Cultura, religião e críticas à corrupção marcam desfile das escolas de samba
Pequenos imprevistos ocorreram, como problemas com alegoria do Acadêmicos do Pantanal
Religião, cultura, flora e fauna pantaneiras, críticas à corrupção e homenagem à tradição carnavalesca estiveram presentes na passarela do samba durante os desfiles das cinco escolas de Corumbá que se apresentaram na noite deste domingo: Unidos da Major Gama, Mocidade Nova Corumbá, A Pesada, Acadêmicos do Pantanal e Caprichosos de Corumbá
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos da Major Gama foi a primeira agremiação de Corumbá a entrar na passarela do samba. Com o enredo “Nossa rua hoje tem rei e ganha a avenida: saudemos Tanabi, a cultura é sua vida”, a Major Gama homenageou José Antônio Garcia, o “Tanabi”, atual presidente do Conselho Municipal de Cultura e ex-presidente da Liesco (Liga das Escolas de Samba).
Toda apresentação da Major Gama foi marcada por forte componente religioso – o próprio homenageado tem raízes religiosas. Na juventude, Tanabi foi seminarista no interior de São Paulo. Além de religião, outro aspecto que sobressaiu na escola foi o destaque à cultura regional.
No carro abre-alas, os destaques foram as alegorias de São Francisco de Assis, santo de devoção de Tanabi, e da pomba branca, símbolo da escola.
As roupas do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Kléber Kosta e Karine Cavassa, foram confeccionas em tons marrons em alusão às cerâmicas da pintura kadiweu.
Na ala das baianas, imagem de Nossa Senhora do Pantanal trouxe elementos que faziam referência a fauna e flora do Pantanal. Festividades de São João também foram representadas pelas baianas.
Na sequência, a Mocidade Independente da Nova Corumbá trouxe à passarela do samba o enredo “Optchá, Sob um céu de estrelas, a sorte da Mocidade”. A escola entrou ao som de fogos de artifício, prestando homenagem aos ciganos. O fogo foi marcante na apresentação de danças ciganas na abertura do desfile. Também na abertura da escola, casais cantaram o refrão do samba-enredo: “A caravana da alegria chegou”.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Edelton e Valessa, lembraram duas figuras importantes na história dos ciganos: Santa Sara e Maximino. Durante a apresentação, marcada por danças ciganas, houve um momento de tensão: Valessa tropeçou na fantasia e foi amparada pelo parceiro.
O figurino das bainas teve inspiração na bola de cristal, objeto que faz alusão aos ciganos. O Povo Cigano da Umbanda foi representado em uma das 15 alas que passaram pela avenida. Com roupas típicas, mostrou trajes usados em festas e cerimônias de rotina em terreiros e casas de religiões de matrizes africanas, numa homenagem à atividade destas religiões em Corumbá.
A Pesada, terceira escola a se apresentar, prestou homenagem aos salesianos. O enredo “Cidade Dom Bosco, o Reino do Amor” abordou as ações da Congregação Salesiana em Corumbá.
A comissão de frente representou a presença salesiana em Corumbá e, durante a coreografia, os doze integrantes formaram a letra “S”, marca da designação religiosa.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Robson e Francielly, apresentou trajes nas cores vermelha, azul e dourado simbolizando o “sistema preventivo de Dom Bosco” que, aliás, também veio representado em uma das alegorias.
Na ala das baianas, a santa padroeira dos salesianos, Nossa Senhora Auxiliadora fortaleceu a apresentação das senhoras durante o desfile. A fantasia nas cores azul, rosa, com acabamentos na cor dourada trazia ainda a imagem da santa.
A escola de samba Acadêmicos do Pantanal, a penúltima a se apresentar, passou por um imprevisto: a alegoria do tuiuiú, ave símbolo da agremiação, que estava no carro abre-alas, perdeu literalmente a cabeça. Também no carro, havia uma coroa, em homenagem a Império do Morro, primeira escola de Corumbá e que completa 60 anos em 2018.
Na comissão de frente, o casal fundador da Império do Morro, Dona Venância, popular porta-bandeira, e Chaana, carpinteiro, ambos já falecidos, foram representados por seis casais que evoluíram no ritmo do samba. Em frente à torre de jurados, a fantasia das integrantes, um vestido branco, se transformou num longo traje verde digno da mulher que tem a honra de conduzir o pavilhão da escola pela avenida.
O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, Márcio do Nascimento e Lúcia Baruki, fizeram mais uma referência ao amor do casal fundador da escola homenageada, lembrando os antigos bailes de máscaras onde as paixões surgiam em meio ao mistério da face escondida pelo adereço no rosto.
Para a ala das baianas, reservou-se o enredo quando a Verde e Rosa cantou o lema da Revolução Francesa: igualdade, liberdade e fraternidade, sendo assim, as componentes apresentaram fantasia em tons azul, branco e vermelho, cores da bandeira da França.
Sob fina garoa durante a madrugada, a Caprichosos de Corumbá fechou o primeiro dia de desfile com críticas à corrupção que assola o país. O recado foi dado com o enredo: “Debochar e libertar: A Caprichosos manda para os Quintos a ambição de quem não trabalha ou inventa o povo não sustenta”.
A passagem da Caprichosos pela passarela do samba começou com a Corte Portuguesa representada na coreografia de Anderson Nunes que contou ainda com um elemento cênico representando o trono real de Portugal ocupado pela Maria Louca.
No carro abre-alas “Terra à Vista”, a riqueza da fauna e flora, além dos habitantes originais, os indígenas, dividiram espaço com uma grande alegoria da onça-pintada. Antes dele, porém, a primeira ala que simbolizou toda a inocência dos índios.
Na sequência, vieram alas que representaram a diversidade da fauna brasileira, principalmente, a de aves com araras e tucanos.
(Com informações do Diário Corumbaense)