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Comportamento

Sem uma perna, Edimar quer dançar a dois com o amor que a vida trouxe

A cadeira de rodas não impediu que ele desacreditasse na vida, mas bem que a esposa deu um empurrãozinho nessa história de amor

Raul Delvizio | 13/09/2020 07:10
Casal Edimar e Janeti em momento "love" (Foto: Marcos Maluf)
Casal Edimar e Janeti em momento "love" (Foto: Marcos Maluf)

Imagine só você acordar e descobrir que não tem mais parte de sua perna. Isso aconteceu com Edimar, não uma, mas duas vezes. Um corte no pé foi o bastante para o tétano agravar e culminar na amputação parcial, abaixo do joelho. Dois anos mais tarde, uma nova infecção, e não teve mais jeito: retirou-se o que restava do membro direito. A história poderia parar por aí, ser só tristeza e desânimo. Mas eis que surge Janeti para temperar sua vida. Não só ambos encontraram o amor, mas Edimar redescobriu o viver.

Moravam os dois na pequena cidade de Bela Vista. Frequentavam os mesmos espaços, bailes, tinham amigos em comum. Mas não se conheciam, não sabiam o nome um do outro. Talvez até tivessem a impressão de já terem cruzado caminho. Mas isso só foi acontecer mesmo anos mais tarde, em dezembro de 2019, aqui na Capital.

"Nem tudo é mar de rosas, e nem precisa ser para dar certo mesmo" (Foto: Marcos Maluf)
"Nem tudo é mar de rosas, e nem precisa ser para dar certo mesmo" (Foto: Marcos Maluf)

"Nos cruzamos num baile de aniversário do radialista Osmar Soares. Como nós dois somos belavistenses e temos muitos amigos em comum, passou no meu Facebook um vídeo dele dançando na cadeira de rodas com uma conhecida. Resolvi deixar uma mensagem de solidariedade na publicação. Passou pouco tempo ele me respondeu, deu uma fuçada no meu perfil e ainda mandou mensagem de papinho pra cima de mim", brinca a diarista Janeti Lima.

A investida bem que deu certo. "Ela me passou o WhatsApp. Ficamos conversando direto, nos conhecendo virtualmente. Nessa época ela trabalhava como cuidadora de idosos, chegava em casa lá pelas 23h. Mas eu já ficava a postos pra fazer a ligação. Teve até dia que o telefonema acabou com a gente dormindo durante a conversa", relembra Edimar.

Edimar mostra sua altura de 2,1 m quando usa as muletas (Foto: Marcos Maluf)
Edimar mostra sua altura de 2,1 m quando usa as muletas (Foto: Marcos Maluf)

Os dois garantem que só tinham interesse pela amizade. Marcaram de se conhecer pessoalmente junto a um grupo de amigos. "Até então eu não sabia que ele era aquele cara dos bailões de Bela Vista". Até mesmo porque Edimar não tinha mais a imponência de seus 2,1 metros, estava limitado ao sentar de uma cadeira. "Aquela vez que a gente se conheceu, eu estava num momento mais debilitado, recém operado pela segunda vez, voltei a estaca zero. Estava magro, mal cuidado, diabético, com anemia e tudo", confessa.

Amizade foi crescendo, e Janeti não deixou de incentivá-lo para que ele voltasse a ocupar a mente. Começou a fazer mais, ajudar na casa dele com a faxina, até preparando uma comidinha boa. "Nisso a gente foi se envolvendo de vez, e ele me pediu em namoro. Mas o negócio do belavistense é mais rápido", caçoa. Início de dezembro se conheceram, final já engataram o namoro e março do ano seguinte a união estava oficializada.

Contraste na diferença de altura entre o casal (Foto: Marcos Maluf)
Contraste na diferença de altura entre o casal (Foto: Marcos Maluf)

"Nossa vida não é um mar de rosas, e nem é isso que eu quero. Temos estresse, quebramos o pau, mas no final das contas a gente se ama e se respeita. E eu não dou tudo na mão dele, não, aqui não tem ninguém coitadinho". Sobre isso, Edimar agradece a sinceridade da esposa. "A pior coisa que tem pra uma pessoa com deficiência é ser tachado de coitado. Tem certas coisas da vida que só estando do outro lado que a gente realmente entende".

Um só par – Nos passos da vida se encontraram, e mesmo com a pandemia, dança está no coração dos dois. "Eu amo dançar. Me sinto livre e desejado, tá no meu sangue. Mesmo com a cadeira de rodas, se deixar eu danço mesmo". Janete dá logo o aviso: "agora ele é obrigado a só dançar comigo. Até entrei em aula de dança para ver se eu melhoro o meu ritmo". A última vez dançaram juntos foi em um baile na Colônia Paraguaia, mas isso antes do covid chegar.

"Com ela, minha vida voltou a ter sentido", declara Edimar (Foto: Marcos Maluf)
"Com ela, minha vida voltou a ter sentido", declara Edimar (Foto: Marcos Maluf)

E falando sobre a pandemia, Edimar aproveitou e fez uma declaração de amor à fiel companheira. "Nem imagino passar essa pandemia toda sozinho, sem perspectiva alguma. Simplesmente ela virou meu pilar de sustentação, uma amizade, um amor, minha vida. Com ela, minha vida voltou a ter sentido", reconhece.

"Nada na vida é por acaso. Casamento pra mim era a última coisa que eu queria saber. Mas às vezes as coisas de Deus vem de forma engraçada pra gente. Não nos conhecemos em Bela Vista mesmo nascidos e criados lá, para só então nos 'reencontrarmos' 20 anos depois. E juntos, vamos dividindo esse aprendizado", finaliza Janete. Se tudo na vida vem com algum significado, só o amor entre eles dois saberá dizer a resposta.

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Antes magro e abatido, Edimar reencontrou a vontade de viver quando conheceu o amor e contou com o apoio da esposa Janete (Foto: Arquivo Pessoal)
Antes magro e abatido, Edimar reencontrou a vontade de viver quando conheceu o amor e contou com o apoio da esposa Janete (Foto: Arquivo Pessoal)


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