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Comportamento

Sem medir amor, pais correram para adotar criança com deficiência

Quando o telefone tocou, nada foi capaz de mudar o amor que João e Izabel sentiram naquele momento

Bárbara Cavalcanti | 12/08/2021 06:59
Izabel e João, com o filho adotivo João Filho, dizem que o amor só se multiplicou desde que ele chegou. (Foto: Marcos Maluf)
Izabel e João, com o filho adotivo João Filho, dizem que o amor só se multiplicou desde que ele chegou. (Foto: Marcos Maluf)

A manicure Izabel Lopes da Silva Souza, de 52 anos e o aposentado João da Silva Souza, de 56 anos, têm orgulho em dizer que são pais de João da Silva Souza Filho, de 7 anos. Depois de complicações após nascer prematuro e não ter tido assistência médica imediata, João tem microcefalia e paralisia cerebral. Izabel diz que antes mesmo de conhecer João, não se importava com qualquer coisa que ele tivesse. “A caminho do hospital, eu já disse: “Não importa a cor, doença, deficiência ou tamanho desse menino. Eu sei que ele vai ser meu filho”, explicou.

A adoção é um assunto tratado com muita naturalidade na família. Dos cinco filhos do casal, apenas três são biológicos e já tem até um neto por adoção. “Quem só coloca no mundo é genitor, pai e mãe é quem ama e cuida”, reforça o pai. Mas João chegou na vida dos dois de maneira inesperada.

Na camisa do pai, a foto de todos os filhos. (Foto: Marcos Maluf)
Na camisa do pai, a foto de todos os filhos. (Foto: Marcos Maluf)

“Nós éramos padrinhos em um projeto social com crianças com HIV, de um menininho de 9 meses. Nos apegamos muito a ele, e, então, resolvemos fazer o curso de adoção especificamente para conseguir adotá-lo. Mas os avós biológicos entraram com o pedido de guarda e, então, não pudemos ficar com ele”, detalha Izabel.

Ao contar a história da criança, Izabel se emociona e chora. “É que mesmo ele não tendo ficado muito tempo com a gente, nos apegamos muito a ele. Eu sofri muito naquela época e até hoje sinto muita falta dele”, expressa.

Apesar de serem familiarizados com o processo de adoção, o casal não entrou na fila de espera, uma vez que o objetivo era apenas adotar o outro bebê. O curso ficou “parado” por quase três anos, até que um dia, no local de trabalho, Izabel ouviu falar de João. “A juíza era minha cliente e me contou de um menininho na Santa Casa que precisava de um colo de mãe, pois tinha nascido prematuro”, detalhou.

Então, o casal foi encontrar João. “Ali, eu já sabia que ele ia ser meu filho, eu já estava decidida", expressou. E foi dito e feito: Izabel diz que quando chegou no hospital, pegou João no colo, lhe deu um cheiro, virou para o marido e disse: “Eu não vou deixar ele aqui não”.

João sorri com os pais por perto. O casal reforça que ele é sorridente e carinhoso. (Foto: Marcos Maluf)
João sorri com os pais por perto. O casal reforça que ele é sorridente e carinhoso. (Foto: Marcos Maluf)

“A médica ficou muito tempo conversando com a gente sobre o estado clínico dele. E nos alertou que não tínhamos obrigação de nada e que tínhamos que estar preparados, pois ele podia morrer a qualquer momento. Já tinham vindo casais antes de nós, inclusive, com condições financeiras melhores, mas decidiram não ficar com ele. Mas a gente decidiu que ele seria nosso filho, independente”, explicou João.

Todo processo foi longe de ser fácil, mas desde que João chegou na família só espalhou amor. O casal relata que filhos, sobrinhos, familiares, todos se mobilizaram para receber João com enxoval e presentes. “Quando João chegou, minha filha já tinha uma filha com mais ou menos a mesma idade de João. Como ela amamentava, ela foi mãe de leite de João por um tempo também. Ele é muito querido de toda a família”, reforça Izabel.

Além disso, pouco tempo depois dele ter chegado, João pai relata precisar se afastar do serviço por causa de problemas de saúde. Mas a família não deixou faltar nada para os três e João é o queridinho da família.

“Toda a família abraçou a causa, isso foi incrível de ver. Todos amam muito João desde que ele chegou”, ressalta Izabel.

João foi adotado com poucos meses de vida e é o xodó de toda a família. (Foto: Marcos Maluf)
João foi adotado com poucos meses de vida e é o xodó de toda a família. (Foto: Marcos Maluf)

Desde então, a família vem conquistando uma melhor qualidade de vida para João aos poucos. Ele ainda precisou passar por vários procedimentos médicos, mas com a ajuda de toda a família, conseguiu atendimento até fora do estado.

Mas João é saudável. “Meu filho não precisa usar sonda, não tem nenhum problema de saúde grave, não precisa mais ficar entrando e saindo do hospital, graças a deus. Meu filho é uma benção”, acrescentou Izabel.

E João é risonho e presta atenção em tudo o que todos falam ao redor. Os pais coruja relatam com maior orgulho como João se diverte com os primos quando junta todas as crianças, como ele gosta de assistir futebol e UFC. “O que ele gosta mesmo é da narração”, comenta o pai. Durante a entrevista, Izabel colocou um vídeo para tocar e a reação de João foi toda de risadas e gritos de felicidade.

“Fomos chamados de loucos. Uma pediatra olhou e falou pra gente que a gente tinha sido enganado, que tínhamos adotado um vegetal, que ele ia ficar em cima de uma cama. Hoje, meu filho está atento a tudo, reage e memoriza sons ao seu redor, ri, come bem, brinca. E ele é muito carinhoso e sentimental, quando alguém chora perto dele, ele chora junto. Vegetal faz isso? E meu filho não é coitadinho não, ele lutou, passou por muita coisa, porque quando ele nasceu, ele estava sozinho e não tinha ninguém para socorrer ele, mas ele não é coitadinho não”, ainda expressa João.

“Não é fácil, mas é muito amor envolvido, sabe? Pra cuidar de um filho é isso que precisa, não é só condição financeira abastada não”, ainda acrescenta Izabel.

Foto de João em um evento com o sorriso estampado no rosto fica na parede da sala. (Foto: Marcos Maluf)
Foto de João em um evento com o sorriso estampado no rosto fica na parede da sala. (Foto: Marcos Maluf)

E no final das contas, João acabou também salvando os pais. Trouxe à mãe consolo e o pai força para lidar com os problemas de saúde. “Hoje, eu sei que ele consegue viver sem mim. Mas eu não consigo viver sem ele. É uma conexão diferente, sabe? Como ele ainda não sabe falar, a gente sempre precisa estar atento, então, tem uma coisa de reconhecer no olhar. Mas não é só porque ele depende mais da gente não, quando a gente se olha, eu sinto que o sentimento é mútuo”, comenta João.

E ainda diz que compra a briga por qualquer criança com deficiência e por acessibilidade. “O que a gente gosta de ver, é João brincando com as outras crianças, com deficiência ou não. Na escola, antes da pandemia, tem dias que ele chegava aqui com os dedos todos pintados e todo feliz. Porque é assim que tem que ser mesmo, todo mundo brincando junto”, reforça.

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