Deluxe, tradicional festa LGBT, faz retorno em local inusitado e público aprova
A balada eletrônica tem 13 anos e já passou por vários lugares até chegar na casa de shows conhecida por bailes funk e sertanejo
Em 2004, surgia na noite campo-grandense a festa LGBT Deluxe. Embalada à música eletrônica, a balada começou no extinto e pioneiro clube Garage, um marco da vida noturna da Capital, e depois ganhou vida própria em diferentes espaços da cidade, como as também já fechadas Neo e Feat Club, além de edições em chácaras e no Cafofo.
Este ano, em comemoração aos 13 anos, a Deluxe fez seu retorno, na noite deste sábado (29), mas num lugar muito inusitado: a casa noturna Jeremias, conhecida pelos shows de funk, pagode e sertanejo, com público de maioria heterossexual.
"Foi uma exigência da atração [a cantora Lorena Simpson] que houvesse uma estrutura com palco daquele porte. É o único lugar que comporta isso, conversamos e deu certo", explica o organizador do evento, Rodrigo Lochetti.
O Jeremias, que fica na Rua Brilhante, já deu sinais de que vai começar a trabalhar com o público LGBT. Para o fim de agosto, está marcado lá o show da cantora e drag queen Pabllo Vittar. "Nós queremos ser um espaço aberto a todos os públicos", enfatiza o proprietário Paulo Mello.
O Lado B foi até a Deluxe no Jeremias e encontrou o público satisfeito. A maioria entrava na casa noturna pela primeira vez. "Achei o lugar bem gostoso, não conhecia ainda, é espaçoso", afirmou o gerente de logística Maiko Oriozola, de 34 anos. "Fui na primeira Deluxe quando ainda era no Garage. Sempre gostei da música, da festa no geral", completou.
Apesar da aprovação dos frequentadores, a boate não encheu completamente. Ao contrário das outras noites de festa no Jeremias, a aglomeração de carros e pessoas em frente ao lugar era tímida. Lá dentro, a pista principal, em frente ao palco, estava cheia e muito animada, mas grande parte do salão permaneceu vazio. Para quem foi para curtir a festa, acabou sendo mais um ponto positivo. "Não está abafado, está até muito fresco lá dentro", disse Daiane Tibana, de 31 anos. Ela já é frequentadora Jeremias, gosta de sertanejo, e adorou a ideia da Deluxe acontecer ali também.
Entre a maioria do público LGBT, tinha um ou outro desavisado, que parecia não entender o que estava acontecendo. Um deles não quis se identificar, mas foi à casa achando que seria mais um dia de sertanejo ou funk. Heterossexual, levou um "susto" com o estilo da festa, mas decidiu ficar. "Eu já tô bêbado e a música é boa", resumiu.
Por volta das 2h, sem atrasos, a cantora de música eletrônica Lorena Simpson subiu ao palco. De Manaus e aos 30 anos de idade, ela é uma referência das baladas LGBT no Brasil e foi recebida com muitos gritos, palmas e animação. "Vamos se jogar", pedia a todo momento, cantando e executando passos de dança dignos de uma diva pop internacional. A cada abaixada e jogada de cabelo, a resposta do público era imediata.
Ali pertinho do palco estava a doméstica Odia Aparecida, de 41 anos. Ela era claramente a mais feliz e excitada em ver Lorena de perto. "Eu sou muito fã, ela é maravilhosa, a conhecia há 5 anos em outra boate daqui. É meu terceiro show dela", explicou rapidamente, voltando logo pra grade, de onde gritava elogios à cantora.
Em certo momento, Lorena chamou algumas pessoas da plateia para dançar junto no palco. Foi quando começou mesmo o bate cabelo. Uma das convidadas, Bruna, de cabelo azul, levou o público ao delírio com os movimentos rápidos da cabeça. A própria Lorena correu, pegou o celular e filmou o bate cabelo da campo-grandense. "É assim que quero ver todo mundo agora, na plateia também", cobrou.
Lorena cantou algumas de suas músicas, sucessos que ficam restritos ao universo das baladas, como "Hey Hey", e fez covers de canções das divas pop, como "Perfect Illusion", da Lady Gaga. Após o show, a festa ainda recebeu o DJ Hugo Warllen, de Brasília.
O convite da festa, pra pista, começou a ser vendido por R$ 30,00 e, às 2h30, ainda estava a R$ 40,00. No bar, as bebidas tinham valores razoáveis, como cerveja por R$ 5,00 e dose de vodka por R$ 10,00.
Quem já conhecia a Deluxe na roupagem antiga acabou gostando do que encontrou. "É quarta vez que venho na Deluxe. O lugar é espaçoso, tem bastante pessoas. Não é como uma The Week, mas estou gostando", avaliou o estudante de Medicina Marcelo Schmidt, 22 anos.
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