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Comportamento

Vacilo na quarentena pode cair nas redes e você acabar denunciado

Na frase "se puder, fique em casa", quem faz parte da exceção presencia falta de empatia diariamente

Danielle Errobidarte | 18/04/2020 08:21
Movimento no centro da cidade mostra o que comerciantes e funcionários percebem todos os dias: há mais gente na rua. (Foto: Paulo Francis)
Movimento no centro da cidade mostra o que comerciantes e funcionários percebem todos os dias: há mais gente na rua. (Foto: Paulo Francis)
Perfil de Instagram recebe, em sigilo, denúncias de vacilos e faz questão de postar. (Foto: Reprodução/Instagram)
Perfil de Instagram recebe, em sigilo, denúncias de vacilos e faz questão de postar. (Foto: Reprodução/Instagram)

Nas ruas e nas redes sociais, a quarentena vem sendo desrespeitada diariamente. Os profissionais que voltaram com a reabertura do comércio, e mesmo os que não tiveram um dia sequer de isolamento, como profissionais da saúde, incluindo médicos, enfermeiros, farmacêuticos, e funcionários de supermercados, que não têm opção a não ser sair de casa, que o digam.

O Lado B foi às ruas e encontrou alguns relatos de indignação, em especial com as saídas de pessoas do grupo de risco, principalmente idosos. Por observarem o movimento das ruas, calçadas e do interior dos comércios, o aumento no número de pessoas circulando – e consequentemente no número de casos confirmados de Covid-19 – é uma realidade traduzida na frase “mas o que a gente pode fazer?”.

Com a liberação do funcionamento do comércio da região central até às 19h, o atendente Jhony Humberto, 18, fecha as portas 18h30 e demora, pelo menos, mais duas horas para chegar em casa, nas Moreninhas. “Com essa obrigação de ir todo mundo sentado, o ônibus vai cheio demais. Eu tenho que fazer um trajeto maior para chegar em casa, dar a volta no bairro todinho. Saio daqui 18h30 e chego 20h40 em casa”.

Problema de Vitória é, também, com transporte público e agora ela precisa de mais tempo até chegar em casa. (Foto: Paulo Francis)
Problema de Vitória é, também, com transporte público e agora ela precisa de mais tempo até chegar em casa. (Foto: Paulo Francis)

Vitória Oliveira, 22, compartilha do sentimento do colega de profissão. Antes da pandemia, o trajeto até o Bairro Pioneiros demorava menos de uma hora e era necessário entrar em apenas um ônibus. Hoje, a realidade mudou e ela observa a presença não só de funcionários autorizados a circularem. “Hoje demoro duas horas ou duas horas e meia para chegar em casa. O problema é ir até o terminal de ônibus, porque todo mundo sai do serviço no mesmo horário, e ainda tem o pessoal que fica passeando. Mas tem que vir trabalhar, não tem jeito”, relata.

Além do fluxo intenso no transporte coletivo, quem necessita estar nas ruas para trabalho percebe a presença de quem ainda não deveria estar ali. “Além de reduzir o número de ônibus, tem gente que não aguenta ficar em casa, principalmente idosos. Direto eles caminham aqui pela calçada. Já nós, se não viermos, não pagamos nossas contas”, resume a vendedora Bianca Moreira, 19.

Os supermercados também fazem parte da lista de serviços essenciais, que ao contrário dos outros setores durante as semanas de isolamento social mais rigoroso, percebeu o fluxo de clientes aumentar. Janaina Duarte, 22, é padeira em uma das unidades da maior rede de supermercados da Capital. Em tempos de pandemia, ela até já decorou os horários mais “perigosos” para circulação.

“De manhã cedo vai bastante gente do grupo de risco. Os idosos, eles não estão ligando, parece que não acreditam. A gente escuta muitos deles dizendo “não tem perigo, já peguei tanta coisa, não vou morrer por causa disso”. Você vê mãe com neném de colo, às vezes com máscara, mas só nelas. O que adianta se a criança está exposta? A gente tenta alertar, fazer o que”, diz Janaína.

A farmacêutica Fabiana explica que muitos remédios podem ser comprados nos bairros e não necessitam de deslocamento até a região central. (Foto: Paulo Francis)
A farmacêutica Fabiana explica que muitos remédios podem ser comprados nos bairros e não necessitam de deslocamento até a região central. (Foto: Paulo Francis)

Na farmácia onde Fabiana Paula dos Santos, 37, é gerente, a indignação é com a necessidade de compra de medicamentos que não precisariam que as pessoas se deslocassem até a região central. “Tem medicamentos que você não precisa vir ao centro para comprar. Uma dipirona, por exemplo, você acha perto na região perto da sua casa. Muitas coisas davam para serem compradas no bairro e não precisariam de pegar um ônibus para vir até aqui”.

Dos 407 atendimentos feitos até o meio da tarde, ela estima que a quantidade de compras necessárias e remédios específicos para tratamento, não chegue a metade. “Hoje atendi 407 pessoas e nem metade era essencial, que a pessoa tinha que vir aqui para comprar. 70% das pessoas que chegam não usam nem máscara. Colocamos uma faixa para não se aproximarem do balcão, mas ainda tem gente que insiste em chegar perto. Infelizmente falta empatia nas pessoas”, desabafa.

Apesar da teimosia de alguns clientes, esses funcionários seguem utilizando máscara de proteção, higienizando os balcões e repetindo sempre a mesma frase: “se puder, fique em casa”.

Reprodução de uma das denúncias da página.
Reprodução de uma das denúncias da página.

Denúncia de "vacilos" - Para denunciar informalmente aglomerações postadas em redes sociais, a conta @vacilosdocoronaem_cg foi criada e expõe fotos e vídeos de quem presencia, principalmente, reuniões realizadas após o toque de recolher. A página no Instagram tem quase três mil seguidores em três dias de criação. A autoria é desconhecida e logo na biografia é prometido "sigilo absoluto".

A pessoa responsável pelas publicações explicou ao Lado B, por direct, que a ideia é juntar humor e conscientização. O recurso é o mesmo utilizado para receber denúncias de quem desejar fazer. "A página tem o intuito de conscientizar, talvez com um pouco de humor, e lembrar às pessoas qual o real objetivo dessa quarentena, que é manter o isolamento social."

A expectativa é que, com o primeiro fim de semana de existência, o número de vídeos e fotos enviados cresça. Também existe a possibilidade do conteúdo ser deletado, caso comprove injustiças.

"Em casa" não significa fazer festinha, como mostram muitas das fotos na conta. (Foto: Reprodução/Instagram)
"Em casa" não significa fazer festinha, como mostram muitas das fotos na conta. (Foto: Reprodução/Instagram)

"Se a pessoa reclamar, a gente respeita e analisa apagar, por isso estamos evitando expor nomes. Quem pede com educação é atendido com educação, isso funciona em qualquer lugar, mas muitos já chegam ameaçando".

Denúncias oficiais podem ser feitas através do número 153, da Guarda Civil Metropolitana, ou diretamente a Vigilância Sanitária no (67) 3314-9955. A fiscalização durante o período da quarentena é feita por equipes da Semadur (Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), Vigilância Sanitária, Sefin (Secretaria Municipal de Finanças e Planejamento) e Guarda Civil Metropolitana.

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