Sorriso inabalável de Mariza já tirou muito aluno do 'fundo do poço'
Próximo à Uniderp, estacionamento é diversão da mulher que conquista carinho dos universitários desde 2000
O estacionamento improvisado próximo à universidade Uniderp é pequeno demais para o alto astral e a simpatia de Mariza Luiza Alves, 62 anos. Desde 2000, ela cuida dos carros de alunos que a ajudaram a conquistar casa e até um sorriso novo. Sorriso que já tirou muito aluno do 'fundo do poço', que viu nela uma inspiração para seguir em frente
No trabalho, para proteger os veículos e motos dos estudantes, Mariza já foi esfaqueada e sofreu um acidente, em que precisou colocar pino na perna. Ambos os casos não tiraram a alegria da mulher que pretende continuar trabalhando no local enquanto a saúde permitir.
É com o sorriso estampado no rosto que Mariza recebe os acadêmicos e também a equipe de reportagem. Usando boina e óculos escuros, a mulher de estatura baixa tem estilo próprio e muita personalidade.
Campo-grandense, ela morava em São Paulo com os filhos e retornou para a cidade natal após ficar viúva. Desde então, há 23 anos, Mariza é guardadora de carros com muito orgulho e alegria.
Ela conta como começou na profissão e que durante alguns anos cuidava dos veículos no período noturno. “Comecei a cuidar de carro lá na Exposição, gostei de cuidar carro, de lá fui pro Parque das Nações Indígenas e aí me chamaram pra vir pra cá. Morei lá naquele prédio, era o 21 embaixo, ali era abandonado e eu morava dentro. Era o prédio do seu Túlio. Ai eu morava lá e cuidava do carro dos guris à noite”, diz.
Nos últimos anos, ela passou para o período da manhã. De segunda a sexta, Mariza chega no estacionamento às 5h30, onde fica até o último aluno sair às 13h. É usando as frases ‘Vai com Deus, minha princesa’, ‘Falou, meu gurizinho’, ‘Vai com Deus, meu amor’ que a guardadora de carros vai seguindo o expediente e distribuindo carinho.
O carinho que sente pelos estudantes é acompanhado pela gratidão que Mariza expressa em lágrimas. Com o apoio dos acadêmicos, ela conseguiu a casa própria no Bairro Caiobá, além de realizar duas cirurgias.
“Eu coloco os carros das meninas aqui e não cobro nada. Elas que me dão. Já ganhei minha casa, meu sorriso, meu olhar que fiz a cirurgia da catarata. Os alunos aqui são tudo de bom”, afirma.
Emocionada, a guardadora de carros comenta que algumas pessoas seguem a apoiando mesmo não estando mais na instituição. Ela cita como exemplo uma ex-aluna. “Tem uma fisioterapeuta, foi aluna e todo mês deposita dinheiro pra mim. Me ajuda muito, a Cris. Todas as meninas me ajudam de coração”, fala.
Quem vê Mariza esbanjar simpatia e palavras carinhosas no cotidiano não imagina as situações de risco que vivenciou no estacionamento. Nenhuma delas a abalou. Orgulhosa, afirma ter colocado fim na ‘malandragem’ que transitava na região.
“Levei facada aqui, porque vieram pra tomar retrovisor e levei 14 pontos. Tem um pino aqui porque vim correndo e cai. Espantei todos os malandros daqui. Graças a Deus não tem nenhum”, ressalta.
Ao contrário do que se pode imaginar, a facada não tirou a coragem da mulher que tem menos de 1.65 metro de altura e ainda assim diz brigar de igual para igual.
“Eu sei o carro de quem é quem aqui. Se eu vejo alguém perto já vou lá porque sei que não é dono. No começo eu tinha cisma, mas depois vi que era tudo molecada e falei: ‘Se vir pra cima, vai levar também’. Depois que levei a facada e vi muito sangue perdi o medo”, fala.
O estacionamento é a segunda casa e a diversão de Mariza que contabiliza o tempo que trabalha no lugar pelas pessoas que viu se formar. “Já vi vó, mãe sair formada e agora tô cuidando das filhas, tem netas aqui estudando”, explica.
Ao falar das estudantes, Mariza se emociona e vai além citando cada mulher que faz parte da vida dela. No fim manda beijo pra mãe, filhas, netas, sobrinhas e as mulheres que são amigas e trabalham nos terminais da cidade.
No Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta quarta-feira, 8 de março, Mariza manda beijo para todas as ‘princesas’ e ‘guerreiras’ que conhece.
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