Em balada gay, maior dificuldade é administrar o público hétero sem noção
Os casos de assédio são alguns dos problemas, principalmente, contra as lésbicas
Que balada gay é pura alegria, isso quem frequenta não tem dúvidas. São espaços para o público LGBT ficar a vontade e cair na pista de dança sem medo de repressão. Mas ainda assim o que não falta é hétero sem noção de limites dentro dessas festas.
Quem trabalha nesse tipo de balada percebe que as maiores vítimas são as lésbicas. Tem gente que faz plantão com o pensamento machista de que elas só gostam de mulher por falta de homem interessado. Alguns olham as meninas como uma "fantasia" e daí elas sofrem com puxões pelo braço na tentativa de aproximação, mesmo quando a resposta para o assédio é não.
Deko Giordan, de 32 anos, que é sócio proprietário do SIS Lounge, é categórico ao afirmar que o maior desafio é administrar o público hétero nas casas LGBT. "Esse pensamento machista de que duas mulheres querem um homem no meio da relação tem que acabar. Eles olham as mulheres e erotizam. Essa é a dificuldade que a gente enfrenta", descreve.
E ainda tem homem que tenta justificar o assédio. "É uma coisa que acontece muito, mas ninguém fala. Tanto, que se elas reclamam, eles vêm com aquelas desculpas dizendo que foi a menina que pediu, ou por conta da roupa que ela estava usando e dançando. Mas nada justifica atitudes como essa. Aqui as mulheres vêm para se sentir bem", declara Deko.
Helen Daniela Sales é lésbica e já perdeu as contas de quantas vezes presenciou o assédio. "Já vi em lugares que o hétero se sente ofendido e ameaçado porque alguém deu em cima dele. Já vi caso de hétero agredir um gay porque deu em cima ou segurar a mulher pelo braço e depois xingar ela de vagabunda. E o mais absurdo é que acontece em lugares para o público gay", lamenta.
O dono do SIS lembra que o lugar está aberto a qualquer pessoa, independente da orientação sexual. No entanto, o respeito é obrigatório. "Aqui todo mundo tem que ser bem tratado. Mas quando alguém hétero vem para uma casa LGBT, é preciso entender que o foco não é nele", pontua.
Sobre os meninos, Deko avisa que é um lugar favorável à paquera, como qualquer outra balada. Então, quem frequenta deve estar preparado para ser cantado e tem toda a liberdade de dizer um não bem educado. "O hétero tem que entender que de repente, ele vai ser cantado, mas basta dizer não, que vai ser respeitado", garante.
Mesmo assim, ele se diz agradecido pela parcela que frequenta a casa só por diversão. "A gente até brinca que recebe muito 'hétero do bem', que chega aqui e faz a festa. E que quando é cantado sabe apenas dizer que não é gay e até agradece pelo elogio. Acho que é algo simples e que não precisa se tornar um problema. Se cada um respeitar, todo mundo se diverte", ressalta.
Em outra balada, a Non Stop, o proprietário Rodrigo Gel, de 34 anos, diz que o número de assédio é menor porque a maioria é homem na balada. No entanto, afirma que o receio diante do preconceito faz com o que a casa tome todos os cuidados.
"Recebo bastante hétero, porque a casa abrange vários públicos. Mas se acontecer alguma coisa, os seguranças estão sempre atentos a isso e sempre informados como devem proceder nesses casos. Acho que hétero tem que entrar sabendo que o público é gay e ele não está na casa dele, muito menos partir para uma agressão. Aqui é diversão e a gente levanta a bandeira", diz.
No Sis, Deko também procurou alternativas na busca de 'educar' os clientes. "Logo na entrada, em dias de eventos, a gente tem todas as orientações da casa. É intolerável assédio, violência e falta de respeito. Aqui é um lugar para o LGBT ser quem ele quiser e caso alguém desrespeite as regras, é retirado da casa na hora", adverte.