Quando tia preferida morreu, ficou aniversário dividido como lembrança
Ducleia tinha Naninha como sua tia querida: dela, ganhou inúmeras festas e bolinhos compartilhados; agora, saudade é o que fica
Desde que Ducleia Clarindo da Cruz tinha 15 anos, a tia Ana Lacerda constituiu uma tradição especial com a sobrinha para todo 6 de fevereiro: comemorarem o aniversário juntas. Nascidas no mesmo dia, foi por causa dela que na época a adolescente aprendeu a gostar tanto de cantar parabéns ao lado de sua "Naninha". "Era o único momento que eu não sentia vergonha", relembra a assistente educacional inclusiva, hoje com 43 anos.
Uma semana antes da celebração de 2021, a tia se antecipou e assoprou pela última vez a chama da vida. Agora, somente as fotografias reveladas durante os anos e o coração de Ducleia traduzem o sentimento de saudade. Por mais que seja grande, daqui em diante a data compartilhada não será motivo de tristeza, mas sim um consolo.
Sempre conselheira, quase que uma segunda mãe, foi ela quem me ensinou a celebrar a vida. Assim continuarei fazendo", promete.
Vítima de um câncer, tia Naninha se despediu aos 95 anos – tempo que a sobrinha considera como "bem vivido". Na última década, as duas já não assopravam a vela juntas, porém Ducleia jamais se esquecia de telefonar para a tia querida, dar os parabéns e demonstrar um pouco de carinho.
"Ela sempre esteve presente nas minhas lembranças. Mesmo que não estivéssemos fisicamente uma ao lado da outra, pelo menos um telefonema era de praxe eu dar. Em casa, nunca deixei de comemorar pelo menos com minha filha. Na hora de cortar o bolo, pensamento estava em Naninha. Tudo isso é até hoje minha forma de agradecimento", revela.
Nas palavras da sobrinha, a tia era festeira e tinha um brilho diferenciado. Quando criança, Ducleia tinha a casa de Naninha como uma "válvula de escape", onde podia fazer visitinhas, almoçar, brincar, curtir a tarde. Do passado, a lembrança mais forte é realmente sua festinha improvisada de 15 anos. Ao lado de Ana, foi a primeira vez que elas marcaram a tradição do parabéns a dois – na época, junto também do primo Carlos Magno, que também comemorava aniversário no dia 6 de fevereiro.
A história é a seguinte: família de Ducleia estava apertada de grana e, para que não passasse "de jeito nenhum" batido, tia Naninha pegou os sobrinhos e juntaram todos na hora do parabéns.
"A gente adolescente fica sem graça, constrangido dessas situações. Mas ela era muito querida, deixava a gente à vontade. Se eu pudesse, eu diria mais vezes o quando eu a amava e que ela era uma pessoa muito especial. Eu agradeço demais por termos participado uma da vida da outra", confessa.
Devido a pandemia de covid-19 e sua filha apresentar quadros periódicos de bronquite asmática, Ducleia não participou do velório e enterro da tia, um sentimento que ela tenta ao máximo deixar para trás – "mas é difícil não poder se despedir de quem a gente ama", diz.
Agora que a tia se foi e os aniversários não serão mais em "dupla", cabe vez ou outra a sobrinha relembrar os tempos de nostalgia. "Joguei uma foto no Facebook outro dia e marquei todo mundo, uma época de felicidade imensa festejar e cairmos na brincadeira".
Como ainda é algo muito recente, a ficha do falecimento da tia ainda não caiu. Entretanto, o próximo aniversário não há de escapar do calendário. Para Ducleia, assoprar a velinha em 2022 vai ter um novo significado: manter as recordações vivas que tia Naninha tão bem proporcionou.
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