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NOVEMBRO, SÁBADO  23    CAMPO GRANDE 23º

Conversa de Arquiteto

Edifício que é sede de uma Associação de Moradores pode ser premiado?

Angelo Arruda | 30/03/2016 06:56
Eu e o arquiteto César Floriano. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).
Eu e o arquiteto César Floriano. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).

Era para ser apenas um projeto simples de uma sede de uma Associação de Moradores de um bairro qualquer em Florianópolis mas eis que, agora em fevereiro, ela foi incluída entre as 15 obras mais importantes da arquitetura brasileira para representar nosso País na X Bienal Internacional de Arquitetura Ibero Americana, que vai acontecer em São Paulo no mês de julho. Estamos falando do Pavilhão Comunitário do Sertão do Córrego Grande – AMOSC.

Projetada pelo professor arquiteto e urbanista da UFSC – César Floriano em parceria com Evandro Andrade e paisagismo de Juliana Castro, esse projeto tem uma bela história para contar. O bairro Córrego Grande, localizado nos arredores do campus da Universidade Federal de Santa Catarina, é um bairro privilegiado pela sua ambiência. Tem morro, mata, córrego, nascentes, um pôr-do-sol espetacular e anos passados, o mercado imobiliário da cidade andou avançando o sinal ambiental por lá e a comunidade se reuniu e foi ao Ministério Público federal pedir providências.

Visão externa do edifício. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).
Visão externa do edifício. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).

Conversa daqui, conversa dali, processo vai, processo vem e a comunidade, enfim, teve uma solução por meio de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre as construtoras que causaram danos ambientais ao bairro e a comunidade prejudicada. Pois bem. Para fechar o TAC, uma lista grande de exigências a serem cumpridas e, no meio delas, a necessidade de erguer um prédio para a associação de moradores, em área cedida pela Prefeitura. A obra, com uns 800 a 1.000,00 m2 deveria ser projetada por um morador – que também é arquiteto e professor da universidade.

Nasce então a AMOSC e seu Pavilhão, no topo do morro, em área de grande qualidade ambiental e que, dividindo a paisagem natural com seus elementos metálicos e construtivos, renova as esperanças do projeto de uma sede para abrigar moradores de um bairro mas que, com qualidade arquitetônica inegável, supera as contradições: prédio de associação de moradores, no geral, são todos muito pobres em arquitetura e em qualidade construtiva. Esse, ao contrário, prima pela qualidade.

Chegar ao prédio é deslumbrante e se for no fim de tarde, com o sol se pondo, mais ainda. O ônibus faz o retorno de fim da linha por lá. Há uma parada em frente ao prédio. No largo paisagístico que se abre no frontal principal, fontes de água com vegetação e uma praça aberta, convidam-nos para entrar.

Área interna para eventos, festas, cursos. A porta se abre para fora e para dentro. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).
Área interna para eventos, festas, cursos. A porta se abre para fora e para dentro. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).

De acordo com os autores, no memorial que inscreveu o projeto, “o Sertão do Córrego Grande foi território de agricultura familiar até meados do século XX, sendo que na atualidade apresenta uma ocupação urbana residencial e se consolida como importante área de preservação ambiental da Ilha de Santa Catarina.

Apesar de sua fragilidade ambiental, a pressão imobiliária e o desmembramento ilegal das propriedades rurais levaram a uma ocupação irregular do solo sem previsão de área pública. A única área plana disponível na região, terreno privado e de alto valor especulativo, se configurou desde sempre como lugar de trocas sociais, de lazer e de festas, constituindo-se o “CORAÇÃO” da comunidade.”

O projeto foi concebido como “uma unidade, Praça e Pavilhão, articulam uma permeabilidade visual e de fluxos dentro do conceito “Edifício Praça”. O palco está dentro e fora em uma generosa permeabilidade de fluxos, acolhimento e revelação do acontecimento, uma arquitetura que se faz didática e democrática, um portal na entrada da comunidade que busca no domínio da escala social e da paisagem local uma afirmação do edifício público como Arte Pública” afirma César Floriano, autor do projeto.

Estrutura metálica com vedações em brises. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).
Estrutura metálica com vedações em brises. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).

Entrar no edifício me lembrou o Teatro de Havana onde o palco abre-se para dentro e para fora. Aulas de dança podem ser assistidas por quem está na praça. Muito boa proposta. Por dentro um prédio com alma metálica – estrutura e telhas, mas pensado com conforto ambiental e com a possibilidade de desenvolver várias atividades ao mesmo tempo lá dentro. Aulas diversas, cantina, quadra, local de leitura dentro e fora, espaço para ginástica, atividades laborais externas, muitas soluções programáticas.

O prédio é lindo com arquitetura adequada ao seu entorno, respeitando a paisagem e incluindo novos elementos de linguagem de um prédio comunitário.

Eu visitei esse edifício, acompanhado pelo professor César Floriano, ao seu convite e me permito dizer: não conheço, nenhuma associação de moradores no país, com a qualidade daquela do Córrego Grande em Florianópolis.

Agora, divulgados os 15 projetos executados que irão representar o Brasil, posso dizer da enorme satisfação de me ver representado por um edifício que além de deter uma história linda e original de luta comunitária também possui uma qualidade pouco vista em obras sociais Brasil afora. Resta-nos torcer para que, em São Paulo, no mês de julho, possamos aplaudir mais uma importante obra da arquitetura brasileira.

Forro de madeira curvado dá o toque para a sonoridade ideal. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).
Forro de madeira curvado dá o toque para a sonoridade ideal. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).
Uma visão externa dos fundos. Varanda para ver a paisagem natural ao redor. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).
Uma visão externa dos fundos. Varanda para ver a paisagem natural ao redor. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).
A paisagem que cerca o lugar: natureza exuberante. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).
A paisagem que cerca o lugar: natureza exuberante. (Fotos: Arquitetos Ângelo Arruda e Ângelo Mincache).

Autores:

Projeto Arquitetura: Arq. Cesar Floriano, Arq. Evandro Andrade.

Projeto Paisagístico: Arq. Cesar Floriano, Arq. Juliana Castro - Jardins e Afins- Arquitetura Paisagística.

Projetos Complementares: Eng. Fabiano L. Zermiani ,Eng. Dax M. Schweitzer. Execução de Obra: Eng. Thiago Chiarelli.

Colaboradores Estagiários de Arquitetura: Matheus Mansur, Bruna Mariano, Rafael Giaretta, Tales Rocha.

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