Cidade Morena é coisa do passado; apelido do futuro precisa ser "Cidade Verde"
Acho que não faz mais sentido chamarmos Campo Grande de “Cidade Morena”. Prá mim isso é coisa do passado. Essa frase remonta um tempo quando a cidade era puro barro e terra pelo ar. Tudo ficava avermelhado e daí veio esse carinhoso apelido. O atual panorama e o novo cenário urbano apontam para novos olhares. Com quase 900 mil pessoas morando e trabalhando e querendo se divertir, há novos fios sendo tecidos diariamente, que devemos atentar com certo cuidado.
A cidade está se urbanizando muito velozmente. Em muito breve teremos a cidade completa de todos os serviços e todas as infraestruturas e, com tantas áreas de lazer e recreação instaladas e sendo implantadas, deveríamos pensar em mudar o apelido de nossa cidade para “Cidade-Verde” pela quantidade de espaços de lazer e de parques que já temos. São mais de 1.000 hectares.
Se começarmos a contar as diversas praças de bairros e os parques, das Nações Indígenas, da Mata do Jacinto, do bairro Carandá, Ayrton Senna, Jaques da Luz, Horto Florestal, Itanhangá e as praças diferenciadas como a das Araras ou a do Peixe ou ainda a Orla Morena e outros ambientes, sem falar nos fundos de vale que foram implantados nos últimos 10 anos que margeiam os córregos, veremos que nosso estoque cresceu muito.
Nossa identidade urbana do século XXI está inteiramente ligada às áreas verdes novas e implantadas com estratégias de lazer e recreação ou de contemplação pura e simples, como os empreendimentos Imbirussu e Buriti-Lagoa, usando as margens dos córregos protegidos para recreação da população ao redor.
Já há algum tempo que, tomar tererê e escutar música dentro do carro nos altos da Avenida Afonso Pena, vale a pena e remete-nos, ainda que inconscientemente, a uma tradição do antigo footing que se realizava por volta de 1924 em diante, na Praça Ari Coelho, no centro da cidade. Homens e mulheres desfilavam caminhando pela praça em momentos de flertes e de paquera; o que se faz hoje na Afonso Pena aos domingos repete os tempos antigos com outros meios, mas os mesmos métodos.
Teimo em repetir o que a querida Maria da Glória Sá Rosa afirmou há décadas: somos um poliedro cultural e assim também temos um poliedro arquitetônico em nossa cidade. Não temos um estilo. Temos vários estilos. Não temos uma arquitetura, temos várias arquiteturas que se manifestam com as vontades das pessoas e de suas raízes. Ainda estamos plantando as nossas e assim, cobrar que elas tenham maior vínculo é exigir demais.
Porque cobrarmos mais modernidade se temos uma obra projetada por Oscar Niemeyer em nossa cidade? Porque querermos os exemplares mais contemporâneos do eixo Rio-São Paulo publicados em revistas se temos o conjunto arquitetônico da UFMS e do Parque dos Poderes que poucas cidades os têm? De que adianta queremos consumir uma arquitetura do século XXI se ainda temos dificuldades em cuidar de nossa cidade nos temas mais sensíveis como lixo e drenagem?
Sendo assim, nesse fim de ano de 2015, onde nossos olhares se voltam para o passado e ao mesmo tempo para o futuro, quero falar do tempo presente e dizer que ainda temos muito espaço para cuidar de nossa cidade com mais afeto pela sua trajetória histórica e com os olhos lá no horizonte, entregando todas as nossas forçar para a sua conservação.
Precisamos mudar nosso nome de Cidade Morena (afetuoso, carinhoso, mas que remonta os anos 1940) para Cidade Verde (pulsante, contemporânea, adequada ao século XXI). Nem que tenhamos de fazer um plebiscito. O que importa é pensarmos adequadamente no nosso futuro e o futuro é verde. Isso eu acredito.