Usando até acabar, "roupa masculina serve de adubo", diz dona de brechó
O Lado B foi tentar saber a razão de tanta oferta para roupas femininas em brechós enquanto homens não acham quase nada
Tenho conhecimento de causa, quantas vezes já não fui testemunha de minha mãe reclamando da situação das roupas de meu pai, era quase uma obrigação ir a uma loja comprar uma calça nova. Calça, nossa, era sempre a calça.
Claro que as reclamações se estendiam às outras peças de roupa, mas a calça tinha algo especial, sabe? Eram anos com o mesmo jeans, muitos tinham que remendar o fundo. Aprendi a expressão “sirgir calça” de tanto que minha mandou fazer isso nas calças lá de casa; somos três homens.
O reflexo desse comportamento é perceptível nos brechós de Campo Grande. Gente, digam o que quiser, a oferta de roupa feminina é bem maior nos brechós do que para os homens. Para provar isso, o Lado B visitou alguns desses estabelecimentos.
Vale ressaltar o crescimento exponencial no número de brechós na Capital. É um fenômeno nacional e acontece por vários motivos; hoje em dia, por exemplo, há muitas lojas fast fashion, com uma oferta gigante de roupas novas e mais baratas, o que aumenta a rotatividade. Outra questão importante é que aprece haver uma conscientização maior no consumo para, inclusive, atenuar o efeito dessas fast fashions. E outra que comprar coisa barata é com a gente mesmo né!?
Dona Vera Lucia de Jesus, de 51 anos, é dona do “Futrica que Acha”, perto da rodoviária antiga. De cara manda, essa: “Quando homem termina de usar roupa nem o lixeiro quer, dá até pra fazer adubo”, seguida de uma gargalhada gostosa.
No brechó dela 80% são roupas para mulheres. Ela explica que é muito difícil encontrar roupa pra homens em bom estado, principalmente na forma em que ela trabalha, de comprar avulso das pessoas que vão à loja vender. “Eu mesmo, a maioria das roupas masculinas que tenho aqui é de gente que conheço, esposo, genro”.
Apesar da dificuldade, ela prefere vender para homem. “Mulher futrica, futrica e não leva nada, homem chega, nem prova direito e já leva”.
Já em outro brechó, da Viviane Rodrigues, de 22 anos, o “Vivi Feminina” encontramos uma arara solitária de roupas masculinas com umas dez peças apenas, reflexo da tentativa falha de trabalhar com vestuário para homens.
“No primeiro ano eu até tentei, mas é muito difícil por conta justamente da condição das roupas, homem usa até acabar, Por isso me desfiz de quase tudo, só ficou isso aí”, justifica.
E ainda tem brechó que desistiu de vez há anos de trabalhar com roupas pra homem. Na “Brecharia”, tradicional aqui em Campo Grande, com mais de sete anos de mercado, a dona, Bruna Fernandes, já não trabalha com roupa masculina faz tempo. “Tive muita dificuldade de encontrar bons fornecedores”. Ou seja, encontrar homem que vendesse roupas em boas condições.
Mas nem tudo está perdido rapaziada, se você for no “Beto Veste Bem”, na Afonso Pena, vai se esbaldar. Com mais de 30 anos no ramo de brechós e tendo uma das maiores lojas do ramo em Campo Grande, Gilberto Souza, de 47 anos, tem metade do brechó de roupas para homem.
“Eu consigo fazer isso porque meus fornecedores são de fora e compro em lotes. Tem roupa de São Paulo, Santa Catarina e Rio de Janeiro”.
E pessoal, lá, realmente, tem bastante opção pra homem. Tem muita venda em combo do tipo “leve 3 por 50”, isso é música para nossos ouvidos. “Aqui o que o cliente quiser levar ele leva, se quiser meia camisa, a gente corta ela no meio e pega uns cincão”, brinca Gilberto.
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