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Comportamento

Todo mundo já se perguntou o que a pessoa ao lado faz fora de casa

Com comércio de portas abertas, é difícil sair de casa só para serviços essenciais e voltar sem sacolas nas mãos

Danielle Errobidarte | 14/04/2020 06:57
Pelas principais ruas do centro da Capital, comércio aberto é sinônimo de sacola na mão. (Foto: Paulo Francis)
Pelas principais ruas do centro da Capital, comércio aberto é sinônimo de sacola na mão. (Foto: Paulo Francis)

Se você percebeu o aumento do fluxo de pessoas nas ruas, precisou sair de casa para ir ao supermercado ou trabalha nos serviços liberados pela Prefeitura e acha que tem muita gente andando, não foi só impressão. O número de carros circulando, pessoas nas calçadas e o próprio movimento do comércio, aumentou. Mas será que todo mundo que vemos circulando está indo ao supermercado ou ao trabalho? O que levou as pessoas a interromper a quarentena e se arriscar nas ruas, não poderia ser feito de casa?

Quando se coloca o nariz para fora é automático se perguntar o que a pessoa ao lado está fazendo fora de casa. Nas entrevistas, todo mundo jura de pé junto que só está saindo "dessa vez", que foi a "primeira vez", "rapidinho" ou só para fazer algo "emergencial". A verdade é que enquanto julgamos o motorista ou pedestre que está nas ruas, estamos todos nos colocando em risco sem nem perceber que a gente também é julgado, e que, de fato, a maioria não precisava ter saído.

Para Eunice Cardoso, de 52 anos, ficar em isolamento não é uma opção. Enfermeira, ela não parou de trabalhar quando as medidas da quarentena foram decretadas, mas nem por isso deixou de perceber o aumento no fluxo de pessoas nas ruas. “Tem muita movimentação nas calçadas e no Centro não tem nem onde estacionar. As lojas estão controlando a entrada, mas acho um absurdo quando vejo idoso caminhando sem necessidade. Será que não tem ninguém que poderia fazer por ele o que veio fazer na rua?”, questiona.

Eunice é enfermeira e resume "saidinhas" em uma palavra: "absurdo". (Foto: Paulo Francis)
Eunice é enfermeira e resume "saidinhas" em uma palavra: "absurdo". (Foto: Paulo Francis)

Ela conta que, mesmo nos serviços essenciais como supermercados, alguns hábitos podem ajuda a evitar o contágio, principalmente do grupo de risco. “Esses dias fui ao supermercado e vi que vão famílias inteiras fazerem as compras. Precisa entrar todo mundo? Nem que fique no carro. Eu passo por algumas lojas e me seguro para não entrar, não tem necessidade”.

Irene Coutinho é dona de comércio na região central e precisou sacar dinheiro no caixa eletrônico de uma agência próximo à loja. Com medo do vírus, ela acrescentou apenas um lugar a mais na rotina: “é de casa para o trabalho e do trabalho para casa”, afirma. Ela também já presenciou cenas arriscadas de pessoas se reunindo. “Acho que dobrou o movimento da semana passada pra cá. Esses dias fui comprar alimento e vi nos altos da Afonso Pena pessoas sentadas no canteiro. A circulação está liberada para trabalho, e não para passeio. Podemos esperar mais um pouco para sair para encontrar outras pessoas”, conclui.

Natália saiu de casa porque precisou ir ao banco, mas agência já havia fechado. (Foto: Paulo Francis)
Natália saiu de casa porque precisou ir ao banco, mas agência já havia fechado. (Foto: Paulo Francis)

A auxiliar de produção Natalia Cristina Galvão, 24, e de laboratório, Tatiana Angélica Cangussu, 35, também perceberam grande movimentação nas calçadas, mas acham que “as pessoas estão saindo mais para fazerem coisas necessárias, como irem ao banco ou lotérica”. Conscientes da importância do isolamento, elas aproveitaram a ida ao Centro para comprar itens para casa, já que encontraram a agência bancária fechada. “Viemos ao banco, mas já estava fechado. Aproveitamos para comprar coisas que estavam planejadas há tempos, tudo de uma vez só, para não precisar sair de novo”.

Sem conseguir resolver pendências no banco pelo telefone, Natielite Abrauches teve de ir à agência, (Foto: Paulo Francis)
Sem conseguir resolver pendências no banco pelo telefone, Natielite Abrauches teve de ir à agência, (Foto: Paulo Francis)

Saindo de casa pela primeira vez após o fechamento do salão que é proprietária, Netielite Abrauches, de 61 anos, sabe que faz parte do grupo de risco e até tentou resolver o que precisava pelo telefone. “Minha nora tentou falar com o banco pelo telefone, mas como sou a responsável, precisei vir. Saí realmente porque precisava resolver as coisas do salão. Estamos fechados e não sei quando vamos abrir novamente. Já abriu até o camelódromo, porque as galerias não podem? E eu ainda sou do grupo de risco, mas tenho funcionários. Está todo mundo sem trabalhar”.

Apesar das medidas de distanciamento social adotadas no Estado, o Centro de Operações Emergenciais de Combate do Coronavírus constatou a transmissão comunitária do Covid-19. A forma de contágio, então, passa a não ser apenas pelo contato com outras pessoas infectadas.

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