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Comportamento

Rolling Stones passaram por aqui e escreveram música no Pantanal?

Paula Maciulevicius | 30/05/2014 06:24
Lenda, boato, ou fato, a história da vinda de Mick Jagger e Keith Richards só ganhou mesmo credibilidade depois de publicada a biografia “Vida”, do guitarrista. (Foto: Getty Images)
Lenda, boato, ou fato, a história da vinda de Mick Jagger e Keith Richards só ganhou mesmo credibilidade depois de publicada a biografia “Vida”, do guitarrista. (Foto: Getty Images)

Por muito tempo foi lenda urbana a história de que a banda Rolling Stones havia passado por aqui e se hospedado em uma fazenda do Pantanal, quando o Estado ainda era um Mato Grosso só, no final da década de 60. Detalhes sempre rolaram de boca em boca, sem um registro oficial. O caso que poucos ainda conhecem foi em parte confirmado depois de publicada a biografia “Vida”, de Keith Richards, guitarrista da banda, em 2010.

Esta semana, quando o Lado B quis resgatar esse episódio, procurou um dos que sempre insistiram na informação, o músico Geraldo Espíndola. Ainda jovem, ele jura ter visto Mick Jagger e Keith Richards quando eles saiam do Hotel Campo Grande. Na época, contou a todos, mas não foi levado muito a sério. Depois de mais de 40 anos, veio o livro de Keith e a confirmação. 

Na biografia, o guitarrista diz que, em dezembro de 1968, ele, a namorada Anita Pallenberg, Mick Jagger e a namorada Marianne Faithfull, saíram de navio de Lisboa para o Rio de Janeiro. "Pensamos: Vamos dar um pulo no Rio e vamos pelo velho estilo”, justificou.

Foram 10 dias em alto-mar até de lá virem para "Mato Grosso", relata Keith. Na época, segundo os relatos, a passagem já estava programada e nem a gravidez da companheira de Keith, anunciada durante a viagem, mudou os planos dos roqueiros.

"É, bem... que ótimo! Fiquei muito contente, mas não queríamos interromper a viagem naquela altura. Estávamos indo para o Mato Grosso", conta. A namorada de Mick voltou para a Inglaterra e Keith, Anita e Jagger seguido para cá, com planos de depois chegarem ao Peru, entrando pela Bolívia.

Não há detalhes sobre por onde passaram, a única indicação é de que os dias mais marcantes foram em uma fazenda. “Ficamos alguns dias numa fazenda, onde Mick e eu compusemos 'Country Honk', sentados numa varanda como caubóis, pés no parapeito, fazendo de conta que estávamos no Texas. Era a versão country do que se transformou no single 'Honky Tonk Women' quando voltamos à civilização".

No livro, Keith comenta que nunca esqueceu da experiência. "Decidimos distribuir 'Country honk', alguns meses depois, no fim de 1969. Foi composta num violão acústico e me lembro do lugar porque cada vez que dava descarga no banheiro apareciam uns sapos pretos pulando — uma imagem interessante”.

Mas a maioria acredita que houve na verdade uma confusão de Keith entre Mato Grosso e a cidade de Matão, no interior de São Paulo, onde é publica a passagem dos dois em 1969.  Há, inclusive, um documentário sobre os 15 dias que a dupla ficou por lá, na Fazenda Boa Vista, então propriedade do banqueiro Walther Moreira Salles, onde, oficialmente, Mick e Keith escreveram a canção Country Honk.

Ao que tudo indica, a canção realmente não foi gerada aqui. Mas sobre a aparição dos astros do rock mundial, Geraldo não muda de ideia, garante que o músico não errou na localização e os Rolling Stones também tiveram como destino o Mato Grosso. 

Ele sustenta a mesma história há anos. “Eu encontrei eles na saída do Hotel Campo Grande. Eu estava saindo de um curso que fazia no Lúcia Martins Coelho (escola), de pontes e estradas", lembra.

O músico fala detalhes de uma ocasião surreal. "Era umas 10h30 da noite. Eu vi um Galaxy preto saindo do hotel, na 13 com a Dom Aquino. Eles baixaram o vidro e o Mick Jagger falou ‘hey guy’ e mostrou a língua. Ele e o Keith Richards”, descreve.

Geraldo ainda afirma que eles vinham muito para cá, para se hospedarem na "Fazenda dos Ingleses". “Eles vieram várias vezes nesta época e numa dessas eu fui premiado. De ver o Mick Jagger a três metros de distância”, comenta.

Depois, ficou sabendo que não era a única testemunha da história e que a passagem por Campo Grande teve inclusive parada de madrugada dos Rolling Stones, para abastecer em um dos postos mais movimentados da época, no Centro da cidade.

Mas como naquela época não era nada comum uma máquina fotográfica na mão, ninguém acreditou no que Geraldo contava ter visto. A reação sempre foi de surpresa, claro. “Eu já era músico, gostava, então para mim foi uma surpresa muito grande. Eu cheguei a falar para a Lenilde, o Simões e todos os meus amigos, mas todo mundo dizia que era mais uma do Geraldo. Mas era nada, eu vivo da minha memória”, destaca.

Se eles também passaram por aqui, não há qualquer registro oficial, mas na época frentistas contaram ter abastecido o carro dos músicos. Há cerca de 10 anos, a banda também divulgou uma mapa musical das passagens pela América do Sul que contemplava essa região do antigo Mato Grosso.

Mick Jagger, a esposa Marianne Faithfull, Anita Pallenberg e o namorado Keith Richards durante viagem ao Brasil em 1968.
Mick Jagger, a esposa Marianne Faithfull, Anita Pallenberg e o namorado Keith Richards durante viagem ao Brasil em 1968.

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