Quando filho nasceu, tio teve certeza de que amor por sobrinho é igual ao de pai
Em 2017, fará 12 anos que os papeis trocaram e, de tio, Marcelo Victor virou pai de João Pedro
Marcelo é o pai de João Pedro desde que fez pela primeira vez a barba do sobrinho, ainda aos 2 anos de idade. Um acidente de carro levou o pai biológico do menino quando bebê. O apelo da mãe, irmã de Marcelo, para que ficasse em Campo Grande, deu a ele a responsabilidade de ser a figura paterna em que João iria se espelhar.
Em 2017, fará 12 anos que os papeis trocaram e, de tio, Marcelo Victor virou pai. O fotógrafo tinha trocado Mato Grosso do Sul por São Paulo para estudar e se dedicar ao trabalho, devido ao mercado de oportunidades de lá. Depois do acidente que matou o cunhado, ele veio passar férias durante o recesso da empresa em que já trabalhava na área da fotografia. Para onde nunca mais teve coragem de voltar.
"Eu ia voltar no começo do ano para São Paulo quando a minha irmã pediu para eu ficar mais um pouco, porque na época tinha só ela e minha mãe. Meu pai perdeu a visão. Ainda brincava com ele, mas não conseguia fazer outras coisas", lembra Marcelo, de 35 anos.
O pedido da irmã foi para que o tio ensinasse o que pudesse ao sobrinho. "Eu fiquei, a gente até brincava. Eu fazia a barba minha e a dele também. Passava espuma, tirava a minha e a dele. Para isso, virava a gilete", recorda.
Ao descrever as primeiras histórias de pai e filho, Marcelo parece que volta à cena de um espelho com um garotinho ao lado, em pé num banquinho. "A gente começou a brincar. Minha ideia era sempre de voltar, mas o tempo foi passando e eu não consegui mais", explica.
João Pedro foi o primeiro neto a chegar trazendo felicidade para toda família. "Teve aquele amor, eu já amava ele num relacionamento de sobrinho. Quando eu vim de São Paulo, ficava junto o dia inteiro, então foi crescendo o sentimento", justifica.
Ao longo dos anos, quem conviveu com o fotógrafo sabia dos compromissos inadiáveis dele. Não tinha pauta que segurasse Marcelo quando depois de certo horário João Pedro tivesse uma partida de futebol.
O carinho entre os dois era tão grande que, se ninguém se atentasse ao vocativo "tio", Marcelo e João eram pai e filho. "Ele vai ver meu treino e minhas competições sempre, só quando não dá", diz João Pedro Diogo, às vésperas de completar 13 anos.
O tio concorda. "Desde o primeiro treino eu vou. Ele entrou no futsal tinha 4 anos, era bem pequenininho, não sabia nada", conta.
Os costumes e gostos de um foram passados para outro como quem herda preferências do pai. "O João Pedro assistia vídeo de rodeio e sabia quem ia cair do boi ou não, que era coisa do pai dele. Com o tempo, ele começou a pegar coisa minha, a querer jogar bola e torcer para o Corinthians", exemplifica o fotógrafo.
Quando viu, João Pedro já estava até usando os mesmos palavrões do tio na hora do videogame. "E eu não podia nem ficar bravo, porque a culpa era minha", brinca Marcelo. "Eu também comecei a andar de skate e jogar futebol por causa dele. Fotografia? Só faço às vezes, quando está todo mundo em família, num domingo", conta.
Ser visto como referência fez com que Marcelo enxergasse a relação com mais seriedade. Até o quinto ano de João, quando a escola fazia festinha de Dia dos Pais, era o tio quem ia. "Então ele é um pai pra mim", resume. "Isso dele fazer o que eu faço sempre me deu uma responsabilidade maior, de que eu tenho que passar algo para ele", descreve o tio.
Marcelo sempre ouviu que, apesar de todo amor que ele sentia pelo sobrinho, o sentimento de pai e filho seria diferente. Coisa que ele só ia saber quando se tornasse pai. Murilo veio há dois anos para provar.
"Isso que eu sinto pelo João Pedro é amor de pai e filho. As pessoas diziam 'ah, o dia que seu filho nascer, você vai saber...' Não, cara, quando o Murilo nasceu eu tive a certeza de que aquele foi o mesmo sentimento. Quando eu vi o Murilo não foi um amor maior, foi o mesmo que sinto pelo João Pedro".
Curta o Lado B no Facebook.