luta significa unir forças.
Apesar de o apoio familiar ser indispensável em um momento de tanta fragilidade, a jornada de quimioterapias, radioterapias, cirurgias e internações pode ser muito solitária para a mulher em tratamento oncológico. "A caminhada tem essa dor solitária, mesmo tendo todo o apoio. Tem dias que a gente chora escondido, mas a grande maioria dos dias a gente vai tentando ficar forte".
A coordenadora do projeto em Campo Grande, Laudicéia Melgarejo, 49 anos, foi a responsável por recrutar as maquiadoras voluntárias para ensinar a automaquiagem para as pacientes. Ela mesma já havia passado pelo tratamento de câncer de mama na unidade e agora faz acompanhamento médico.
Laudicéia destaca que a ação é necessária para ajudar a resgatar a beleza e o bem-estar das pacientes. Alinhar a saúde psicológica e autoestima ao tratamento é essencial para que elas consigam passar pelos momentos difíceis se sentindo acolhidas e cuidadas.
É mostrar que existe beleza pós-diagnóstico. A beleza não está só nos cabelos e na sobrancelha que caiu. A beleza vem de dentro, então primeiro você tem que se sentir bem. E você vai conseguir lutar mais contra essa doença. O bem-estar é remédio para o tratamento também, explica a coordenadora do projeto em Campo Grande, Laudicéia Melgarejo.
A maquiadora Raíssa de Araújo, 31 anos, é uma das voluntárias e considera a oportunidade um aprendizado. Ativa nas redes sociais, onde publica sobre seu trabalho, ela foi indicada para o projeto por uma colega de profissão que viu as postagens. Revelando estar ansiosa, Raíssa relembra que perdeu clientes para o câncer e agora terá a oportunidade de ajudar mais mulheres na jornada pelo resgate da autoestima.
Eu já tive clientes que perdi para o câncer, tenho certeza que eu vou ficar muito emocionada. A gente tem que ser forte nessas horas, passando essa energia positiva para elas. Vai ser maravilhoso. É gratificante proporcionar isso para essas mulheres, a gente sabe que a autoestima faz toda a diferença para uma mulher, declara a maquiadora Raíssa de Araújo.
O diretor-presidente da Abihpec, Cláudio Viggiani, explica que o projeto já existe no Brasil há mais de 10 anos e agora estreia em Campo Grande com o apoio do Hospital do Câncer. Viggiani observa que ao passar pelo tratamento, as mulheres sofrem um grande impacto na aparência, e o momento exige atenção especial.
Através das oficinas, o diretor-presidente espera que as mulheres possam voltar a gostar do que veem no espelho, e que o momento de troca com as voluntárias e outras pacientes proporcione um ambiente de socialização. "Ao readquirir a sua autoestima, sua autoconfiança, há um impacto, não só positivo na sua vida, como também na resposta ao tratamento, porque nessa hora é muito importante esse reforço emocional".