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Comportamento

Tatuagem liberta Lorena do passado e põe ponto final no abandono

Coração eternizado no antebraço é forma que ela achou para recomeçar a vida sem mágoas e agradecer família adotiva pelo amor

Alana Portela | 08/06/2020 06:35
No antebraço de Lorena França está a tatuagem de um coração. (Foto: Henrique Kawaminami)
No antebraço de Lorena França está a tatuagem de um coração. (Foto: Henrique Kawaminami)

O coração tatuado no antebraço é a forma que Lorena França encontrou para se libertar do sentimento de abandono do passado. Com traços finos, a tatuagem revela a delicadeza da história, que envolve duas famílias e um bebê, e coloca um ponto final no sofrimento. Agora, após 23 anos, ela finalmente pode recomeçar a vida sem mágoas.

“Essa foi uma maneira que encontrei para conseguir me expressar e deixar tudo pra trás. Faz um tempo que queria fazer uma tatuagem, mas não sabia o que faria, fiz três tatuagens de uma vez, porém o coração engloba tudo”, diz ela.

Lorena tem 23 anos, é uma estudante simpática e alegre, que resolveu abrir o coração para o Lado B. Para falar sobre a tatuagem, ela volta no tempo e se recorda da época que era um bebê, quando foi informalmente adotada.

Sorrindo, Lorena agora consegue falar sobre a nova fase da vida. (Foto: Henrique Kawaminami)
Sorrindo, Lorena agora consegue falar sobre a nova fase da vida. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Minha mãe biológica precisava de alguém para cuidar de mim. Ela e minha família adotiva se conheciam há muito tempo. Deixou-me com minha mãe adotiva Meire, e pagou por um mês de serviço. No entanto, foi me deixando, buscava um dia sim outros não e assim fui ficando”.

Os meses se passaram e como a mãe biológica parou de procurar pela filha, Lorena então foi abraçada pela nova família. “Fui adotada de forma informal. Quando era bebê, tinha problemas de saúde e minha família adotiva cuidou de mim”.

Durante o bate-papo, Lorena se lembra do momento em que chamou Meire pela primeira vez de mãe. “Estava com 5 anos de idade. Ela tinha acabado de voltar de uma viagem que havia feito para a Argentina. Quando desceu do carro, saí correndo chamando-a de mãe. Nunca esqueço”.

Lorena, ainda criança, sorrindo ao ser abraçada pela mãe adotiva, Meire. (Foto: Arquivo pessoal)
Lorena, ainda criança, sorrindo ao ser abraçada pela mãe adotiva, Meire. (Foto: Arquivo pessoal)

Foi com os pais adotivos que ela cresceu e teve a oportunidade de conhecer o amor de uma família. Contudo, apesar do carinho, nunca deixou de sentir a falta da mãe biológica. Não importava quanto os dias e meses se passavam, pois, o passado sempre voltava à tona, para assombrá-la com o sentimento do abandono.

Foram 23 anos guardando aquela sensação no peito e tentando, de todas as formas, conquistar o amor daquela que lhe deu a vida. “Tentei buscar o amor da minha mãe biológica, mas nunca consegui. Já fui rebelde para chamar a sua atenção, chorei bastante e acredito que muitas coisas que aconteceram na minha vida, foram por falta desse amor de mãe. Porém, toda vez que buscava esse carinho, ela era fria e nunca chegou a perguntar se eu estava bem”.

A falta de atenção da mãe biológica fez Lorena ter que encarar o sentimento de rejeição. Por várias vezes, ela se viu perguntando sozinha o que havia feito para isso ocorrer ou como faria para conquistar um amor que geralmente nasce quando o bebê ainda está na barriga. “Tenho mais três irmãos que são filhos dela, converso com eles todos os dias, com eles não quero nunca cortar os laços”, diz.

Lorena ao lado do pai adotivo, Ivan. (Foto: Arquivo pessoal)
Lorena ao lado do pai adotivo, Ivan. (Foto: Arquivo pessoal)

Contudo, após várias tentativas frustradas, Lorena resolveu enfrentar o sentimento de abandono e finalmente dar um basta na rejeição de uma vida. “No dia 17 de maio deste ano a ficha caiu. Realmente vi que dela não sairia nada mesmo. Então, mandei uma mensagem pedindo para não me procurar, porque tinha desistido de se aproximar”.

A decisão foi dolorida, mas também serviu para libertar Lorena de algo que não a fazia bem. “Minha mãe adotiva nunca me impediu de tentar esse amor, mas ficava mal quando me via triste. Quando contei sobre a decisão, disse para eu fazer o que achava certo”.

O apoio de Meire foi fundamental para essa nova fase de Lorena. “A relação com minha família adotiva é incrível, me sinto sortuda, pois tive o amor de uma família. Nos damos muito bem, sempre me ajudam e conversam comigo. São tudo na minha vida, me deram estrutura, saúde, carinho”, destaca.

Na semana passada, Lorena decidiu eternizar essa nova fase da vida no braço e entrou em contato com a tatuadora Malu Aguni. Foi até o estúdio e fez as tatuagens. “Vi a imagem de um coração num site da internet e decidi que era aquilo, só que mais discreto e sem cor”.

A tatuagem durou cerca de uma hora para ficar pronta e no estúdio, Lorena resolveu dividir o sentimento com Malu. “Disse que estava tatuando uma história, ela achou lindo porque o coração representa o perdão, ter um coração para perdoar e sentir”, afirma a estudante.

Depois de pronta, Lorena voltou para casa e deixou as lágrimas saírem e acabar com o peso que estava em seu coração. “Me emocionei”, recorda ela.

Agora, após colocar um ponto final na relação com a mãe biológica, a estudante está pronta para recomeçar a vida, de um jeito mais leve, sem mágoas e longe do sofrimento, deixando espaço no coração para a felicidade.

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Lorena segurando com flor amarela para combinar com a alegria que traz no peito. (Foto: Henrique Kawaminami)
Lorena segurando com flor amarela para combinar com a alegria que traz no peito. (Foto: Henrique Kawaminami)


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