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Comportamento

Quem cresceu pantaneiro quer ver gente sendo mostrada de verdade

Taynara se dedica a reforçar que mais do que bichos e plantas, Pantanal tem gente com força que resiste

Por Aletheya Alves | 16/09/2024 07:15
Taynara decidiu atuar como voluntária no Instituto de Pesquisa e Diversidade Intercultural. (Foto: Arquivo pessoal)
Taynara decidiu atuar como voluntária no Instituto de Pesquisa e Diversidade Intercultural. (Foto: Arquivo pessoal)

“Cresci andando à cavalo, brincando em corixos, pescando. A aproximação com as comunidades tradicionais foi natural, de vivência. Não os vejo como diferentes de nós, são meus vizinhos, compadres e comadres que, como nós da área rural, testemunharam a transformação do Pantanal em algo que enche nosso coração de tristeza”, descreve a educadora social e pesquisadora Taynara Martins de Moraes. Decidida a destacar as narrativas de quem vive (e faz) o Pantanal, a mirandense escolheu estudar, ensinar e se voluntariar em ações que mostrem os povos sul-mato-grossenses reais, bem distantes de visões caricatas.

Antes da história de Taynara vem a de seus avós, ambos migrantes que precisaram fugir da Guerra do Paraguai. Sua bisavó era do povo guaicurus corrientinos e vivia na divisa entre Corrientes e o Chaco, “ali mesmo na fronteira ela conheceu meu avô, que era paraguaio”.

Durante a guerra, os dois se mudaram para o Brasil e não retornaram mais. “Nossa história com o Pantanal Sul começou na fazenda Pau Arcado que virou a Caiman. Então eu tenho esse longo histórico de vivência em zona rural”, diz.

Pesquisadora conta que decidiu ouvir as mulheres do Pantanal em sua dissertação. (Foto: Arquivo pessoal)
Pesquisadora conta que decidiu ouvir as mulheres do Pantanal em sua dissertação. (Foto: Arquivo pessoal)

Mesmo tendo se mudado para Bonito há algum tempo, ela faz questão de reforçar que continua sendo mirandense. Isso porque as brincadeiras sob árvores, “aventuras no meio do mato” para encontrar locais de pesca e seu desenvolvimento, tudo foi por lá.

Orgulhosa das origens e sem nunca ter pensado em abandoná-las, Thaynara explica que decidiu unir o carinho pela região à ciência. Foi assim que nasceu a dissertação de mestrado “Vozes que decolonizam o saber: as narrativas insurgentes de mulheres do Pantanal Sul sob o olhar dos Estudos Culturais”.

Como ponto de partida, a pesquisadora tomou como incômodo a noção que as pessoas de fora tem sobre o Pantanal.

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É como se fossemos uma selva sem gente. Quando queima, a primeira preocupação são os bichos. E eu até entendo, a natureza é linda e precisa ser preservada. O que me incomoda é a narrativa construída para o Pantanal que ignorou por gerações a pluralidade cultural da região. Então, nas imagens, em novelas, textos acadêmicos, em comerciais do turismo, sempre as mesmas figuras: os bichos e os peões. O homem pantaneiro virou o "peão" e parece que não existe nada além disso dentro dessa narrativa”.

Em sua pesquisa, quem entrou em foco foram as mulheres pantaneiras, aquelas que existem, trabalham e costumam ser ignoradas. Thaynara voltou para Miranda e entrevistou cinco mulheres, sendo uma indígena, uma ribeirinha da ponte do Miranda, uma pequena agricultora e uma cozinheira aposentada (comadre de sua família e conhecida desde a época em que viviam nas fazendas do fundo do Pantanal).

No estudo, o objetivo era escutar cada uma e entender suas visões sobre a região, suas memórias e comparar com o processo de colonização.

Foi a dissertação que conectou Thaynara ao seu voluntariado no Ipedi. Denise Silva, a responsável pelo instituto, foi uma das avaliadoras da banca do mestrado e convidou a pesquisadora para atuar conjuntamente.

Para ela, o incômodo que já tinha se uniu com o de Denise.

No Pantanal tem gente, por quais razões essa gente continua sob a sombra de uma visão colonial? Por quais razões estes povos foram mantidos nessa condição de subalternidade por tantas décadas? A desigualdade, a falta de oportunidade, tudo causado por uma invisibilidade que não faz jus ao poder cultural deste território. Não faz sentido”.

Com o texto completo, seu desejo é que as pessoas que estudem sobre a região consigam ter acesso a essa narrativas, “histórias reais do Pantanal que não cabem num roteiro de novela”, completa. (Para acessar a dissertação, clique aqui)

Voltando para o voluntariado, a pesquisadora participou da escrita de projetos e nesse caminho é que a Bruaca, negócio de impacto socioambiental, saiu dos sonhos para ser realidade com inscrições no Centelha e edital da Fundect.

“Ambas inscrições foram contempladas. E enfatizo a participação no Centelha, pois foi a oportunidade de colocar os povos do Pantanal em evidência. Desde então, atuo como voluntária prestando suporte técnico sempre que é preciso”.

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