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Comportamento

Se no dia a dia sexo ainda é tabu, imagine para os cegos

Ainda tem gente que enxerga o cego como “anjinho”, incapaz de ter uma vida sexual ativa

Bárbara Cavalcanti | 06/09/2021 07:20
Cássio em entrevista sobre o dia a dia e a diversão para uma pessoa com deficiência visual. (Foto: Paulo Francis)
Cássio em entrevista sobre o dia a dia e a diversão para uma pessoa com deficiência visual. (Foto: Paulo Francis)

Falar de sexo ainda é tabu. Sexo e deficiência visual então, em maioria, é menos conversado ainda. Entre muita falta de informação sobre o assunto, em unanimidade, as pessoas com deficiência visual que conversaram com o Lado B garantem: o sexo é o mesmo e o que vai fazer a experiência ser boa é comunicação e intimidade do casal, não a visão ou falta dela, mas nem sempre isso é fácil.

O conselheiro tutelar Cássio Roberto Gomes Silva, de 26 anos, explica que o estereótipo mais comum atrelado a quem não vê, é que são pessoas praticamente “assexuadas”, criadas em especial pelas próprias pessoas com visão.

“Existe muito isso de colocar esses indivíduos como “anjinhos”, que não têm qualquer desejo sexual. Isso é pior ainda com as meninas e mulheres. É um problema em vários sentidos, porque, por exemplo, eu sou uma pessoa mais tranquila para conversar sobre essas coisas, então, eu não teria problema em chegar em uma farmácia e pedir ajuda ao atendente na hora de escolher uma camisinha. Mas e quem não consegue?", questiona.

Cássio destaca, por exemplo, que preservativos masculinos e nem femininos não são vendidos com braile. E isso também é um detalhe que acaba afastando a pessoa com deficiência visual da autonomia e vida sexual.

A psicóloga Marelija Zanforlin Magdalena, de 37 anos, comenta sobre a ideia de que o sexo sem visão é melhor. “Acho que isso é muito mais uma fantasia sexual de quem enxerga do que a realidade. Tem toda aquela sensualidade de vendar os olhos, essas coisas. Já ouvi alguns relatos de amigos em que mulheres que se relacionaram com cegos ficaram mais desinibidas, porque eles não enxergavam. Mas em maioria, o que existe mais é colocar a pessoa com deficiência visual como um “anjinho” mesmo", explica.

“A visão é um sentido muito imprescindível na nossa vida. Até na nossa fala, a gente usa muito “Você viu?” até para coisas que não se veem. Quando acaba a visão, pelo menos, eu tenho a sensação, é de que parece ser a pior coisa que pode acontecer com a pessoa, parece que é a pior coisa do mundo”, acrescenta.

Marelija em espetáculo contemporâneao com audiodescrição. (Foto: Arquivo/Thailla Torres)
Marelija em espetáculo contemporâneao com audiodescrição. (Foto: Arquivo/Thailla Torres)

Marelija perdeu a visão já na fase adulta, então, teve as duas experiências, de transar com a visão intacta e depois cega. “A primeira vez que me relacionei depois que perdi a visão, foi estranha”, ri. “Não foi ruim não, mas foi estranho, eu não consigo nem descrever de outro jeito. Ele também estava sentindo, ficava um pouco sem ação, sem saber o que fazer. Mas é porque no final das contas, o que faz mesmo a experiência sexual ser boa é a intimidade e o conhecimento do próprio corpo”, detalha.

A preocupação de não saber o que fazer e a falta de conversa e conhecimento sobre todo o assunto é a principal causa de muitas pessoas que enxergam não se relacionarem com cegos, de acordo com a opinião de Marelija. Reforça que a conversa aberta sobre sexo e sexualidade é importante para todos, especialmente, para as mulheres.

A acadêmica Sara Silva dos Santos, de 22 anos, é cega de nascença e teve uma experiência diferenciada de poder conversar com naturalidade sobre sexo em casa desde sempre.

“Minha mãe sempre conversou comigo sobre isso, então, eu nunca tive isso de não poder falar. Às vezes, as pessoas ficavam com receio de falar sobre o assunto comigo, mas é muito mais pela falta de informação mesmo do que qualquer outra coisa. Não é um bicho de sete cabeças, a pessoa, ela só não enxerga. Essa falta de informação é pior, inclusive, pra quem vê mesmo, porque quem não enxerga sabe como é. Ter mais informação a respeito deixa tudo muito mais tranquilo”, expressa.

E para falar do assunto no Dia do Sexo, celebrado hoje (6), uma palestra com tema "Prazer, meu nome é sexo!" será transmitida a partir das 19h de MS, pelo Google Meet. Você pode conferir informações pela página no Instagram (clique aqui)

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