Com misto de doces, até São Cosme e Damião vai ter máscara no terreiro
Celebração católica pode até ter sido ontem, mas entrega drive-thru de docinhos ficou a cargo dos umbandistas neste domingo santo
Hoje é dia dos santos Cosme e Damião. Não para a Igreja Católica, mas para os terreiros de matriz africana. Aqui na Capital, a entrega dos docinhos pode ser encontrada na Tenda de Umbanda “Fé Amor e Caridade”. A inspiração de lá é a alegria das crianças, que são consideradas espíritos de pureza pela religião. E o que falar das guloseimas? Desperta a cura mística por meio do açucarado. Paz no coração, glicose no sangue, e muito sorriso gostoso por trás da máscara.
Justamente por causa da pandemia, a entrega das oferendas teve que ser no esquema drive-thru.
O que já foi muita festança, neste ano será apenas uma celebração. Mas nunca que deixaríamos de comemorar, dividir felicidade com as pessoas. A comunidade doou muitos doces, e tudo já foi benzido e sortido nos saquinhos coloridos”, diz a mãe de santo Carla, conhecida também como a ialorixá Bori de Calé.
“Os erês, como chamamos, são essas entidades infantis. Eles se manifestam nas brincadeiras, trazendo essa energia pura, mais natural. Por exemplo, eu incorporo a Julinha, e ela é louca por glacê de bolo. Vai debaixo da mesa, arrasta o dedo em cima da sobremesa, põe logo na boca. É o modo dela demonstrar o bem”, elucida mãe Carla.
E por que celebrar São Cosme e São Damião? São muitas as histórias sobre os irmãos gêmeos nascidos na cidade grega de Egeia, 260 anos depois de Cristo. A tradição que a ialorixá campo-grandense costuma contar é que, ainda crianças, os dois meninos possuíam dons divinos de cura e benção vindo dos pais, o casal de orixás Xangô e Iansã – deuses da justiça e da direção, respectivamente.
Tanto umbanda quanto para o candomblé, os irmãos também são considerados orixás, intitulados de Ibejis. A oferta dos doces é para agradá-los, mas também aquecer o coração – uma forma de adoçar a vida – de bênção e carinho para muitos outros, sejam lá pequenos ou adultos. E por mais que neste ano não vai ter criança correndo de um lado pro outro, as oferendas açucaradas estão mais que garantidas.
No dia de hoje, vai ter balas, pirulitos, pipoquinha doce, suspiro seco, goma cristalizada, refrigerante caçulinha, bananada, maria mole, pedaço de bolo… e a lista continua. O atendimento vai das 15h às 17h na frente do terreiro, com interdição de meia pista autorizada pela Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito).
E o que a vizinhança acha disso? “Parece que o bairro emana uma energia espiritual diferente. Temos centros, igreja católica, grupos evangélicos, tudo perto um do outro, sem o menor problema. Inclusive, nosso terreiro teve foi abençoada com missa cristã do padre Jair antes de iniciarmos os trabalhos, isso lá no ano de 1978. Por aqui, fé e respeito são uma coisa só”, esclarece.
Pai Mundinho – Ainda não completou nem um mês da morte do babalorixá Marcílio Cordeiro de Barros, fundador da Tenda de Umbanda “Fé Amor e Caridade”, mas a verdade é que ele “nunca saiu” de lá. Festeiro assumido, a simples celebração de Cosme e Damião sempre terminava em festança.
“O lugar dele na casa é insubstituível, por isso jamais iremos parar com a tradição que era a cara dele. Faz bem pra nós, pro Pai Mundinho, pro ser humano”, reflete mãe Carla.
Receba o seu – As entregas dos doces acontecerão na tarde de hoje, pelo endereço na rua dos Tupinambás, 163, no bairro Santo Antonio. É só chegar de carro que você já vai poder avistar a organização na quadra. Todos estarão usando máscara e luvas para dividir de modo seguro a benção das oferendas.
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