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Conversa de Arquiteto

Três projetos de Aquários e nenhum...a história recontada sem paixões

Ângelo Arruda | 29/12/2015 06:56
Imagem do Aquário Pantaneiro de 1997 – Projeto dos arquitetos  Ângelo Arruda, Gogliardo Maragno e Rodney Terentin.
Imagem do Aquário Pantaneiro de 1997 – Projeto dos arquitetos Ângelo Arruda, Gogliardo Maragno e Rodney Terentin.

A história do Aquário do Pantanal em Campo Grande precisa ser recontada sem paixões, sem politicagem, mas com respeito ao dinheiro público, à arquitetura e aos simbolismos que esse empreendimento representa para a cidade e o País.

Tudo começa em 1997 quando o Pedro Spindola, Diretor Executivo do Instituto de Desenvolvimento da Aqüicultura (DESAGUA/MS), procurou a mim e ao meu sócio, Gogliardo Maragno, com a ideia de projetarmos um Aquário Pantaneiro. Esse era o nome original. Nesse empreendimento ele contava com o apoio e consultoria dos professores Paulo Robson de Souza e Otávio Froehlích, biólogos da UFMS e do biólogo Vander Meiqufades Fabrício de Jesus.

Fizemos um projeto com um programa de necessidades por ele solicitado, a partir da ictiofauna pantaneira mas com uma área construída de 3 mil m2 e localizado no Parque das Nações Indígenas ao fim da Afonso Pena logo depois do Museu do Índio. Esse projeto foi encaminhado ao Ministro do Turismo, Rafael Greca em 1998 para que ele fosse construído com recursos dos eventos dos 500 anos do Brasil como obra emblemática em Mato Grosso do Sul. Nada avançou.

Imagem do Aquário Pantaneiro de 2000 – Projeto dos arquitetos  Ângelo Arruda e  Gogliardo Maragno. Projetos complementares de Mauro Cândia e Luis Spengler. Maquete de Cláudio Luquese.
Imagem do Aquário Pantaneiro de 2000 – Projeto dos arquitetos Ângelo Arruda e Gogliardo Maragno. Projetos complementares de Mauro Cândia e Luis Spengler. Maquete de Cláudio Luquese.

Em 2000, o governador Zeca do PT, tomou conhecimento do processo e orientou o seu Secretário de Meio-Ambiente, Egon Kracheche para que fizesse outro projeto, maior e em outro local, dentro do Parque das Nações Indígenas – em área localizada na esquina da Via Park com a Rua Antônio Maria Coelho. Fez um processo licitatório, participaram 4 empresas e nós vencemos a licitação, com um contrato para elaborarmos o projeto arquitetônico completo, com detalhamentos técnicos e especificações e coordenar a elaboração de todos os projetos complementares – hidrossanitário, estrutural, elétrico, paisagismo e orientar quanto ao projeto técnico dos tanques. O trabalho biológico ficaria à cargo da UFMS e a orientação técnica do Aquário à cargo do biólogo do Aquário de Santos, Paulo de Tarso Meira, que tinha acabado de projetar os cenários do Aquário do Guarujá, o melhor do país naquele ano de 2000.

Trabalhamos 11 meses, viajamos para ver Aquários no Brasil e no mundo e entregamos o projeto completo ao Governo do Estado com orçamento completo, detalhado, pronto para ser licitado. Era uma obra com preços de 2011 de uns 30 milhões de reais exceto os cenários que precisavam ser contratados à parte mas que tinham estimativa de uns 5 milhões de reais. O projeto foi gestionado pelos Secretários Delcídio do Amaral, Vander Loubet e por fim Maurício Arruda, todos da Secretaria de Obras mas sem sucesso pois as fontes e os parceiros nunca fechavam uma proposta.

O segundo projeto parou de ser prioridade no segundo mandato do Zeca do PT. Fizemos uma maquete, ela foi exposta na governadoria, deu muitas notícias mas não saiu do papel. Detalhe importante: nosso escritório, na época, recebeu todos os valores do contrato com a AGESUL. Nada nos devem.

Seu nome mudou para Aquário do Pantanal, batizado pelo governo do Estado com pompas e galhardia. Ficamos felizes, eu e meu sócio Gogliardo Maragno pois se construído, o prédio seria uma importante obra de arquitetura para nossa cidade, com uma linguagem arquitetônica contemporânea, conforme a foto da maquete abaixo.

Outro ângulo do projeto de 2000.
Outro ângulo do projeto de 2000.

Anos depois, no governo de André Puccinelli, recebi um convite para apresentar esse projeto na Secretaria de Obras ao governo. Fiz uma apresentação do projeto arquitetônico, mostrando que estava tudo pronto, detalhado e orçado e que apenas deveria ser contratado o Paulo de Tarso para o projeto dos cenários dos tanques.

Esse projeto, concebido pelo nosso escritório, teve um programa de necessidades definido pelo Governo do Estado no Termo de Referência do Contrato e nele havia a necessidade de que o edifício fosse um Centro de Pesquisa e de Visitação com possibilidades de fazer convênios internacionais com países pesqueiros. Eram 100 tanques de peixes – contra 40 do projeto anterior – auditório, tanque para crianças, espaço para lazer e venda de souvenirs e tanques para grandes, pequenos e médios peixes do Pantanal e várias espécies de outros países e lugares do Brasil. Até espaço para jacarés foi solicitado e projetamos.

Era um edifício que tinha 3 blocos unidos por uma cúpula circular em aço e vidro, com uma rampa para acesso aos tanques e um Laboratório de Ictiofauna inclusive com alojamentos para pesquisadores. Ele iria ocupar um terreno em aclive, dentro do Parque das Nações Indígenas e fizemos um projeto usando o potencial do terreno natural. O acesso se daria pela Rua Antônio Maria Coelho, com espaços para todos os visitantes inclusive ônibus de turismo.

Imagem do Aquário do Pantanal de 2010 – Projeto do arquiteto Ruy Ohtake.
Imagem do Aquário do Pantanal de 2010 – Projeto do arquiteto Ruy Ohtake.

Esse projeto ficou engavetado e quando era para sair do papel e virar obra foi preterido pelo nome nacional do colega Ruy Othake, contratado para fazer o projeto do terceiro Aquário, esse polêmico edifício que não sai das páginas policiais e já não encanta ao povo, pela triste história que ele carrega: foi projetado para custar uns 80 milhões e já se gastou mais de 200 milhões e tem uns 20 para queimar. A obra está parada há mais de ano e suas caras estruturas se desgastando no tempo. Uma pena. Dinheiro público torrado na fogueira. Se a obra não ficar pronta, ela não serve prá nada.

O edifício muda de posição dentro do Parque das Nações Indígenas e agora deveria ser mais visto pelo povo. A sua implantação, altera a configuração do parque, toma de assalto a paisagem da avenida e do parque e se impõe como uma obra cuja linguagem e estilo destoa do entorno imediato e sensível da área.

Projeto do arquiteto Ruy Ohtake. Edificio desconexo da paisagem.
Projeto do arquiteto Ruy Ohtake. Edificio desconexo da paisagem.

Assim, temos três aquários e não temos nenhum. O que está para ser concluído depende de inquéritos, investigações, aditivos e muita obra e muitos milhões. Poderíamos estar comemorando uma obra importante para a cidade e para o país mas, infelizmente, a arquitetura não dá conta de resolver todos os problemas, especialmente aqueles que não se vê.

O Aquário prá mim, é uma obra necessária e importante para qualquer cidade do mundo mas ele deve ser um edifício que o povo tenha orgulho de tê-lo e não um edifício que, quando lembrado, cause arrepios, calafrios e comentários pouco gentis. Isso não é arquitetura. Feliz Ano Novo aos amigos e leitores.

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