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Comportamento

Cavalgada em grande estilo dá trabalho, mas garante conforto até no Pantanal

Paula Maciulevicius | 12/09/2012 15:33
Uma das coisas mais difíceis, define um dos patrões. É de escolher os cavalos para dar ao cavaleiro. Pesar responsabilidade com experiência ou apostar na mansidão do bicho aos quem galopam pela primeira vez.
Uma das coisas mais difíceis, define um dos patrões. É de escolher os cavalos para dar ao cavaleiro. Pesar responsabilidade com experiência ou apostar na mansidão do bicho aos quem galopam pela primeira vez.

O antes é apreensão. Ansiedade, principalmente de quem nunca fez nada parecido. O durante é de timidez, mas apenas a princípio. O receio de que esteja escrito na cara, que ali estava uma cavaleira “café com leite”. O depois é a sensação de aprendizado. Aprendeu, nem que seja bem pouco, o que é ser pantaneiro, viver como pantaneiro. Admirar e respeitar o Pantanal.

A preparação para participar de uma cavalgada leva tempo, mas nem se compara aos cinco meses de correria da organização. Nos últimos dias, já na contagem regressiva para os galopes dos cavalos, os detalhes finais de infraestrutura para garantir o conforto.

Quase um mês antes, foram erguidos os banheiros, com tábuas de madeira, tijolo no chão, boxes e vasos sanitários, iluminado e com água que saía quente. Só não era possível identificar se a temperatura da água era pelo chuveiro elétrico ou pelo calor que faz no Pantanal.

A chegada até a fazenda exige do cavaleiro um pouco de aventura. A Baía das Pedras fica a 300 quilômetros de Campo Grande, no coração do Pantanal da Nhecolândia e só é possível chegar de carro de maio a dezembro durante a época de seca.

O meio do caminho não é feito só de areia. A estrada José Coelho Lima traz a sensação refrescante do verde pantaneiro.
O meio do caminho não é feito só de areia. A estrada José Coelho Lima traz a sensação refrescante do verde pantaneiro.
No trajeto também se encontra cavaleiro assim. Andando só com os animais. Parte de uma comitiva pelas terras pantaneiras.
No trajeto também se encontra cavaleiro assim. Andando só com os animais. Parte de uma comitiva pelas terras pantaneiras.

Metade do caminho é feito na areia mesmo. Saindo de Campo Grande, se pega a estrada em direção a Rio Negro. O Corixão era o ponto de encontro dos cavaleiros que dali deveriam seguir sempre, sempre, sempre à direita.

Um caminho que só chega com carro alto, tração nas quatro rodas e com a experiência do pantaneiro. Não adianta querer se aventurar sozinho e com carro pequeno. O Pantanal também prega peças.

O primeiro trecho é de aterro. Depois só areião. No caminho, três fazendas enormes. Se durante o trajeto surgir o comentário “só faltam duas fazendas”, contabilize que ainda tem muito chão e muita porteira para se abrir pela frente.

A chegada foi durante a tarde. De pouquinho em pouquinho surgiam os cavaleiros e os respectivos protagonistas do evento. Ao todo foram 180 cavalos. A organização calculou com sobra para que se fosse preciso, trocar de animal, caso algum se machucasse.

Os animais ficaram divididos entre quatro piquetes. A preparação para a primeira parte dos 42 quilômetros a serem percorridos durava uma hora e começava às 6h da manhã. Junto com o quebra torto. Peões a patrões se reuniam para selecionar e encilhar os animais. Aos cavaleiros, tudo era entregue pronto. À eles só cabia a responsabilidade de cavalgar.

“Essa é uma das coisas mais difíceis que tem. Porque você vai distribuir cavalos para pessoas estranhas, a gente não sabe se vai montar bem. Fazemos isso para distribuir animal manso pra criança, pra que não sabe andar, aqui são todos rurais, mas tem muita gente que vive mais na cidade”, explicava o pecuarista Luciano Leite da Barros, 53 anos.

Ele é a quarta geração da família. Nasceu no Rio de Janeiro, mas se criou ali. Personagem engraçado. Meio rude, de três palavras que saíam pela boca, cinco eram xingamentos, mas nada que ofendesse a ninguém.

Luciano de Barros, 4ª geração da família pantaneira. Personagem rude que de três palavras que diz, cinco são xingamentos. Mas tem o coração de pantaneiro. O que diz, não ofende ninguém.
Luciano de Barros, 4ª geração da família pantaneira. Personagem rude que de três palavras que diz, cinco são xingamentos. Mas tem o coração de pantaneiro. O que diz, não ofende ninguém.

“Vamos, vamos, vocês acham que estão montados onde? Na mãe de vocês?”. Era isso que ele dizia na hora de acelerar os cavaleiros. A função dele na cavalgada era de ‘culatra’.

Isso porque numa cavalgada, cada um tem sua posição. Entre 10 peões e sete patrões, eles se dividiam entre ponteiro, fiador, meeiro e culatra. Os primeiros vão à frente, ao invés da boiada, conduzem a cavalgada.

Os do meio cuidam dos galopes por ali e os do final, como o Luciano, aceleram para que a tropa não perca o ritmo e ninguém fique para trás.

Por experiência própria, não é aconselhável o cavaleiro seguir no fundo. Se não sai comendo poeira daqui até o final. O trajeto é bonito de se ver, mesmo com a cortina de pó que se forma entre um grupo e outro. Não são só os cavalos que chamam a atenção. A elegância das cavaleiras também. Muitas delas começavam e terminavam da mesma maneira. Cabelos no lugar, rostos limpos e postura que não demonstrava nem uma pontinha de cansaço se quer. Parece que nasceram mesmo pra isso.

O calor da tarde, durante a volta é de matar. Por ‘sorte’ a névoa seca deixou o sol só iluminar, os raios não estavam queimando tanto. Mas poucos se atreveram a andar com a cabeça desprotegida.

A volta do primeiro dia, o retorno do passeio até a Baía das Pedras foi a seco. A água do bar acabou e a solução foi à moda pantaneira. Guampas e cantis se enchendo e matando a sede, não só de líquido, como também do costume pantaneiro. A água que pôs fim ao calor era do brejo. A mesma onde os cavalos se refrescam.

A primeira orientação dada a repórter foi para não tomar. “Você não é acostumada e pode passar mal”. Obedeci, mesmo com resistência e a boca seca. Mas por poucos metros. Mais adiante apareceu um cantil com água geladinha, recém posta ali. Apesar da dificuldade em abri-lo, a água, seja lá da onde fosse, matou a sede. Tenho para mim que era do brejo, mas ninguém quis confirmar.

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