Ao lado de pai boiadeiro, amigas pedalam 200 km no Pantanal
Seis amigas apaixonadas por ciclismo encararam uma aventura pelo Pantanal no último fim de semana. Foram mais de 200 quilômetros percorridos, contato direto com natureza e muitas histórias que se entrelaçam na comitiva criada por elas.
Bem equipadas e cheias de vontade, percorreram as estradas as professora Denise Silva, de 37 anos e Telma Filgueiras, 40, a fisioterapeuta Nayara Aguilar, 41, Telly Mara Cabral, 47, a empresária Maria Alves, 38 e a professora Anna Paula Capitel Camargo, 40. A viagem contou com a companhia do pai de Denise, o boiadeiro e o fotógrafo Gabriel Gabino, que registrou com fotos e vídeos, as alegrias e desafios da aventura.
“Meu pai é boiadeiro, cresci andando por essas estradas e foi com o caminhão que ele nos criou. E eu tinha uma promessa que um dia desceria o Pantanal com ele, mas a correria da vida não permitiu, ele também já não faz mais viagens muito longas. Eu também queria que minha filha e sobrinho conhecessem um pouco dessa história, conhecessem o Pantanal que está sendo destruído pelo desmatamento e agora pelo fogo. Minha irmã embarcou na missão, fazendo o apoio e cuidando das crianças. Além da minha filha e do meu sobrinho, levamos os filhos da Maria e da Telma”, narra Denise sobre o início da aventura.
As meninas que foram com Denise são amigas muito próximas e também possuem uma relação com o Pantanal. A Maria e a Ana Paula, por exemplo, são de outro estado e tinham o desejo de conhecer a região. A Telma, A Telly e a Nayara estiveram por lá em algum momento da vida e guardam memórias afetivas com o lugar.
“Todas nós pedalamos, Ana, Telma e Telly são atletas de elite do MTB de MS. Por conta da pandemia as competições foram suspensas e para manter o ritmo de pedal entramos em desafios virtuais de pedal e é aí que começa essa aventura”, conta.
Denise e Telma formam uma dupla, que depois virou uma equipe com “As Doidas dos kms”. “Entramos em desafios com quilômetros altos, como pedalar 200 km num dia, pedalar 1.800 km no mês e pedalar 5000 no mês em equipe. Chamamos o pedal de biketerapia. Passamos horas na bike e isso exige autoconhecimento, autocontrole, disciplina”, descreve Denise.
Até que em setembro, pensando em várias rotas para cumprir o desafio de pedalar 200 quilômetros, Denise falou para Telma do desejo de pedalar no Pantanal. “Ela topou na hora, falamos com as meninas e descobrimos que esse era um desejo de todas”.
Elas sabiam que seria impossível percorrer a distância num só dia por conta da estrada. “E para fazer em dois dias precisaríamos de uma estrutura mínima, pois nessa estrada que fomos não tem hotel, bar ou qualquer tipo de apoio.”
Foi aí que o pai boiadeiro de Denise entrou na jogada. No começo ele achou a ideia meio maluca e quando viu que as meninas queriam muito o desafio, logo ele se responsabilizou pela rota, pela comida e por tudo. “A princípio pensamos numa expedição, mas depois acabou virando uma comitiva, por que fizemos comida na estrada e também paramos para pernoitar. Conseguimos uma fazenda para dormir, mas ela ficava a 130 quilômetros do nosso ponto de saída e caso a gente não conseguisse chegar lá, dormiríamos na estrada mesmo”.
“Eu fiquei muito grato de poder ajudar essas meninas. Eu conheço o Pantanal e pra mim é o caminho da roça, mas é um caminho muito quente, com areia, fumaça, ar seco. Então eu só podia estar feliz em ajudá-las, porque quando comecei eu não conhecia nada, e acho que o que elas passaram foi o mesmo que passei quando iniciei no Pantanal”, comenta Agnomar Ramos da Silva, 57 anos, conhecido como Dino Boiadeiro.
Tendo em vista o tamanho do desafio, as amigas resolveram documentar tudo com fotos e vídeos. Quem topou fazer o registro foi o fotógrafo Gabriel Gabino, que acabou ajudando no apoio. “Estou acostumado a acompanhar aventureiros entre caminhadas, rallys, navegações entre outras travessias. Mas acompanhar essas mulheres me encheu de inspirações”, diz.
Assim, no sábado, 26 de setembro, as meninas saíram de Miranda com o desafio de entrar no trevo do entroncamento Guaicurus, passar pela Serra da Bodoquena, Pantanal do Nabileque e dormir próximo ao trevo do Carandazal. “Confesso que chorei quando chegamos na fazenda onde passaríamos a noite, por que não foi um percurso fácil, exigiu muito de nós, inclusive do emocional”, diz Denise.
O fato de contar com o apoio do pai facilitou o desafio, por que ele conhecia o trajeto, fez a compra de tudo que precisavam, levou as malas, colchões. “E a presença dele nos deu segurança, por que as poucas pessoas que encontramos na estrada nos olharam com muito estranhamento, uma senhora nos perguntou o que um grupo de mulheres estava fazendo sozinho no Pantanal, um homem que passou de trator falou para ter cuidado com a onça”, lembra.
Como conseguiram chegar até a fazenda que ofereceu hospedagem não foi preciso fazer acampamento, elas dormiram na casa de hóspede fazenda, podendo desfrutar de banho de chuveiro, cama, ar condicionado e internet.
“Tem um ditado que diz que viver é como andar de bicicleta e eu diria que a bike é realmente uma metáfora da vida e essa comitiva nos provou isso em vários momentos: a importância do planejamento, do respeito às diferenças, dos desejos individuais e coletivos, de conciliar os diferentes papéis: mãe, profissional e atleta. Entendemos também que apoio é sempre muito importante e, para dar apoio, você precisa ter muita empatia e respeito pelo outro”.
No domingo, por exemplo, Denise conta que ventava muito e, para melhorar o desempenho, elas organizaram um pelotão para “quebrar o vento”, fazendo o revezamento para ocupar a frente e puxar o grupo. “Assim sentimos que com oportunidade, apoio, disciplina e determinação você pode atingir objetivos considerados impossíveis”.
O planejamento era voltar pedalando até Miranda, mas quando chegaram no Buraco das Piranhas, na entrada da estrada parque, optaram por encerrar o desafio. “Havia muitos focos de incêndio e inclusive tinha acabado de acontecer um acidente por conta da fumaça. Já tínhamos pedalado 200 km e ainda faltavam 100 até Miranda. Considerando o calor, a fumaça e os riscos de pegar a estrada nesse contexto, meu pai nos orientou a parar por ali. Mas pedalar no Pantanal com meu pai, minha irmã, filha, sobrinho e amigas foi uma experiência incrível”, finaliza.
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