“Sofrimento explodiu”, diz sul-mato-grossense que vive a 80 km da guerra
Natural de Corumbá, Akram Affaneh disse que o conflito entre israelenses e palestinos deve aumentar
Natural de Corumbá, município distante 428 km de Campo Grande, o sul-mato-grossense Akram Affaneh, de 46 anos, está longe de casa, na Palestina, em meio a uma guerra e já tomou lado em um conflito que parece não ter fim. Na avaliação dele os conflitos entre israelenses e o Hamas, movimento islâmico que domina a Faixa de Gaza e invadiu Israel por terra, são uma resposta dos palestinos aos recorrentes ataques de Israel e tentativas fracassadas de acordos de paz entre os dois países após décadas de negociações.
Ao Brasil, a última visita foi em 2017. Pai de dois meninos e uma menina, todos menores, o brasileiro retornou ao país de origem dos pais com 17 anos e, atualmente, vive na cidade de Ramallah, distante cerca de 80 km da área de conflito e a 20 km de Jerusalém.
“Escutamos os bombardeios, estrondos dos mísseis e as sirenes de aviso, temos muitos levantes populares em apoio aos palestinos e após 70 anos, o sofrimento explodiu, por isso os palestinos ocuparam e aprisionaram os israelenses”, destacou Affaneh, que trabalha para o governo palestino na área de TI (Tecnologia da Informação). Segundo ele, após alguns avanços do Hamas em terras israelenses, os palestinos veem a situação se inverter e muitos dizem que estão “voltando para casa”.
Questionado sobre a situação atual dos conflitos, o brasileiro disse que a tendência é de que as coisas piorem nos próximos dias em razão da entrada do grupo Hezbollah, organização política e paramilitar fundada no Líbano, nos conflitos.
“É o mais forte que já vi. O lado palestino está em uma situação de desespero, com a oficialização da guerra pelo governo de Israel, chegamos a um divisor de águas, o confronto vai escalar nos próximos dias”, disse.
Nesta segunda-feira, o governo de Israel convocou cerca de 300 mil reservistas para atuar na área de conflito. “Olhamos pra isso com receio, a convocação de militares da reserva quer dizer que é uma guerra duradoura”, frisou o sul-mato-grossense.
De acordo com Affaneh, a convocação de militares da reserva por parte de Israel é preocupante visto que a Palestina não possui uma organização estatal de militares, como é no Brasil e, segundo ele, a defesa dos territórios palestinos cabe a grupos e milícias armadas basicamente formadas por voluntários.
Sem vínculos familiares no Estado, o brasileiro possui apenas um primo no Rio Grande do Sul e vive com a família na Cisjordânia. No Brasil, foi parte da Comissão Eleitoral da Palestina nas eleições gerais de 2010 e integrou uma conferência entre brasileiros e palestinos há seis anos.
Números - O número de vítimas após os ataques no sábado passa de 1,2 mil. No final da tarde deste domingo (8), foram retirados mais de 250 corpos no local onde ocorria um festival de música eletrônica.
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