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Comportamento

Ritual na mata chama para um olhar sem preconceito em cima da Umbanda

Paula Maciulevicius Brasil | 05/12/2019 08:38
Momento da consagração do cajado, objeto de força dentro da Umbanda. (Foto: Rafael Silva)
Momento da consagração do cajado, objeto de força dentro da Umbanda. (Foto: Rafael Silva)

A curiosidade sempre moveu o Lado B, em especial para as cenas que mostram o diferente. No final da semana que passou, membros da Tefima (Tenda Espiritualista Filhos de Maria) foram para uma mata em Terenos, município que fica a 30 quilômetros de Campo Grande, para uma gira em meio à natureza. As fotos chamam atenção para um olhar simples e despido de preconceito em cima de uma religião 100% brasileira.

Se engana quem diz que a Umbanda é de matriz africana. E uma conversa com o zelador do terreiro, Xisto Queiroz Junior, desmistifica muita coisa. São 18 membros que fazem parte do templo, a quem Xisto chama de "filhos". 

"Como a gente é uma religião de culto à natureza, então vez ou outra vamos até alguns pontos de natureza. Dentro do templo tentamos fazer a releitura de algo que acontece na natureza para trazer aquela energia para dentro da casa. Quando nós vamos até a mata, fazemos o oposto, e é muito importante porque estamos em contato direto com a natureza. Rio, mata, pedra, que são os pontos de força dos nossos orixás. A gente entende que Deus se manifesta de várias formas e cada uma delas é um orixá, então temos esse hábito de ir para os lugares onde esses orixás são os patronos", explica. 

Fotos chamam a atenção para um olhar despido de preconceito em cima da religião. (Foto: Rafael Silva)
Fotos chamam a atenção para um olhar despido de preconceito em cima da religião. (Foto: Rafael Silva)
Ao fundo, Xisto, zelador da Tefima. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ao fundo, Xisto, zelador da Tefima. (Foto: Arquivo Pessoal)

A gira na mata é uma ritualística tal qual a missa é para o católico, pelo menos é essa a comparação que Xisto faz para explicar. Foi um dia inteiro de programação entre desenvolvimento mediúnico, oferendas e consagração do cajado, uma das cenas registradas em fotografia, em que os membros giram ao redor do objeto, cada um segurando uma fita. "O cajado é um objeto de força usado pelo Caboclo, que é o chefe da casa. Então ali não é só um adorno, é a força, é por onde ele consegue manipular energia", conta Xisto. E as fitas coloridas representam cada linha de trabalho dentro da religião.

O sentimento vivido ali depende muito de como cada membro chegou à mata, mas de maneira geral, o zelador quis com essa gira tirar o pessoal da chamada zona de conforto e mostrar que a Umbanda não é só terreiro. "Você pode ser umbandista em qualquer lugar que estiver, desde que você se conecte", frisa.

Desde maio os membros esperavam por esse dia, que envolveu também oferenda ao orixá obaluaê, de pipoca. "E cada médium que incorporou o Preto Velho acendeu uma vela em agradecimento", completa o zelador. 

Xisto tem 32 anos de vida e o mesmo tempo de umbandista. Nasceu no terreiro da família e já é a quarta geração à frente de um templo, sendo responsável por tudo o que acontece dentro da tenda, dos rituais à parte espiritual da casa. A Tefima segue a linha da maioria dos terreiros, que vem de família. "Eles começam dentro de casa, na cozinha, varanda, na sala. Tem muitas histórias de terreiros que no dia da sessão, se tira o sofá da sala, chamam os guias... A nossa história começa num quartinho 2 por 3 e vem crescendo nos últimos 40 anos", narra.

Oferenda de pipoca para orixá e velas acesas fez parte do ritual. (Foto: Arquivo Pessoal)
Oferenda de pipoca para orixá e velas acesas fez parte do ritual. (Foto: Arquivo Pessoal)

Neto e filho de zelador, ele se tornou um em 2016, com a abertura do seu terreiro e fala, sem distinguir o lado teológico do sentimental, o que é a umbanda para si. "Não tem como separar. Na visão teológica, é uma religião 100% brasileira, de cunho mediúnico que resgata algumas raízes do povo negro, indígena, do próprio branco. Seu objetivo é a mediunidade. Ela não visa a conversão de ninguém, tanto que quem é adepto da Umbanda foi porque veio por necessidade e acabou se sentindo tocada por aquilo e quis fazer parte", acredita. 

Surgida em novembro de 1908, com o advento do cabloco das sete encruzilhadas, em Niterói, no Rio de Janeiro, a Umbanda, pelo outro lado, é a vida de Xisto. "Eu não seria quem eu sou, porque a minha história está embutida. Nasci em 1987 e o terreiro já tinha alguns anos. Conforme fui crescendo, fui me envolvendo dentro do contexto. Não lembro de um momento importante da minha vida que não seja dentro de terreiro. São 32 anos de vida e 32 de religião", relata. 

A Tefima funciona quinzenalmente aos sábados e é aberta ao público. Com atendimento gratuito e por ordem de chegada, por questão de organização a casa distribui fichas. "É como uma igreja, um templo budista, para quem tiver interesse ou necessidade de buscar", explica Xisto. A Tefima fica na Rua José Oliva, 212, e também tem página no Facebook

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Na visão teológica, a Umbanda é uma religião 100% brasileira, de cunho mediúnico que resgata algumas raízes do povo negro, indígena, do próprio branco. (Foto: Arquivo Pessoal)
Na visão teológica, a Umbanda é uma religião 100% brasileira, de cunho mediúnico que resgata algumas raízes do povo negro, indígena, do próprio branco. (Foto: Arquivo Pessoal)
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