Bailes de Campo Grande ainda lotam, mas quem sustenta é a terceira idade
Foi-se o tempo em que os bailes realizados em Campo Grande eram verdadeiros eventos. Eles ainda existem, é verdade, mas sobrevivem graças ao público da terceira idade. Para ter certeza, é só olhar a pista de dança e conversar com os responsáveis pelos clubes da cidade.
O presidente do União dos Sargentos, Hamilton Pinheiro, de 58 anos, confirma a “baixa” dos mais jovens, mas, em contrapartida, comemora a presença dos mais velhos. São eles que sustentam a noitada.
“É predominante. Os mais jovens, aqueles com seus trinta e poucos anos, são poucos”, comenta. Hamilton realiza dois bailes por semana no local. Tem o “Encontro”, todas as terças, das 14h às 18h, e as Serestas-Bailes, nas quartas, das 21h à 1h da manhã.
O primeiro reúne uma média de 150 pessoas, já o segundo atrai, por edição, de 300 a 400, diz. O número, para ele, é um retorno e tanto, mas, para alcançar essa marca o presidente precisou fazer readequações.
Para o Baile-Seresta, por exemplo, abriu espaço para cinco seresteiros se apresentaram. Antes, lembra, era diferente. As atrações eram decididas praticamente em cima da hora, sem exigência de uma “cota mínima” de shows por noite. A “reformulação”, como gosta de dizer, cativou o público e fez de muitos frequentadores, idosos, clientes fiéis.
Proprietário do Bom D+, Allan Antunes, de 30 anos, sabe bem o público que tem e, por isso, anda atento, assim como Hamilton. “A gente chama as bandas que eles gostam e cobram. Eles gostam de bingo e a gente faz às vezes”, afirma.
No clube dele, os senhores e as senhoras que gostam de se divertir dançado também “comandam” o espaço. “A grande procura é da terceira idade mesmo. Eles que sustentam. Na hora que pararem de frequentar a tendência é acabar”.
Mas isso é só um suposição, já que os bailes, no Bom D+, se arrastam há 13 anos. É por isso e por acreditar que Campo Grande nunca vai deixar de ter os “arrasta-pé” que o funcionário público Amarildo Pereira, de 48 anos, pensa diferente.
“O baile, por aqui, é tradição. Acho difícil acabar. Vai estar sempre lotado. E hoje em dia está mais forte. Na nossa região é difícil sumir”, opina.
Tradição é tradição, mas não custa nada evitar a falência. De olho no mercado e nas transformações que deixaram os salões cada vez mais vazios ao longo dos anos, alguns tentam inovar.
Na Bolero Casa de Dança, por exemplo, o auxiliar administrativo Rodrigo Vilalva dos Santos, de 32 anos, conta que a direção resolveu misturar os estilos no sábado, quando o baile acontece das 22h às 2h.
“O repertório é mais diversificado. Entra o sertanejo o sertanejo universitário. Isso quebra um pouco”. A noite, neste dia, é “mesclada”, porque reúne os baileiros “das antigas”, mas também atrai os mais jovens.
O domingo, no entanto, é tradicional e quem sustenta é, de fato, a terceira idade, repete. “Aí a gente toca o arroz com feijão de sempre, o chamamé e o vanerão”.