Vida anda tão difícil, que morar na rua Pindaíba já virou piada entre moradores
Morar na Pindaíba se divide entre sonho de ir embora e pesadelo para novatos, dizem moradores
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Viver na Pindaíba pode ter inúmeros sentidos e a única certeza é que passar o endereço para alguém nunca mais será a mesma coisa. Na rua do Bairro Silvia Regina com menos de 400 metros, a maioria dos moradores chegou quando “tudo era mato”. Mesmo assim, há quem acaba de se mudar.
Com a falta de dinheiro e a penúria como significados, só mesmo o prêmio da Mega da Virada tiraria essa galera da Pindaíba. A pensionista Maria Nonato, de 72 anos, mora na mesma casa há 19 anos. Viúva pela terceira vez, chegou ao bairro com os cinco filhos já criados e apesar de tantos anos no mesmo endereço, ainda guarda o sonho de deixar a Pindaíba. “Espero que um dia eu saia da Pindaíba”, caindo na risada.
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Maria conta que não há uma pessoa sequer que não tire sarro ou ao menos pergunte mais de uma vez o nome da rua. Do banco a entrega de algum produto, sempre surge uma piadinha. “Uma vez em uma loja a atendente até me irritou, de tanto que ela achou graça”, lembra Maria.
Antes de ir parar na Pindaíba, a alagoana que chegou em Campo Grande aos 14 anos, morava com o último marido no Bosque da Saudade, bairro próximo ao Silvia Regina. Ela explica que o único truque para sair da Pindaíba é trabalhar muito. “Os moradores daqui só chegam à Pindaíba à noite. O segredo é trabalhar muito”, garante.
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A via se estende por apenas duas quadras, mas no curto trecho tem até um motel. A recepcionista Nely Oliveira, de 52 anos, mora na Capibaribe, mas trabalha na Pindaíba há 23 anos. “Todos esses anos a gente trabalha na Pindaíba, para sair da pindaíba (risos). É impossível escapar das piadas, principalmente, na hora de pedir alguma entrega”, frisa.
Aos 83 anos, outra pioneira na rua é Antônia Ramos Francisqueta Stein. Na mesma casa há 30 anos, a moradora garante que nunca encontrou uma explicação para a origem do nome, mas garante que sempre odiou.
“Ô nome feio de ficar falando, né? E olha que por aqui ninguém sabe porque ela se chama assim. Nesta rua, eu sou uma das primeiras moradoras. Era um brejo, só tinha mato. As coisas mudaram e acabei na Pindaíba até hoje”, conta.
Novatos – Entre quem vive há três décadas na Pindaíba, há quem muito tentou fugir, mas acabou encarando a realidade.
Uma delas abre seu comércio todos os dias para ganhar dinheiro em meio a Pindaíba. Enquanto conversava com o Lado B, a cabeleireira Greice Albuquerque, de 53 anos, atendia uma cliente.
“Eu morava e atendia na Júlio de Castilho e trocar a avenida pela rua do bairro foi um verdadeiro baque. Eu dizia: Não quero morar nessa rua. Mas acabei me mudando e hoje estou aqui, trabalhando para sair da pindaíba”, conta.
Há apenas dois meses na rua, a costureira Izabel Cristina Albuquerque, de 51 anos, também resistiu para não sair do Centro. A moradora confecciona roupas infantis sob medida e só de deixar a Rua Marechal Rondon já foi uma dificuldade.
“Eu enlouqueci quando fiquei sabendo o nome da rua. Não queria vir de jeito nenhum. Mas o pior de tudo isso, com certeza é deixar o Centro pelo bairro, isso é muito decepcionante”, conta.
Além dos moradores mais antigos, a reportagem não encontrou registros que expliquem a origem do nome. E você sabe o motivo desse nome?