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Conversa de Arquiteto

Frederico Urlass, o primeiro arquiteto em Mato Grosso do Sul e o seu legado

Angelo Arruda | 13/04/2016 07:34
Urlass em foto aos 28 anos de idade.
Urlass em foto aos 28 anos de idade.

Em 4 de novembro de 1902, nascia na antiga cidade de Rothenbach, região da Saxônia, Alemanha, o arquiteto Frederico João Urlass, cujo nome original alemão era Fritz Hans Urlass e que foi, cronologicamente, o primeiro arquiteto que residiu e trabalhou em Campo Grande, Mato Grosso do Sul e em Cuiabá, Mato Grosso.

Urlass formou-se em arquitetura na cidade de Hamburgo, em 1923 e era filho do coronel e engenheiro de minas Edmund Paul Urlass e de Aline Olga Urlass e ficou órfão aos dois anos de idade, tendo sido criado pela esposa do segundo casamento de seu pai, Maria Sophia, de descendência italiana.

Em 1924 fez uma longa viagem de estudos, percorrendo vários países africanos e optou vir para o Brasil, onde desempenhou atividades profissionais em São Paulo, Porto Alegre, Miranda e Campo Grande (MS), Ribeirão Preto (SP) e Cuiabá (MT), nessa ordem. Em 1960, faleceu em Cuiabá, deixando filhos e netos.

Em Campo Grande, atuou como arquiteto e responsável técnico da empresa Thomé & Irmãos Ltda, dos construtores Joaquim e Manoel Secco Thomé, em 1933, na época a maior construtora da cidade. Nos quase dez anos que ficou em Campo Grande, deixou uma grande produção de projetos e obras executadas.

Devido a sua nacionalidade alemã, com o ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial, foi preso pelas tropas militares e aprisionado no Rio de Janeiro em 1940.

Igreja em Miranda, projeto de Urlass
Igreja em Miranda, projeto de Urlass

Arquitetura de Urlass em Campo Grande -  Frederico Urlass foi o arquiteto que mais difundiu o estilo Art Déco em Campo Grande, pois atuou na transição entre a tradição e a modernidade na arquitetura da cidade.

Seu maior mérito profissional foi o de incorporar uma linguagem moderna para a arquitetura local dos anos 30 e sintonizar a cidade com o estilo dos grandes centros do país da época.

O edifício José Abrão, atual Hotel Americano, é um deles: data de 1939 e foi edificado pelo construtor português Manoel Rosa e fiscalizado pelo engenheiro Joaquim Teodoro de Faria.

É um dos mais bonitos edifícios em estilo Art Déco de Campo Grande. De linhas arrojadas, esse edifício foi erguido com a finalidade de ser o primeiro prédio de escritórios de Campo Grande, de propriedade de José Abrão, um próspero comerciante local.

Edifício José Abrão, no Centro de Campo Grande.
Edifício José Abrão, no Centro de Campo Grande.

A linguagem arquitetônica adotada por Urlass nesse projeto foi a da verticalização de um edifício de baixa altura, recurso adotado pelo estilo Art Déco, friso nas fachadas e frisos e janelas altas.

O revestimento aplicado foi o pó de mica na cor vermelha. Já o Rio Hotel, de 1938, localizado na Rua Cândido Mariano, edificado pelos proprietários J. Batista Fernandes & Cia, foi um projeto de reforma de um dos maiores hotéis da cidade nos anos 30.

Demolido em 1993, o Rio Hotel marcou época na cidade e nesse projeto Urlass usou, mais uma vez, a técnica de verticalização da fachada frontal. Um de seus mais importantes projetos é o Colégio Dom Bosco, de 1935, situado na esquina da Av. Mato Grosso com a Rua 13 de maio, de características também Art Déco.

Colégio Dom Bosco, desenho de Urlass.
Colégio Dom Bosco, desenho de Urlass.

Sua escadaria frontal original, demolida nos anos 70 para dar acesso aos novos edifícios construídos, era uma das mais bonitas da cidade.

Contendo dois pavimentos e várias salas de aula, em forma de “U”, o Dom Bosco, até hoje, é um dos mais belos edifícios Art Déco de Campo Grande, embora bastante descaracterizado, principalmente no revestimento externo que era também em pó de mica.

O prédio da Casa de Saúde Santa Maria, de 1938, edifício localizado na Av. Afonso Pena esquina com a Rua José Antônio, foi construído por Alexandre Tognini para o médico e ex-prefeito de Campo Grande, Ary Coelho de Oliveira. Demolido nos anos 80, deu lugar ao edifício Solar do Pantanal, projeto de Rubens Gil de Camillo.

Casa de Saúde na Afonso Pena
Casa de Saúde na Afonso Pena
Residência A. Vasconcelos
Residência A. Vasconcelos

Na residência Arthur de Vasconcelos, construída na Rua Cândido Mariano em 1936, um dos mais importantes sobrados de Campo Grande nos anos 40. Foi reformado nos anos 90 e, hoje, abriga o Centro Cultural da Embratel.

Já a residência de Elisbério de Souza Barbosa, de 1934, situada na Av. Afonso Pena, próximo ao antigo cinema Alhambra, era um sobrado de linhas modernas construído pela empresa Thomé & Irmãos.

Foi um de seus projetos mais modernos, mas foi demolido para dar lugar ao Ed. Elisbério Barbosa, projetado e construído pelo engenheiro. Hélio Baís Martins, nos anos 60. Para o edifício São Thomé, de 1936, Urlass fez vários projetos para esse prédio. Localizado na Rua 14 de Julho, no meio do quarteirão, era um edifício com térreo e mais dois pavimentos-tipo com apartamentos e lojas. De propriedade dos irmãos Thomé, a obra que foi construída atende à linguagem corrente dos prédios de apartamentos dos anos 40.

Urlass projetou dois cinemas em Campo Grande e um deles foi o Cine Santa Helena (1936) que foi construído por Alexandre Tognini, como projeto de reforma elaborado por Urlass, e que transformou um edifício dos anos 20 num dos mais importantes cinemas da cidade. Ele foi o primeiro a exibir filmes com som e era muito popular. O projeto de reforma de Urlass, para o terreno de 20x50 metros, na realidade é o de um novo cinema, com 1.500 lugares, mezanino, palco e sanitários.

Como era o Cine Santa Helena.
Como era o Cine Santa Helena.
Fachada do antigo Cine Alhambra.
Fachada do antigo Cine Alhambra.

O outro foi o Cine Alhambra, no mesmo ano. Esse cinema marcou época na cidade. Em estilo Art Déco, foi construído pelos irmãos Thomé e era o mais moderno da cidade.

Com capacidade para 2.500 pessoas, a obra marcou os anos 30 e 40, pela sua beleza e imponência. Nesse projeto, Urlass usou as mesmas características do Hotel Americano, inclusive o revestimento de pó de mica na fachada e uma verticalização através de platibandas altas.

Demolido para a construção de um hotel (ainda inacabado) nos anos 80, o Cine Alhambra era o preferido da alta sociedade de Campo Grande e no auditório também eram realizados eventos teatrais e sociais.

Para a Igreja São José Urlass fez um primeiro projeto, em 1934, que não foi construído. Com planta em cruz romana e aberturas com janelas em estilo gótico e capacidade para 1.500 fiéis, chegou a ser aprovado pela Prefeitura em 1939. Outra igreja foi a dos Padres Redentoristas de Campo Grande em 1936.

Residência de Said Name, sobre a sorveteria Torino.
Residência de Said Name, sobre a sorveteria Torino.

Urlass ajudou a construir para os Padres Redendoristas Americanos um conjunto contendo uma igreja e residência na Av. Afonso Pena, próximo ao Bairro Amambaí. Em estilo românico, a igreja possui capacidade para 650 lugares, com telhado em madeira aparente trabalhado. O conjunto das residências localizado nos fundos da igreja possui dois pavimentos, com dormitórios, refeitório, sala de visita, dependências de serviço e uma capela e ocupa dois quarteirões.

Já o edifício da empresa Chacha Veículos, de 1939, uma loja que comercializava automóveis e que precisava de uma ampla garagem, localizada na Rua Dom Aquino, no fundo do Hotel Palace, sua grande característica é a utilização de uma estrutura de cobertura em arcos de madeira, com vão de mais de 20,00 metros.

As laterais possuem fechamento de esquadrias de vidro, que lembram os mercados de ferro ingleses. Um projeto residencial misto em estilo Déco foi feito para Said Name, em 1937. Esse edifício, localizado na Rua 14 de Julho, ao lado do Edifício Olinda, é um sobrado comercial com apartamentos na parte superior e lojas no andar térreo. Sua arquitetura e seu revestimento original em pó de mica azulado lembram o Cine Alhambra. Outros dois edifícios comerciais importantes, localizados na Rua 14 de Julho foram projetados por Urlass: a Casa Mansur e as Pernambucanas.

Projetada em 1937, para Akiel Mansur, a Casa Mansur era uma importante casas comercial varejista da cidade, com vão livre de 10,00 metros de alinhamento. Já as Casas Pernambucanas, foi projetada para Domingos Giordano e foi inaugurada em 1939, com linhas demarcatórias de uma fachada vertical arrojada de sua arquitetura em estilo Art Déco.

Fachada das Casas Pernambucanas
Fachada das Casas Pernambucanas
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