Sucata pendurada e boas vindas americanas são a alma de negócio no Centro
De noite, quem passa no lugar acha que microndas colocados no muro estão funcionando graças a ideia engenhosa de proprietário
Quem passa rápido pela Dom Aquino, perto dos trilhos, até pensa que o muro da modesta casinha verde mostra que ali compra-se sucata. Ferro de passar, leiteira, ventilador, tampa de panela de pressão e até micro-ondas estão fixados de maneira nada discreta e convencional no muro da casa.
Mas, se prestar atenção o anúncio logo ao lado das quinquilharias desmonta qualquer teoria e informa justamente ao contrário: “A Casa do Eletrodoméstico”. Ali, concerta-se tudo o que está exposto e mais. Afinal, propaganda é a alma do negócio.
O dono Helio do Nascimento, 44 anos, conta que o negócio existe há 17 anos sendo que deles sete são naquele ponto. A ideia da propaganda um tanto inusitada surgiu na verdade como um “afronte” a legislação municipal.
“Quando estava em outro endereço, precisava divulgar meu negócio. Então mandei fazer um letreiro enorme, de quase uns 3 metros. Mas, na época havia uma lei sobre poluição visual e assim que coloquei o letreiro fui notificado a retirar”, diz o proprietário, lamentando, que na época cerca de R$ 3 mil foram para o ralo junto da ideia de publicidade escandalosa.
Passados alguns anos, Helio se mudou com o negócio para o endereço atual, no “centrão” da Capital. Mas, ali até então era uma pequena e modesta casinha, então como fazer para divulgar o serviço que presta sem quebrar as regras?
A resposta é fácil e está até hoje pendurada no muro da casa. “E ainda não coube tudo o que faço”, diz Helio, em meio as gargalhadas.
Mas, a graça não está só no muro que guarda a entrada da casa. Ao subir uma pequena escada, que dá para a porta de entrada, de longe é possível ver um santinho. Porém, ao cruzar a porta até parece que uma guia turística americana o recepciona, “welcome”, diz a voz feminina da campainha por sensor de movimento.
O riso é instantâneo, afinal nunca se sabe que nacionalidade pode-se entrar ali. “Os clientes adoram e foi assim que fiz fama onde estou. Até aposto em outras maneiras de divulgação, mas nada dá tão certo quanto essa”, diz o homem, que segue o mesmo bom humor que suas ideias mirabolantes.
Outra prova disso é quando escurece. Helio conta que colocou duas pequenas lâmpadas de baixo consumo dentro dos dois micro-ondas que ficam em cima do muro da casa. A impressão de quem passa é que eles estão funcionando. Para ideia outra gargalhada, mas que com certeza não passa desapercebida.
Já por dentro, o lugar não foge muito o padrão do ramo. Peças, sucata e ferramentas ficam espalhadas aos montes. Porém, a desorganização para maioria é na verdade o organizado para quem ali trabalha.
Helio ainda faz questão de lembrar que embora o negócio tenho seus 17 anos, tudo começou na verdade em 1967, com o pai. “Ele é quem consertava tudo e eu ficava ali olhando, admirando. Mais tarde logo fiz cursos, como o de refrigeração e me vi igual a ele”, diz, sem esconder o orgulho.
A Casa do Eletrodoméstico fica na Dom Aquino, pertinho da avenida Ernesto Geisel. O negócio na teoria funciona até às 18h, porém pela demanda o expediente sempre acaba estendido. Lá, Helio jura que os precinhos são tão populares quanto a sua fachada. Ele conserta da simples panela de alumínio ao refrigerador ou máquina de lavar mais sofisticados. O orçamento na loja é de graça, mas se for necessário ir até sua casa é cobrado R$ 30, valor que é abatido na conta, caso o cliente fechar o negócio.