Aposentado, Luiz resgata ofício de família criando sandálias de couro
Aos 8 anos, o professor aposentado aprendeu com o pai a profissão que começou com o avô Vicenzo na Itália
Em São Sebastião do Paraíso (MG), Luiz Carlos Pais, de 68 anos, foi criado na sapataria do pai José Pas. Aos oito anos, ele começou a aprender o ofício, pois naquele tempo criança conhecia cedo a rotina de trabalho e com Luiz não foi diferente.
Só que ele não seguiu carreira, estudou, cursou matemática e passou a dar aulas em escolas antes de se mudar para Campo Grande e atuar na UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Há 10 anos, Luiz se aposentou e voltou a trabalhar no ofício que começou com o avô italiano Vincenzo Lizarelli.
Em casa, o professor aposentado cria sandálias de couro em versões femininas, masculinas e infanto-juvenis. A produção artesanal, segundo ele, tem viés ecológico. “Faço sandália tradicional, o coro que uso é menos tóxico curtido com substâncias vegetais de árvores. Muitas sandálias são de cor natural, porque o couro colorido é curtido com um produto tóxico. Eu valorizo a linha natural”, afirma.
Antes da aposentadoria, o artesão planejava se dedicar à confecção das sandálias que eram feitas para o filho, esposa e sobrinhas. A princípio, ele pensou em larga escala, algo a nível industrial, mas mudou de ideia.
“Eu sempre gostei e queria fazer alguma coisa, mas a princípio era fábrica, mas hoje vejo que é bobagem. Eu sou artesão, eu posso vender produtos em qualquer lugar, então é legal isso”, explica.
Nas feiras Bosque da Paz, Mixturô e Praça da Bolívia, ele vende os produtos que saem a partir de R$ 70. Além das sandálias, o público encontra bolsas de lona que é um trabalho feito em parceria com a esposa Maria Massae Sakate, de 62 anos, que também faz porta-moedas e carteiras.
O começo como sapateiro- Ainda criança, Luiz não sentia tanto entusiasmo pela sapataria, mas começou no ofício para ajudar o pai. “Naquele tempo criança trabalhava, tinha uma banca de sapatos, um ateliê, eu sentava ao lado do meu pai num banquinho e ficava ajudando, assim que se aprendia. Eu ficava olhando e fazia pequenas coisas, depois a gente passava para o meio-oficial e oficial”, diz.
Conserto, criação de sapatos, botinas, sandálias e atendimento no balcão. Luiz passou por todas as etapas e adquiriu rica experiência. No universo da sapataria foi moldado e teve formação que levou para a vida.
“Depois que fui dar aula sentia falta dessa atividade porque a sapataria é um universo de educação. Convivia com o público, conversava com as pessoas, atendia no balcão, tinha gente de todas as classes sociais. Me desenvolvi bastante nessa parte da comunicação. Eu não gostava, mas ao mesmo tempo me abriu o mundo”, relata.
A segunda formação em Matemática, ele também atribui ao pai. “Ele era um poeta, escrevia romances. A sapataria era um ateliê cultural, meu pai era um homem instruído, ele valorizava a cultura escrita, isso me influenciou muito a ser professor”, fala.
O pai é falecido, porém o professor aposentado dá continuidade a tradição da família. O conhecimento é herança, assim como a forma de sapato infantil que um dia pertenceu ao avô. Usando o instrumento de madeira, ele cria a coleção de sandálias infantis.
Quem quiser conhecer o trabalho, o contato é (67) 9.8108-7247
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